Intervenção dentro da obra da artista Grada Quilomba esclarece “O que é um rio?”

Falta pouco para o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, ser tomado por uma apresentação cheia de ancestralidade, musicalidade e muitas histórias. Neste domingo (26), às 14h, o renomado espaço recebe pela primeira vez a presença do griot africano Pape Babou Seck, para uma intervenção dentro da obra ‘The Boat’ da artista Grada Kilomba. Uma performance rítmica através de diversos instrumentos a fim de esclarecer: “O que é um rio?”.

Tendo as vivências do senegalês da região de Saloum como pano de fundo, a ideia do projeto, lapidado pela gerência de educação do museu, é mostrar tamanha força neste processo artístico. “Este trabalho, chamado ‘Ser Griot, Ser Rio’, entrelaça a sabedoria das vozes ancestrais dos mestres griôs com a fluidez da água. O intuito é abordar as tradições orais africanas e suas pedagogias tendo um rio como entidade e grande conselheiro”, ressalta o gerente João Paulo Andrade.

Há seis anos no Brasil, Pape circula por lonas, arenas e bibliotecas da cidade do Rio de Janeiro através de alguns editais e programas. “É ele que molda com seus braços d’água as paisagens da terra natal, as almas dos guerreiros Lebou e até o couro dos Tama; tambores que dão corpo ao instrumental griot. Assim como as correntes do rio, os ritmos desses instrumentos mostram que a ancestralidade não é algo que está no passado, mas que evoca um tempo duradouro, resiliente, imenso, persistente e ainda presente”, destaca João sobre essa imersão.

Foto: Divulgação

Convidado pelo gerente de educação do instituto, João Paulo Andrade, Pape é descendente de uma família tradicional da casta de griots – de músicos e contadores que têm vocação a preservar e transmitir o patrimônio oral do povo senegalês – como hábitos, conhecimentos, canções e música. Com mais de 30 anos de experiência como treinador cultural no que tange a arte africana, já viajou por diversos países, iniciando em 2022 com o edital FOCA (RJ), uma turma com “Experiência Griot”, a qual forma o espetáculo-oficina.

Segundo Cátia Costa, os griots são instituições físicas como grandes bibliotecas ambulantes pelo mundo. “Esses artistas estão no continente africano, mas muitas também seguem espalhadas pelo mundo, tendo que sair dos países de origem para levar as próprias culturas a outras regiões. Estamos falando de famílias. O primeiro dado da instituição griot é o DNA enquanto tecnologia ancestral. Como diz Pape, são castas sociais, que passam de geração para geração”, revela a produtora.

Com a proposta de aprender e ensinar música a partir das palavras dos tambores, o público-alvo do projeto é livre. “O tambor fala, dialoga, conversa e comunica. E a gente espera fazer uma interlocução entre tudo isso. O museu de Inhotim é de artes visuais, a céu aberto, ligado ao meio ambiente e a natureza em si. O entendimento de um griot enquanto pertencente ao espaço onde está, dialogando com toda essa cultura é provocador”, salienta o gerente João.

De acordo com Cátia, embora Pape comece o espetáculo falando no dialeto do Senegal, ele tem estudado a língua portuguesa para se aproximar ainda mais dos participantes. “Essa interlocução entre a fala, palavra, o tambor, o corpo e as artes cênicas dialogando com as artes visuais é fundamental para as pessoas que circularão pelo espaço conhecendo mais sobre a cultura africana. Isso é transformador. Na apresentação, será possível conferir obras de Grada a Adonias do Nascimento”, concluiu.

PROGRAMAÇÃO – 26/05: 

11h – Canoeiro se presenteia com remos / Davi Jesus do Nascimento (MG) e Davi Nascimento (BA)

Local: Tamboril  
Classificação indicativa livre

14h – “Ser Griot, Ser Rio” com Pape Babou Seck (Senegal)

Local: Galeria Galpão 
Classificação indicativa livre

16h – Femme Frame Rio, com Ava Rocha (RJ)

Local: Magic Square

Show aberto ao público

Classificação indicativa livre