O universo cinematográfico da DC Comics nunca conseguiu se consolidar e recentemente James Gunn foi escolhido para reformular a produção cinematográfica da editora das lendas. Henry Cavill e Ben Affleck deixarão de viver Superman e Batman, Adão Negro encarnado por The Rock não correspondeu às expectativas e Gal Gadot e sua Mulher Maravilha são uma incógnita.
É no meio de incertezas e desorganização que ‘Shazam – A Fúria dos Deuses’ chega aos cinemas e infelizmente todo o caos acumulado dos projetos anteriores afeta a experiência que temos com o longa dirigido por David F. Sandberg. Não que o resultado seja desastroso, longe disso, mas o filme fica perdido entre o que é e o que poderia se tornar dentro de um universo que tinha intenção de ser compartilhado.
As filhas de Atla chegam à Terra em busca da magia roubada deles há muito tempo. Shazam e seus irmãos precisam provar que são dignos de seus poderes enquanto lidam com conflitos que dividem a família.
O primeiro filme, de 2019, trouxe um frescor necessário ao universo sisudo que vinha sendo construído por Zack Snyder. Zachary Levi trouxe um Shazam bonachão, incorporando bem o espírito de uma criança que ganha superpoderes de repente. A ameaça contida também combinava com o clima de aventura da sessão da tarde proposto pelo filme. Em “Fúria dos Deuses”, o nível de ameaça fica um pouco confuso. Em alguns momentos, parece restrito àquela cidade, mas em outros parece ser uma emergência em escala global e o filme nunca deixa isso bem claro. Além disso, dentro do que foi estabelecido anteriormente, a produção sofre do mal que vimos em “Homem de Ferro 3”, que é a inexplicável inação de outros heróis que já sabemos existir no mundo em que Shazam é inserido.
Quando as três irmãs (Anthea, Kalypso e Hespera), inimigas de Billy Batson (Asher Angel) aparecem, a sensação de que as consequências à família do garoto são reais parecem palpáveis. Helen Mirren começa bem aproveitada, inclusive em cenas de batalha, muito bem dirigidas, de modo a parecer crível que uma senhora de idade confronte fisicamente os heróis, mas infelizmente a curva dramática começa a se concentrar na Kalypso de Lucy Liu que se, num primeiro momento, mostra ter poderes capazes de causar o caos em massa, depois é relegada a ficar de carona em cima de um dragão que usa os poderes sempre a serviço da conveniência de roteiro.
Jack Dylan repete o feito do primeiro filme, conferindo personalidade a seu Freddy Freeman e Faithe Herman se destaca pela fofura, que é replicada pela sua contraparte adulta vivida por Meagan Good. Até Billy Batson é menos marcante aqui, com a presença de Shazam adulto tentando liderar a equipe sendo o ponto central do conflito dentro da família.
Apesar de supostamente ter adquirido a sabedoria de Salomão, Shazam não consegue usar o poder, se comportando como uma criança um tanto descerebrada, ainda que cheia de coração. Zachary Levi está confortável no papel e seria bom vê-lo novamente encarnando o herói, mas o futuro é incerto, ainda que uma cena pós-crédito pareça querer incluí-lo em uma sequência que provavelmente não acontecerá.
Em comparação com alguns filmes que esbanjam dinheiro para dar ao público efeitos especiais porcos, “Shazam – Fúria dos Deuses” é decente na maior parte de seu CGI, embora algumas cenas de voo pareçam esquisitas e alguns cenários deixem transparecer a tela verde.
O segundo filme de Shazam oferece uma diversão super escapista e pastelona, desprovida de consequências, o que pode não agradar aos fãs da sisudez de Zack Snyder. O roteiro simplista não estraga a experiência de um filme que se propõe a ser somente um passatempo eficiente dentro de um período de transição da Warner/DC e seu Universo Cinematográfico.
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