Cantora baiana Xenia França apresenta ‘Em nome da estrela’, seu segundo disco

por | junho 6, 2022

Nutrido por simbolismos e percepções apuradas, “Em nome da estrela” revela-se como um  sofisticado estudo de caso íntimo que nasce do encanto entre a escuridão e o som na confluência do brilho interior de uma negra mulher envolta em seus processos de auto  lapidação. Se em seu primeiro disco lançado em 2017 a espacialidade exterior e o estado de vigília  construíram a mitologia da obra, é no repouso sobre o silêncio e no alinhamento à  frequência dos sonhos que o segundo estágio da criação artística de Xenia se inicia.

“Em nome da estrela” é uma declaração de confiança na força essencial que se carrega a negrura intuitiva que diz que renascer é preciso. E nessa vereda se faz imperioso o  reatar dos elos que se conectam com a chave mestra da jornada de nossa existência, o amor, o segredo de tudo, o devir.

Em meio ao desassossego que floresce diante  dos movimentos naturais da vida surgem inquietudes que suscitam em Xenia elaborações  delicadas e taciturnas, fazendo brotar uma espécie de manifesto de antigas sabedorias, anunciando que é no ouro-magia da pele noir que persiste o raio de quentura que dá vida a  todo universo, a luminescência solar. E como quem assevera um presságio, ao mergulhar em suas sombras, Xenia generosamente não se destrói, descansa e escolhe mirar no seu  próprio brilho, recompondo o valor que carrega nas mãos: o resgate da memória ancestral e a retomada do poder sobre si mesma.

É no cruzo de nove faixas cintilantes feito nebulosas prenhes de harpas e atabaques que as  arquiteturas do spiritual jazz estão recriadas. Numa codagem recôncava com ritmos e  blues africanos cromados por sintetizadores que pareiam o orì e ampliam a visão, esta  constelação surrealista negra evoca vibrações de grandes mestres como Djavan quando  dita sua sentença “reserve o mito da magia só para você”, e o futurível Gilberto Gil quando  profetiza “o mutante é mais feliz!”. Com produção musical de Lourenço Rebetez, Pipo  Pegoraro e da própria Xenia, esta exaltação feita com esmeros de corpo celeste que carrega luz própria legítima a razão do arquétipo estelar manifestar-se no nome da artista.

Como uma ode, esta obra é composta por harmonias sofisticadas e melodias que  despertam imaginações sencientes. Por entre fórmulas que não só extraem a obscuridade  dos instrumentos mas que também transmutam de forma inesperada o delinear de múltiplas  atmosferas, “Em nome da estrela” possui portais dimensionais abertos que intuem o  suspender do agora e geram alterações sônicas da consciência a cada canção desbravada.

Xenia assina seis das nove composições do disco firmando autoridade sobre suas  frutificações, fluindo livremente e manifestando aprimoramento através de cantos entoados como mantras de raro rumor colorido moldados feito o barro primordial. Com Lucas Cirillo parceiro também em outras canções – a cantora descreve o desafio existente na união entre as dimensões feminina e masculina, conjurando o princípio de gênero das Leis universais  sob a grandiosa regência de Arthur Verocai. Rico Dalasam alicerça sua presença invocando  Maya Angelou e preceitua: “Se ame!”, sob as bênçãos de Mãe Menininha do Gantois vem a  celebração que Xênia dedica à Dádiva d’Oxum incorporando na letra de Luiza Lian a  rendição de homenagens para a dona de sua cabeça. De modo vigoroso se faz presente a  imponência da Linguagem Percussiva Baiana ressoando a miríade da áurea trovejante do  maestro Letieres Leite sob camadas de pulsações e chamamentos litúrgicos negros do trio  Kainã do Jêje, Alysson Bruno e Ricardo Braga assentando o axé do disco.

Este parimento é antes de tudo um movimento afetuoso de uma artista que se redescobre a  cada fase da vida, e que mesmo diante de apreensões decide acolher suas dores, solenizar  suas conquistas e buscar de tantas maneiras uma enraizada ligação com sua  ancestralidade na querência de ir além, tocando fabulosos futuros. De forma franca e  sincera, Xenia nos oferece signos de ouro, melanina e mel, elementos que, assim como  proferiu o poeta negro Cruz e Sousa, exaltam os estrelejamentos do Sonho.

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