ENTREVISTA: conheça o multiartista, pesquisador, educador e dramaturgo Salloma Salomão

por | março 6, 2024

Salomão Jovino da Silva nasceu em Passos (MG), em agosto de 1961. Ainda na adolescência teve o contato com o movimento black, o que foi essencial para a formação da sua identidade. Também na adolescência montou rádio e ajudou a construir a cultura periférica, sempre com visão crítica dos processos que acontecem no Brasil. Assim, reconhece-se negro, muito para além de ser descendente de africanos, mas vivendo todas as formas de cultura negra. Trafegou por diversas linguagens artísticas como teatro, música e poesia.

Em entrevista exclusiva à Trace Brasil, Salloma Salomão descreveu-se como um homem preto sexagenário, com algumas dores no corpo e na alma, várias alegrias no bornal do tempo vivido e muita vontade de viver, agir, criar“. Suas palavras refletem não apenas um músico talentoso, mas um contador de histórias inquieto e inspirador, cuja música é um eco de tempos passados, um diálogo com o presente e uma antecipação ansiosa do que o futuro musical reserva. Salloma Salomão continua a ser não apenas um músico, mas um arquiteto de sonoridades que transcende as fronteiras do convencional e cativa os ouvintes com sua narrativa musical única.

Graduando-se em História, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997), onde também cursa Mestrado em História (2000). O doutorado em História deu-se pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2005), com estágio na Universidade de Lisboa. Possui experiência ampla na área de História, com ênfase em História do Brasil Império, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura musical, identidades étnicas e movimentos negros urbanos, identidade nacional e cultura política internacional, escravidão e práticas culturais negras no século e musicalidade africana. Desenvolveu longo trabalho em educação social como, por exemplo, na área de alfabetização na Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (FEBEM), além de outros processos de ensino e de aglutinação de diferentes linguagens, tanto em sua obra como em espaços que circulou.

Foto: Nego Júnior

Com vasta produção literária acadêmica, sua carreira inclui atuação como professor colaborador na Universidade Federal de São Carlos (2006); consultor da prefeitura de São Paulo, na Secretaria Municipal de Educação (2014-2016). Atualmente é professor convidado da Universidade de São Paulo (USP) e, ainda, professor na Escola de Comunicação e Artes Centro de Estudos Latino-Americanos Sobre Comunicação (CELLAC), no Curso de Extensão Etno-Afro, ministrando a disciplina Etincidades e Africanidades.

Em 2020, por meio do Centro de Música do SESC-SP, ministrou o curso intitulado Raízes Africanas da Música Brasileira, apresentando panorama crítico a um campo de pesquisa etnomusicológica baseado no trabalho acadêmico de Kazadi Wa Mukuna, que colocou em relevância e reflexão os elementos centro africanos basilares na cultura musical brasileira. Serão abordados as culturas musicais e suas associações com a religiosidade africana em suas diversas manifestações; as dinâmicas socioculturais influenciadas pela urbanização e marginalização pós abolição; culturas musicais afro-brasileiras na contemporaneidade; entre outros temas.

Compositor, educador de ensino superior, ator, dramaturgo autoformado e socialmente construído. Dialogando de forma tensa com a produção artística e cultura hegemônica, criou uma obra que se estende dos dias atuais ao início dos anos 1980. Sua produção musical é composta por sete CDs e 3 DVDs.

Desenvolve projetos continuados de formação de educadores e artistas. Cria e difunde pesquisa e música para teatro, dança e cinema por meio de inúmeras parcerias. Seus trabalhos mais recentes incluem participação na peça premiada Gota D’Água Preta (2018-2020), autoria do musical Agosto na Cidade Murada (2018) e atuação no projeto teatral Fuzarka dos Descalços (Prêmio Cultura Inglesa, 2019) do Coletivo dos Anjos. Além destes, teve participações nos documentários Dentro da minha Pele, de Venturi Gomes; Negro em Mim, de Macca Ramos; e, Deixe que Digam, sobre o cantor e compositor Jair Rodrigues, dirigido por Rubens Rewald (ECA-USP). Compôs a trilha sonora autoral do Filme Todos Os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, selecionado para o Festival de Cinema de Berlim e premiado no Festival de Cinema de Gramado em 2020.

Foto: Nego Júnior

Salloma compartilhou detalhes intrigantes sobre sua abordagem única, que envolve o uso criativo da escrita ocidental para expressar e ressoar com as ricas musicalidades africanas. Ele enfatizou a importância de criar pontes culturais através da música, revelando como as influências das culturas africanas, impregnadas com ritmos e tradições, formaram sua identidade artística. Suas composições são uma narrativa musical que transcende fronteiras, conectando passado e presente em um diálogo sonoro vibrante.

“Utilizo a escrita ocidental para dar a ouvir musicalidades africanas.”, conta o artista.

Ao longo de sua carreira, Salloma colaborou com uma miríade de músicos talentosos da Grande São Paulo, cada um contribuindo para a riqueza e complexidade de sua música. Tô Bernado, trombonista e arranjador autodidata, e Gui Braz, formado no Conservatório de Tatuí, são alguns dos colaboradores que ajudaram a moldar suas últimas obras. Luiza Carvalho, com sua paixão pela música afroindígena, e Fabio Leandro, um gênio da música negra contemporânea, também contribuíram para a jornada musical de Salomão.

Foto: Nego Júnior

Salloma também compartilhou insights sobre “Terno Azul”, seu mais recente projeto em colaboração com Paulo Tó. Criado durante a pandemia, o álbum reflete a resiliência e a criatividade necessárias para enfrentar desafios significativos. A parceria com Paulo Tó, além de ser uma busca por alternativas de renda, representa uma amizade criativa profundamente enraizada, onde dois artistas combinam habilidades para criar algo verdadeiramente extraordinário.

“Eu gosto de me enredar de forma a ter amizades criativas, pois são a mais efetivas e duradouras, porque voce entra no íntimo daquela pessoa e ela no seu. Pra mim essas são a melhores relações porque saudáveis, sinceras e profundas.”, comenta o artista sobre a parceria.

O multiartista ainda revelou planos empolgantes para o futuro, incluindo uma nova peça teatral e a promoção contínua do álbum “Ancestres”. Ele também mencionou novas parcerias em vista, como uma composição com Juçara Marçal e um novo disco com Amailton Magno Azevedo (Grilo).

A abordagem de Salloma à música permanece guiada pela curiosidade, experiências diversas e pela constante busca por novos horizontes sonoros. E com certeza ele vai continuar aparecendo aqui na Trace Brasil.

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