Cria da Penha, bairro do subúrbio carioca, Nyandra Fernandes atinou pra dança aos 16 anos – embora sinta que o desejo de dançar sempre tenha estado ali. Formada numa escola de dança contemporânea, não parou mais e, em 2021, em meio à pandemia, desenvolveu um “projeto audiovisual dançado”, como ela credencia o trabalho artístico homônimo coproduzido junto ao Festival Panorama e que hoje se torna o espetáculo “Elegbará”, com estreia marcada para o dia 1º de dezembro, às 19h, no Teatro João Caetano. Sob direção da própria Nyandra e assistência de Elton Sacramento, o trabalho gira torno da vivência de Nyandra nas ruas e nas religiões de matriz africana, buscando sempre a aspiração de emancipar as suas narrativas, as deslocando de direções eurocêntricas. No dia 08 de dezembro às 19h a montagem realiza uma apresentação no Teatro Armando Gonzaga.
Partindo da pesquisa e do universo iniciado na sua experiência audiovisual homônima, com esta obra de dança inédita o desejo é de reafirmar que se faz necessário falarmos dos diversos tipos de corpos e sobre suas particularidades, além de mostrar como eles podem e se comunicam com outros quando possuem o mesmo objetivo – que, neste momento, é o movimento, a dança. Para além disso, tornou-se imprescindível levar aos palcos as religiões de matriz africana, que são inspiração para muitas manifestações populares.
“‘Elegbará’ surgiu em 2021 da minha necessidade de falar sobre o meu corpo gordo, meus movimentos e as ‘amarras’ as quais meu corpo sempre foi submetido. No trabalho quis exaltar minhas particularidades, que conversam com as particularidades de muitas outras pessoas, e ainda falar sobre e exaltar as religiões de matriz africana que fazem parte da minha caminhada. Elegbara fala também de lugares não vistos como possibilidade de criação de arte contemporânea, longe dos grandes centros urbanos”, pontua Nyandra.
Dentre as muitas particularidades, “Elegbará” fala de corpo. O corpo preto, gordo e periférico que conversa com as ruas da cidade fazendo dela o seu palco. Na montagem, a pesquisa de movimento de Nyandra tem continuidade com outros bailarinos com perfis semelhantes ao citado acima, intencionando “educar” os olhos a verem todos os tipos de corpos no palco. “Por muito tempo corpos como o meu e similares não foram possibilitados de ocupar espaços como os da dança contemporânea. Se hoje eu consigo de alguma forma ocupar este lugar, é para apresentar a possibilidade e mostrar para outras pessoas gordas e periféricas que nossos corpos são potência”, confia a artista.
Na cena, uma dança afro-brasileira contemporânea, corpos gordos distintos, ancestralidade e possibilidades de ver a rua como é: uma grande encruzilhada que tem diversos caminhos onde a gente se encontra, se perde e dança. São utilizados ainda elementos ancestrais ligados ao candomblé, como padês (comida oferecida à Exu feita de azeite de dendê e farinha de mandioca com folhas de mamona). O projeto é realizado através de recursos do Prêmio Funarj de Dança 2022 e apresentado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro / Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa / Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro.
Exibido em espaços relevantes, como o Festival Panorama; 10º Circuito Vozes do Corpo – Cia Sansacroma (2021); IV Mostra Sesc de Cinema – Panorama Estadual (2021); Cineclube Tia Nilda (2021); Mostra Egbé – Festival de Cinema Negro de Sergipe (2022) e Psimaré / Que Boca na Cena? (2022), o filme se distancia do espetáculo. “Sempre tive vontade de dar continuidade ao projeto e, por este motivo, busquei incentivo público para isso. E expandir se encaixa também em aumentar a pesquisa para além do meu corpo, é também poder dar estímulo para outros corpos. E podemos já destacar que é essa a maior diferença entre os dois formatos”, finaliza Nyandra.
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