Em cartaz nos longas “O pai da Rita” e o “Papai é Pop”, disponíveis no Globoplay, o filme de animação “Tromba Trem”, no qual vive a voz original da protagonista Rainha Cupim e o longa “Rir para não chorar”, a jornalista, escritora e atriz Elisa Lucinda faz da poesia e a beleza das palavras suas maiores inspirações nos trabalhos que desenvolve nas artes cênicas. Ao completar 35 anos de carreira artística com 19 livros publicados, um documentário sobre sua vida está por vir, projeto dirigido pela conceituada e jovem diretora Glenda Nicácio que, segundo a própria artista, trará um recorte inteligente sobre sua vida e a arte que nela produz.
Ao falar sobre sua relação com a poesia, Elisa conta que que os versos chegaram em sua vida ainda criança como um alicerce para sua identidade e transmutação de suas experiências artísticas. “Para mim, rapidamente um pãozinho fresco pode se transformar poema, porque eu fui educada nessa base. Passei dos 11, quando comecei as estudar poesia, aos 17 anos fazendo recitais pelo menos duas vezes por ano e nunca mais parei”, conta ela que também é educadora e diz que a poesia ainda é uma arte discreta “Deveria ser uma disciplina das escolas públicas e particulares, além de ser obrigatória nas faculdades de Teatro, pois o teatro ensina a viver”, defende.
Elisa conta que veio de uma família de contadores de histórias, o que funcionou como um estímulo e uma escola. As narrativas de sua avó materna eram intercaladas por suspenses, enquanto ela “manipulava com as mãos o fumo de rolo que iria mascar” e a avó paterna, de quem herdou o nome, contava histórias fazendo os sons como se fosse uma trilha para as ações. O pai, advogado, professor de português e criativo contador de casos, junto de sua mãe, faziam ecoar pela casa canções recheadas de enredos de “Dolores Duran e Herivelto Martins à Lupicínio Rodrigues e Luiz Gonzaga”. Sem contar as grandes lições cênicas que lhe foram dadas pela professora de declamação ou de “interpretação” teatral da poesia, como ela mesmo diz, Maria Fillina, hoje com 92 anos.
Foi nesse celeiro cultural que a poeta cresceu, se tornou jornalista, e foi parar nos braços do teatro já dentro da universidade quando participou do primeiro grupo amador em terras capixabas. Ao mesmo tempo em que entrevistava artistas conhecidos para o jornalismo da Globo, a poeta mergulhou nas peças universitárias, no mesmo palco em que havia se apresentado em muitos recitais. Daí veio a coragem de largar a reportagem se mudar para o Rio atrás do sonho de ser atriz, época queentrou na CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, para estudarartes dramáticas. “Eu não queria mais dar a notícia, eu queria ser a notícia. Foi o que eu disse para os meus pais”, afirma.
O marco inicial de sua carreira artística, na cidade maravilhosa, aconteceu em seu primeiro recital no Posto 9 (Rio de Janeiro), quando agradou, impressionou e surpreendeu a todos ao interpretar poemas seus num recital coletivo de jovens poetas ao ar livre. Tal fato lhe rendeu imediatamente convites para fazer seus recitais em bares e outros espaços culturais do país, nos quais a pedido do público passou a vender avulsamente seus poemas antes de iniciar com a publicação dos seus primeiros livros independentes. Em um segundo importante momento, a atriz faz questão de pontuar a entrada de Zezé Polessa em sua vida, quando dirigiu o espetáculo “O semelhante”, extraído de seu livro homônimo (cujo CD de poesia está hoje disponível em plataformas de streaming musical, onde interpreta seus versos ao lado de nomes como Paulo José, Miguel Falabella entre outros). Vale destacar em sua trajetória a importância do publicitário Mauro Salles como mentor e parceiro em sua vida artística nacional.
A seguir, no início da década de 90, a poeta ganhou Candango de Ouro como Atriz Revelação, logo em seu primeiro curta, que concorreu no Festival de Brasília, o que abriu os caminhos para outras premiações ao longo da carreira. Paralelamente, ela explorava a multidisciplinaridade da poesia ao atuar junto com empresas que desejavam trabalhar o lado emocional dos funcionários por meio da cultura.
A reviravolta na vida da multiartista veio quando conheceu o publicitário Mauro Salles que apresentou sua literatura e sua performance aos formadores de opinião do país. O que resultou na publicação do seu primeiro livro na Editora Massao Ono, em 1995 e ao contrato com a editora Record, em 1998.Na sequência fez a novela “Mulheres Apaixonadas” (2003), na qual fazia a Pérola, era a ex-mulher do Tony Ramos. Aliás, o primeiro par negro que Tony teve até então. Dali, Elisa emendou sua segunda novela de Manoel Carlos, “Páginas da Vida” (2006), onde interpretava uma médica, a Dra Selma. Em seguida vieram Aquele Beijo, Lado a Lado, entre outras.
Entre tantas personagens no cinema, teatro e na TV, desfilam Álvaro de Campos, Adélia Prado, Neide, Gladys, Conceição, Dalva, Consolação…A poeta e atriz brilha também nas séries que estão no ar: “Os desjuntados”, “Manhãs de setembro” e “Não foi minha culpa”.
Sobre a afrodescendência nas artes cênicas, Elisa pontua que muito ainda falta a ser conquistado, como a normalização do protagonismo negro, o que também acontece no jornalismo, que não tem em suas bancadas nem metade do elenco preto. “Infelizmente muitas de nós morremos sem nunca termos protagonizado nada”, lamenta ao citar o projeto chamado ‘Cartas para’ da Vânia Lima, protagonizado por três poetas afrodescendentes, de Portugal, Moçambique e ela do Brasil. No entanto comemora a presença dos artistas negros no audiovisual atual em um número elevado, sem precedentes num passado recente. Neste momento, Elisa Lucinda vive a personagem Marlene, mãe da protagonista Sol, vivida por Sheron Menezes, na próxima novela das 19h na Tv Globo, Vai na Fé, em que integra um elenco em grande parte negro, bem como a presença afrodescendente na equipe entre roteiristas, diretores, diretores de arte, produção, fotografia, entre outros.
Assista agora ao nosso canal Trace Brazuca e confira este e outros Hits que estão bombando! Siga a Trace Brasil no Instagram, Facebook, Twitter e YouTube.
0 comentários