O documentário #NossaFamília, ou #OurFamily, uma produção brasileira da Cia Um Brasil de Teatro e Artes, lançado na 17ª FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty – RJ em 2019, ganhou duas exibições gratuitas em São Paulo. Em 21 de setembro no complexo de cinema Petra Belas Artes e em 24 de setembro no palco será o CEU Carrão – Carolina de Jesus, na zona leste da cidade.
Duas mulheres pretas, catadoras de materiais recicláveis e ex-moradoras de rua, são as figuras centrais de #NossaFamilia, idealizado e dirigido por Max Mu. Tereza e Mara – e suas experiências multiplicadoras e distributivas – inspiram este documentário. Ao adotarem 45 e 25 filhos, respectivamente, elas nos fazem refletir sobre um mundo onde a maternidade e a paternidade, o amor e as relações matrimoniais são capitalizadas. “Ao olharmos para pessoas em vulnerabilidade social, sem capital, que unem uma família enorme sem dinheiro, começamos a rever toda nossa filosofia de vida, e talvez, essas mulheres tragam à luz da contemporaneidade uma filosofia de resiliência, superação e amor pouco comum”, diz o diretor.
Em conversas conduzidas pelo premiado ator, diretor e preparador de elenco Eduardo Silva, Tereza e Mara falam sobre suas famílias e sua filosofia de vida, que transforma e recicla conceitos contemporâneos sobre como lidar com as adversidades, empatia e educação. O discurso é corroborado por entrevistas com alguns de seus filhos – entre eles, Laissa Sobral, a primeira catadora a ingressar em uma universidade.
Tereza Felipe, conhecida entre os integrantes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis como a catadora mais antiga do Brasil, veio de Minas Gerais para Ribeirão Preto, São Paulo, ainda adolescente, após ter sido adotada. Casada, ainda muito jovem, mudou-se para a capital e chegou a viver nas ruas, mas com a renda da coleta de recicláveis conseguiu mudar o rumo de sua vida. Comprou um terreno, onde construiu sua própria casa com suas mãos, fazendo os tijolos inclusive, zona leste da cidade, onde passou a abrigar os filhos das mulheres em vulnerabilidade social, que muitas vezes os deixavam com Tereza, que tinha o sonho de ter uma grande família. Teve dois filhos biológicos e, por ter a Doença de Chagas, acabou realizando-o de uma forma inesperada, adotando e registrando 45 crianças, oficialmente.
Ex-menina de rua, cria da violência doméstica, Mara perdeu os pais aos nove anos, quando foi encaminhada para FEBEM, de onde fugiu, passou a morar nas ruas e vivenciar a violência. Cansada, passou a coletar lixo. Foi presidente eleita pelos integrantes da Cooperativa Granja Julieta Nossos Valores, na Zona Sul da cidade de São Paulo, onde a renda é distribuída de maneira igualitária entre todos – pessoas em situação de rua, egressos do sistema prisional, mulheres que saem de presídios e dependentes químicos em tratamento. Teve dois filhos biológicos, Laíssa – a primeira na história da família a cursar uma universidade – e Everton, mas foi abrindo a casa para outras crianças e adolescentes vítimas de violência e de abandono.
A Cia Um Brasil de Teatro e Artes pretende levar o filme ao Brasil todo e ao exterior, para disseminar a reciclagem não só dos resíduos como também dos conceitos contemporâneos.
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