Desde que surgiram, revistas em quadrinhos tem servido para alimentar sonhos de crianças e adolescentes pelo mundo. Atualmente, tirinhas e HQs são plataformas que emprestam seus roteiros para produções de séries e filmes de sucesso. Para a artista plástica e designer de moda moradora de Guarulhos, Erika Lima, (30), também conhecida como Anegadoleite (nome de sua mais conhecida personagem), escrever história em quadrinhos se tornou uma forma de comunicação com um público que nem sempre se viu representado dentro desse nicho.
Aos 8 anos de idade ela criou uma tirinha na aula de português que chamou muito a atenção de sua minha mãe pelo desenho e ali era o prenúncio do que viria. Com o lançamento de “Todos os dias” , quadrinho independente viabilizado por uma campanha no Catarse, Erika conseguiu fazer da profecia de menina uma realidade e colocou no papel sua vivência como menina preta. “Desde de criança eu gostava de quadrinhos mas não tinha muito contato. As vezes lia um ou outro da turma da Mônica que eu gostava muito e eu tenho um primo que tinha coleções. Eu sempre gostei muito de histórias de super heróis então consumia filmes e séries na TV onde esse universo nerd era um pouco mais próximo”, conta ao falar sobre a dificuldade de acesso à HQs.

Imagem: Reprodução/Instagram
“Todos os dias” conta a história de Cléo e Zac, duas crianças negras que encontram um colibri muito curioso, elas ensinam ele sobre a ancestralidade que carregam em seus lindos cabelos. A história tem o objetivo de representar e empoderar a autoaceitação do cabelo crespo na infância.
Ter esse tipo de narrativa em uma mídia que tem apelo ao público infantil é um convite para que crianças pretas cresçam com a autoestima que seus pais não puderam ter. Que essas histórias venham pelas mãos de uma mulher negra, é ainda mais inspirador, visto que o mundo dos quadrinhos ainda é dominado por homens brancos.
Identificada com os personagens negros da Marvel, Erika vê essa representatividade na cultura pop como algo positivo e bem-vindo. “Há mais ou menos 7 anos eu sou grafiteira e a construção da minha personagem (anegadoleite) se dá pela falta de representatividade negra, então aí começa um novo momento onde no meu trabalho (sou Arteterapeuta infanto-juvenil) dentro de uma das maiores e mais violentas comunidades de São Paulo”, explica.
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A artista chamou para a comunidade artistas que levaram referência e representatividade negra para o espaço, fazendo com que a juventude se visse refletida na arte. Com a sensibilidade de quem cria e de quem cuida, Erika criou uma HQ que falasse dos cuidados com a covid e dicas do dia a dia para se manter minimamente bem em período pandêmico. “Foi um momento muito importante, onde eu também pude ilustrar um projeto da rede de saúde com a Fio Cruz”, conta.
Foi justamente durante o período de pandemia que a produção de Erika dentro do mundo dos quadrinhos se potencializou e ela foi uma das artistas expositoras no maior evento de cultura geeg/nerd do mundo, a CCXP, realizada em dezembro de 2023. Como carro chefe do seu trabalho ela expôs “Todos os Dias” que é inspirada na visão afetuosa que tem da infância, do seu bairro e da família. “Acho que isso já explica também o motivo dela ser infantil eu amo crianças e trabalho há mais de 6 anos com elas”, finaliza.
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