Que a franquia “Velozes e Furiosos” abandonou qualquer busca por uma narrativa crível, não é novidade. Desde o imenso sucesso de “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio”, Vin Diesel e sua trupe vem desafiando as leis da física sem pudor, com resultados regulares e divertidos, sobretudo quando a suspensão de descrença está ativada, mas no nono filme da franquia, a fórmula não só deu sinais de desgaste como ofereceu um resultado bem duvidoso.
Chegamos ao décimo filme da saga, “Velozes e Furiosos 10”, com Dom Toretto (Vin Diesel) e sua família precisando lutar contra mais um vilão, mais uma vez prometido como o mais letal que já encarou a equipe dos ladrões de carro.
Se alguém tivesse chegado à Terra hoje e fosse assistir a este filme, estranharia a abertura com diversas frases de efeito sobre a importância da família junto a uma música para dar o clima de emoção. Sem sutileza, o diretor Louis Terrier joga na cara do público uma sequência de cenas piegas, mas a intenção manipulativa falha tanto quanto apresentar o perigo das cenas seguintes.

Imagem: Reprodução
Roman Pearce (Tyrese Gibson) assume a liderança da equipe em uma missão por Roma e nesse trecho temos o que há de melhor do que se espera na franquia: corridas alucinadas de carros, explosões, a total ausência dos efeitos da gravidade e de qualquer outra lei da física e a aparente imortalidade dos protagonistas.
Talvez seja chover no molhado apontar esse tipo de coisa na saga dos corredores, mas o problema é que o longa não trata a galhofa como galhofa, mas se leva a sério em muitos momentos, criando uma incongruência entre o clima que a produção parece querer imprimir e a farofada acontecendo em tela.
A delícia de ver um carro voando entre prédios, como já vimos nos episódios anteriores, se perde na busca pela gravidade excessiva dada aos acontecimentos e, ao mesmo tempo, tentativas de humor envolvendo o personagem de Tyrese, Ludacris e Nathalie Emmanuel ficam deslocadas e não funcionam. Definitivamente não é um filme engraçado quando temos de acompanhar esses três. As melhores tentativas de humor ficam por parte do grandalhão John Cena e sua interação com Leo Abelo, intérprete de Brian, filho de Toretto.
Cena está se divertindo no papel, talvez só não tão à vontade quanto Jason Momoa encarnando Dante, filho do traficante brasileiro morto em ‘Velozes & Furiosos 5: Operação Rio’.
O ator claramente se diverte interpretando o vingativo, implacável e canastrão vilão da vez. Não é um exemplo de atuação digna de Oscar, mas Momoa leva no carisma uma vez que o personagem tem a profundidade de um pires. Sua entrega se torna uma das melhores coisas do longa e sua implacabilidade é bem-vinda, visto a difícil missão de ferir a família protagonista.

Jason Momoa como Dante
Outros atores de ponta dão as caras no filme, como a sempre bem Charlize Theron e Brie Larson, que nunca parece estar à vontade em cinema de ação.
Terrier filma bem a ação, com destaque para as sequências de embate físico, muito bem coreografadas, embora seja esquisito imaginar que absolutamente todo mundo aqui saiba lutar artes marciais.
Em algum momento, a edição opta por picotar a projeção em vários núcleos diferentes numa estratégia que em geral é usada para uma grande virada final, mas como os cheques precisam continuar caindo para todos os envolvidos, a opção foi manter uma inconclusão à la “Vingadores – Guerra Infinita”, no que “Velozes e Furiosos 10” se dá mais importância que o necessário.
Passado boa parte no Rio de Janeiro, é triste notar que mais uma vez optaram por uma mistura pobre de estereótipos do que seriam as favelas do Rio. Entre o espanhol e o reggaeton, moças seminuas, traficantes armados e quase nenhum morador. Aparentemente, no Rio de Janeiro todo mundo faz parte de alguma facção e todos os bandidos são fãs de Dominic Toretto.
“Velozes e Furiosos 10″ é caótico, pouco inspirado, mas deve agradar os pouco exigentes fãs da franquia. Com boa vontade, dá para se divertir.
Ah, tem uma cena pós-crédito e participação especial da cantora Ludmilla!
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