Indignado com a forma como as igrejas neopentecostais agem em relação ao dízimo, a mercantilização da fé, principalmente afetando pessoas mais vulneráveis, e a criação da “bancada da bíblia” ou “bancada evangélica” na câmara dos Deputados, o idealizador Cristiano Ayres lança o vídeo-manifesto Céu, Fel e Fé, em um coquetel, no próximo dia 4 de julho, no Centro Cultural Lado B, no Centro do Rio.
A partir de um texto seu, Ayres, que é economista, escritor e produtor cultural, decidiu por produzir e dirigir o curta metragem que traduz sua indignação na relação que a maioria das igrejas neopentecostais impõe a seus fiéis quando trata-se do dízimo, além do fato dessas igrejas não pagarem nenhum tipo de imposto e não prestarem contas dos recursos arrecadados dos fiéis.
Ayres convidou o ator Vino Fragoso que dá vida a quatro personagens numa interpretação vigorosa, dinâmica e intensa. Além disso, no dia do lançamento do vídeo-manifesto, será realizado um bate-papo com o pastor e deputado federal, Henrique Vieira, sobre o comércio da Fé e a estratégia neopentecostal de poder no cenário político nacional.
“A isenção tributária de igrejas se justifica quando esse recurso é usado para a comunidade. Mas, o que temos visto são espaços que mercantilizam a fé através da cobrança de dízimos. Minha preocupação é com as pessoas pobres, humildes e vulneráveis que são enganadas por falsos profetas”, aponta Ayres.
Segundo Ayres, o vídeo Céu, Fel e Fé nasce como um manifesto poético, criando a narrativa no momento da gravação, e luta contra essa distorção social. “Há uma diferença gritante entre liberdade de crença e a exploração da fé. O que vemos em muitos segmentos neopentecostais é o uso distorcido do dízimo, não para fins comunitários, mas para enriquecer líderes religiosos que acumulam patrimônio e poder político”, lamenta o idealizador.
Vino Fragoso enfatiza que quando recebeu o convite se empolgou, uma vez que o vídeo dialoga com tudo que acredita ser urgente e, como ator, interpretar um pastor sempre foi um grande desejo seu, por ter sido protestante, da Igreja Assembleia de Deus.
“Estudei teologia, e pensava em ser pastor, então, o que não faltava eram referências para compor esse personagem, esse ‘tipo’ cheio de atitude e que se dizem usados por Deus, mas o que eles querem usar mesmo são as fragilidades das pessoas, e eu já fui uma delas”, relembra ele.
O ator completa ainda dizendo que foi um exercício e um prazer interpretar vários personagens dentro de um mesmo trabalho. “Foi prazeroso poder mostrar um Jesus mais humano, como eu acredito que ele tenha sido: um rebelde, que se revoltou quando fizeram da igreja, um comércio. Por isso, talvez só por isso, por ele ter sido um marginal e rebelde, hoje estamos falando dele”, comenta.
“Espero que nosso trabalho levante discussões para que estejamos alertas contra os usurpadores, que usam a fé e fazem dos púlpitos palcos dos seus espetáculos pseudo-espirituais”, conclui Fragoso.
0 comentários