Um dos mais tradicionais e respeitados segmentos na história das escolas de samba, a Ala das Baianas recebe uma reverência da artista visual Mery Horta através da exposição inédita “De Onde Vem o Samba”, que faz sua abertura dia 9 de setembro às 16h nas Galerias B e C do Centro Cultural Correios, no Centro do Rio, contemplado com o edital Nossos Museus da SECEC RJ. Com entrada gratuita, a terceira mostra da artista foi criada para homenagear as chamadas “tias do samba”, senhoras que, no passado, abriam suas casas para acolher os sambistas e realizavam as rodas de samba, dando início ao surgimento das mais famosas escolas de samba do Rio de Janeiro, patrimônio imaterial e cultural do Brasil.
Contando com audiodescrição das obras e mediadores culturais, a exposição – que recebe a assinatura de Thiago Fernandes na curadoria e Ramon Castellano na pesquisa histórica – reúne 27 obras entre objetos têxteis, vídeos, fotografias, instalações sonoras e uma performance. Como mais um afago vindo dessas matriarcas de tantos entusiastas do samba, na abertura da exposição será realizada uma performance da artista com a participação de cinco baianas às 18h. Ainda dentro da programação da mostra, no dia 11 de outubro acontece o lançamento do catálogo impresso e também um bate-papo às 15h dentro da exposição.
“A exposição engloba duas partes complementares de obras que são costuradas de modo subjetivo e físico. A primeira, com objetos têxteis que costurei a maior parte à mão, a partir da materiais doados pela G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio. Nas duas maiores e principais obras contei com o auxílio da minha assistente, que é baiana, costureira e também minha mãe, Conceição Horta. O ofício da costura me acompanhou não só na criação dos trabalhos, mas também como uma conexão da história de vida dessas mulheres, pois muitas delas são costureiras e trabalham no próprio carnaval fazendo as fantasias da escola”, pontua Mery, que destaca nesta leva a obra “Explode Coração”, onde, num branco sobre branco com diversas camadas de tecido, criou volumes escultóricos em vermelho de flores salgueirenses, fazendo menção ao inesquecível samba do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro.
A segunda parte conta com obras que foram realizadas a partir de uma série de entrevistas realizadas por Mery, Thiago e Ramon com baianas das escolas de samba da G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel e G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio. Dessas entrevistas foram desenvolvidas fotografias, vídeos e instalações sonoras que compõem uma grande trama da exposição. Com grande parte dos títulos das obras fazendo referência a sambas-enredo, sambas-canção ou partido-alto que trazem pistas desse imaginário, na série de duas fotografias “O samba ainda vai nascer” vê-se os perfis das entrevistadas olhando na mesma direção, como se olhassem para o futuro, talvez o próprio futuro do samba, e o legado que elas deixam como “o anel de bamba para quem mereça usar”, famoso refrão de “Não Deixe o Samba Morrer“.
“Meu encanto pelas baianas e pelo carnaval vem desde criança. Nascida e criada em Bangu, bairro colado em Padre Miguel, que ‘é a capital da escola de samba que bate melhor no carnaval’ como diz a letra, chão da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola que existe no meu mundo desde que eu estava no útero da minha mãe. Não cito minha mãe à toa, pois ela é baiana da escola há mais de 10 anos, e através dela pude acompanhar de perto esse imaginário das baianas, muito além da visualidade e dos giros. Eu, enquanto passista da Mocidade há mais de sete anos e artista visual, já trago o samba nos meus trabalhos e pesquisas há muitos anos”, declara Mery.
“A mostra surge mais como uma pergunta, um questionamento, do que como uma resposta. Uma pergunta sobre todos os saberes, sabores, cheiros e visualidades que essas mães e tias do samba carregam, da feijoada ao defumador da Lavagem do Sambódromo que, realizada pelas baianas com água de cheiro e ervas, abre o pré-carnaval e marca a ligação da ala com rituais religiosos. Dos cordões às saias rodadas, é da riqueza desse universo que nasce ‘De Onde Vem o Samba’, ponto de partida e não de chegada, uma grande homenagem às mães e tias do Samba do passado, do presente e do futuro. Ao pensar e criar as obras me aproximo da ideia de que o samba nasce e renasce a todo momento e, também por isso, essa manifestação popular tão rica e complexa se refaz e se renova todos os dias com uma força impressionante”, finaliza Mery.
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