Em um cenário musical frequentemente dominado por estéticas padronizadas, a cantora paraense, Mc Íra, lançou o seu novo álbum intitulado “Joia”, chegando às ruas com 08 faixas autorais que estão disponíveis nas principais plataformas de streaming, na última sexta-feira (21), marcando uma nova fase na trajetória da artista, que desde 2019, vem colecionando hits como “menina pretinha”, “Exú que fez” e “vinguei”, além de construir uma história digna de filme, se consolidando como um dos principais nomes do rap/trap paraense.
Com “JOIA“, Mc Íra mergulha em uma sonoridade mais amadurecida e reflexiva, combinando elementos do afrobeats, funk e house, mas sem deixar de lado a sua essência autêntica. Neste álbum a cantora e compositora reflete sobre sua jornada pessoal e artística até o momento, destacando sua relação com o empoderamento feminino, a luta antirracista, a vivência nas periferias da capital e o resgate da sua ancestralidade. “Vão saber agora por que me chamam de joia, vão saber agora por que meu vulgo é Íra. A composição do carvão é a mesma do diamante Eu venho do pouco, mas o que eu faço é gigante. Fazendo milhares para ganhar trocados”.
“Joia”, “Rosa’, “Blackbabe”, “Arrasta”, “180 feat Matemba”, “Feita Pro Mundo”, “De verdade” e “Dano” são as faixas, que foram produzidas pelo Navi Beatz, Mutano e gravadas no estúdio Mil planos records, retratando a relação da artista com a noite, trazendo reflexões espirituais, artísticas, pessoais e até mesmo sobre o período de pensar no álbum e como seria desenvolvido, no qual precisou trabalhar de maneira informal em bares e restaurantes.
“O álbum retrata a minha religião, a minha vida pessoal, na qual eu conseguia escrever todas as letras durante à noite, tentando intercalar com os trabalhos de atendimento nos bares da minha cidade. É sobre os prazeres e desprazeres, sendo a mesma noite que pode ser muito prazerosa fazendo o que eu amo, também pode ser uma noite muito violenta sofrendo racismo”, destacou.
Este novo projeto que surgiu para o público no dia 21 de junho, busca expandir a atuação da artista e falar não apenas sobre os momentos de racismo, mas sobre a libertação e a exaltação da sexualidade feminina, deixando a sua marca com um som poderoso de valorização da cultura negra e afro religiosa, como cita nas canções “Feita Pro Mundo”, “De Verdade” e “180”. Trazendo um discurso para liberdade sexual de mulheres pretas da periferia que amam outras mulheres, a Mc incorpora aspectos técnicos e pautas políticas presentes no rap, abordando as relações casuais que podem por vezes se transformar em romances, conseguindo assim, expressar suas próprias demandas com originalidade em seu álbum de estreia.
Da primeira à última faixa encontra-se um álbum coerente, portando um discurso forte, que trabalha na linha tênue de transformar vivência em arte e possuir um breve retrato de uma jovem artista negra que tenta ganhar a vida entre o trabalho de CLT e a resistência artística: “Porque mamãe me fez a Joia mais valiosa desse mundo, aquela que não se compra, aquela que não se vende. Correnteza na hora certa, aquela que a rua entende.”
Nascida no Amapá e criada em Belém do Pará, Mc Íra é Rapper, DJ, produtora cultural, audiovisual, coleciona um amplo número de produções musicais de forma independente e traz uma nova narrativa para a cena do rap paraense, além de movimentar a cena cultural da capital. Com referências do afrobeats, rap e funk, suas músicas são reflexões sobre o contexto de uma jovem mulher negra paraense que vem consolidando sua pesquisa em ritmos afro-diaspóricos.
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