Os filmes de super-heróis parecem caminhar inevitavelmente para o caminho da saturação. Nos últimos dois anos a Marvel acelerou seu processo de produção, jogando nos cinemas e no streaming uma coleção de peças audiovisuais irregulares que deixam a dever em brilho em relação aos seus anos anteriores. Felizmente “Homem-Formiga e Vespa -Quantumania” serve como um ponto positivo ao histórico de longas da Casa das Ideias.
O Homem-Formiga (Paul Rudd), Vespa (Evangeline Lilly) e Cassie (Kathryn Newton) vão ao reino quântico enfrentar Kang, o Conquistador (Jonathan Majors), vilão apresentado em ‘Loki’. Ao levar o filme para um reino apartado de possíveis intervenções de outros Vingadores, o longa dirigido por Peyton Reed escapa da necessidade de fazer conexões instantâneas com todo o universo que foi construído até aqui, o que se tornou ponto fraco das recentes produções da Disney/Marvel. A autocontenção dos conflitos, pelo menos a princípio, torna a experiência mais prazerosa e divertida.
Paul Rudd continua muito bem no papel do herói que pode encolher ou crescer, sendo naturalmente engraçado e acertando o timing cômico sem parecer bobo e deslocado, entrando no rol de atores que dominaram totalmente o espírito de seus personagens. A fluidez com que passeia entre comédia e drama é admirável.
O mesmo não pode se dizer de Evangeline Lilly, mas não por conta de deficiências da atriz, mas pelo roteiro que escanteia sua Vespa e não justifica seu nome no título. Até os personagens de Michael Douglas e Michelle Pfeiffer conseguem imprimir maior destaque, o que é outro ponto forte da produção, já que era uma relação que ficou rasa nas aventuras anteriores do pequeno grande herói.
A grande atração do filme, no entanto, não fica por conta dos protagonistas, mas sim de Kang, o novo grande vilão da Marvel, interpretado de forma ameaçadora e poderosa por Jonathan Majors. O ator consegue marcar com sua presença o perigo que o roteiro não consegue fazer presente. Os capangas que o servem no reino quântico são mais atuantes que o próprio Kang, mas quando Major aparece em cena é difícil não se sentir impactado pelo que ele pode fazer. Majors surge sempre sugerindo uma inteligência sagaz, mas também uma fisicalidade imponente que vai deixar o público curioso para as camadas que ele poderá oferecer ao vilão.
O aguardado M.O.D.O.K surge em um efeito especial bizarríssimo e acaba sendo completamente desperdiçado pela pulsão dos produtores Marvel em jogar vilões com potencial na lata de lixo, como foi com Gorr em “Thor- Amor e Trovão”
O problema maior de “Homem- Formiga e Vespa – Quantumania” está na ausência de perigo real aos mocinhos. Apesar do esforço de Majors, o perigo representado pelo vilão fica mais como uma promessa para o vindouro novo grupo dos Vingadores e isso joga a trama para o lado mais genérico, desperdiçando parte de seu potencial.
O reino quântico é bonito e bem explorado. Conhecemos alguns de seus habitantes, inclusive melhor do que conhecemos Atlântida e Wakanda até aqui.
“Homem- Formiga e Vespa – Quantumania” é uma aventura psicodélica divertida e mais acerta do que erra, sobretudo na presença de Jonathan Majors como Kang, mas a Marvel precisa de mais para manter o interesse do público em suas aventuras.
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