A hora e a vez dela! Brilhando no musical ‘Elza’, que conta a trajetória da cantora no teatro, Naruna Costa também estará na TV apresentando o programa ‘Brasil da Paz’. A atração que está no ar no Canal Futura é uma proposta temática da emissora, produzida pela Grifa Filmes propõe uma reflexão para o público. Ao longo de 13 episódios inéditos, o programa mergulha em histórias reais de pessoas, empresas e organizações que estão, todos os dias, construindo alternativas possíveis e concretas para um convívio mais justo, empático e solidário. A obra é baseada na ideia original do diretor Naor Elimelech e do pesquisador de cultura da paz Samuel Gabanyi, e vai ao ar semanalmente, às 22h.
“O que eu acho interessante de participar dessa série é que ela tem muitas camadas de discussão sobre a paz. É muito importante falar desse tema agora, em um momento em que o mundo e muitos lugares estão literalmente em guerra. E em um país como o nosso, que nasce na guerra, que permanece em guerra, muitas comunidades, como as comunidades indígenas e a população negra, uma vez que é um país estruturalmente fascista e colonialista. Então, é um debate que eu acho importante, eu como artista e uma pessoa vinculada ao movimento de militância pela população negra, eu me sinto feliz em contribuir”, afirma Naruna.
Mulher negra e periférica, Naruna explica que também não está imune a violência, seja ela direta ou indireta. “Eu acho que a experiência de ser uma mulher negra neste país é marcada por muitas violências em muitos momentos da vida. Desde violências explícitas, como racismos direcionados, hipersexualização, machismo tanto na relação familiar quanto nas relações afetivas e amorosas, mas também nas invisíveis, nas estruturais, no sentimento de não pertencimento, que a gente tem quando a gente entra em determinados lugares e que não existem pessoas com o nosso tom de pele. Isso é uma violência. Quando eu entrei na Universidade de São Paulo, por exemplo, a primeira vez, e eu não vi pessoas como eu naquele lugar, isso foi uma violência silenciosa. E, também, violências diretas que, infelizmente, são corriqueiras nas experiências de pessoas como eu, uma mulher negra nascida na periferia. Nossas mães e nossas avós também passaram por isso. Tem a violência de não saber os nossos antepassados, as nossas memórias genéticas, por conta do tráfico histórico, violência doméstica também, então isso acho que é uma coisa, que infelizmente, é muito marcante da minha história. Mas não só na minha história, mas das mulheres negras brasileiras, especialmente”.
Militante, Naruna acredita que para alcançar a paz no Brasil, é preciso olhar para a diversidade. “O que nós, cidadãos, podemos fazer para enfim enriquecer esse movimento pela paz é fazer boas escolhas políticas. Se interessar pelas questões que são urgentes na sociedade, questões que a juventude traz. Por exemplo, as questões de sexualidade, de gênero, de racialidade. É poder aceitar a diversidade da nossa população. Ter essa abertura no olhar para ser menos preconceituoso. Eu acho que a gente tem cometido esse erro de fazer escolhas políticas que não estão de acordo com o que a nossa sociedade precisa. Não é possível viver numa sociedade que não seja diversa hoje em dia. Se a gente é representado por alguém que não esteja olhando para isso, já vai ser uma escolha que vai gerar muitas violências”.
Sucesso nos palcos no espetáculo musical ‘Elza’, que protagoniza ao lado das atrizes Ágata Matos, Janamô, Josy Anne, Júlia Sanchez, Julia Tizumba e Sara Hana, Naruna reforça a importância de brilhar ao lado de outras artistas negras. “Eu estou vivendo um momento muito emocionante agora, representando a Elza Soares nesse musical que já é um espetáculo muito bem celebrado. E eu também estou celebrando 25 anos de teatro. É uma responsabilidade gigante representar essa mulher, principalmente agora que ela não está mais aqui. Ela sendo ancestral. Com este trabalho, de alguma maneira, eu consigo celebrar minha própria trajetória. Eu acho que eu consegui ganhar o carinho do público. As pessoas estão gostando muito e eu me sinto honrada de ter essa responsabilidade nas mãos. E eu tenho a alegria de dividir o palco com mulheres que eu admiro muito, que estão empenhadas em aprofundar as suas pesquisas, que estão comprometidas, que são artistas e mulheres incríveis. Estou sendo muita acolhida, muito respeitada e muito admirada também. Admiro muito todas elas”, finaliza.
0 comentários