2021: Um ano depois do Black Lives Matter

por | junho 2, 2021

Will Marinho é Jornalista, Analista de Marketing e colaborador do portal da Trace Brasil

Após um ano da morte brutal do ex-segurança negro, a Trace Brasil reuniu um time de especialistas para analisar como o caso trouxe mudanças para a pauta racial.

Há exatamente um ano, durante o pico de incertezas causadas pela pandemia do novo coronavírus, todos estavam em casa com os olhos grudados na tela e um vídeo começou a viralizar nas redes sociais. Este vídeo se tratava da morte do ex-segurança George Floyd, assassinado em Minneapolis pelo policial Derek Chauvin. 

As câmeras de segurança mostraram que Floyd teve seu pescoço pressionado pelo joelho do policial durante quase 10 minutos. As imagens chocaram o mundo e desencadearam uma onda de protestos jamais vista na história, tanto pelo impacto das imagens, quanto pelas reverberações do caso. O mundo parou para discutir a violência causada pelo racismo em pleno século 21.

As reverberações do caso atingiram os mais variados campos da sociedade mesmo um ano depois do ocorrido. Pensando nisso, a Trace Brasil trouxe um time de especialistas para analisar quais foram os desdobramentos da morte de Floyd em nosso país na cultura, economia e educação.

Cultura

A cultura foi uma das vertentes da sociedade que mais se posicionou cobrando justiça no caso da morte de George Floyd. Além de uma movimentação maciça dos artistas nos EUA, a brutalidade da ação também chamou a atenção no Brasil, em um momento que outras situações de extrema violência eram vividas no país (vide os casos de João Pedro e Ágata baleados durante uma operação policial e João Alberto espancado até a morte nos fundos de um supermercado).

“Após a morte de Floyd e de tantos outros casos, houve uma preocupação maior com a diversidade nas produções culturais.Dos elencos, passando pelas pautas até as músicas, aconteceu uma potencialização de pessoas negras que foram chamadas para falar de outros assuntos além da pauta racial”, analisa o ator, diretor e roteirista Heraldo De Deus.

A discussão sobre a violência contra pessoas negras tomou a programação dos grandes canais de TV. Além dos debates sobre os casos, iniciativas ligadas a como combater o racismo foram inseridas na grade televisiva em diferentes formatos. Na Trace Brasil, a filósofa Djamilla Ribeiro estrelou o quadro “Como ser antirracista”. O projeto foi veiculado no programa Trace Trends e trazia dicas práticas de como se mudar a mentalidade a respeito da negritude no país.

O mundo musical brasileiro também usou a sua voz para denunciar as tragédias geradas pela violência policial. No rap (ritmo conhecido por denunciar situações como esta), destacou-se a canção “Melhor dia da vida IV”, em que o cantor L7nnon falou abertamente dos três casos de violência: “Vê lá o caso de George Floyd, Evaldo e Ágata. Esses dias mataram João Pedro. Favela do Salgueiro, o Brasil todo está de luto. Igualdade para eles é sempre matar preto”, canta. 

Outro ritmo que se juntou ao tom de protesto foi o rock. A banda mineira Black Pantera trouxe a música “I can breathe”, cujo nome é a última frase dita por George Floyd antes de morrer.

Protesto x Redes Sociais

Já na internet, diversos artistas emprestaram seus perfis para que pessoas negras pudesses falar sobre racismo. Foi o caso do falecido ator Paulo Gustavo com a filósofa Djamila Ribeiro, a atriz Ingrid Guimarães com o ativista Spartakus Santiago e a atriz Monica Iozzi com o Head de Marketing da Trace Brasil, Ad Júnior.

“Casos como o de Floyd chocam a população, e o debate sobre eles devem ser feitos por todos os meios necessários”, pontua Heraldo de Deus. Durante a morte do americano, a tag #blacklivesmatter (vidas negras importam) ocupo o trending topics tanto no Instagram e no Twitter. A frase era postada seguida de uma tela preta nos perfis de vários artistas. Vale lembrar que a expressão também confere nome a um dos movimentos antirracistas mais importante dos EUA.

De forma geral, Heraldo de Deus indica que mesmo que mudanças positivas tenham sido feitas, existe um caminho longo para percorrer. “Vale lembrar que mesmo que estes casos sejam simbólicos, existe muito ainda ser feito dentro da pauta racial e do pensar antirracista”, finaliza. A opinião dele também é compartilhada pela economista Nina Silva.

Economia

“A morte de Floyd impulsionou uma tomada de consciência por parte das pessoas brancas em todo o mundo. Porém, isso ainda é pouco”, explica Nina Silva, CEO e fundadora do movimento Black Money.

De acordo com Nina, o fato ganhou mais alcance devido ao isolamento físico gerado pela pandemia da Covid-19. “Com as pessoas dentro de suas casas e assistindo a morte de homem negro praticamente ao vivo na TV e nas redes sociais, o fato ganhou mais relevância”, reflete a CEO que enfatiza a importância da economia para se enfrentar uma estrutura desigual no que tange às questões raciais.

Após o ocorrido com Floyd, Ágata, João Pedro e João Alberto, algumas empresas se atentaram mais as questões raciais. Foi o caso do Magazine Luiza que abriu um processo de trainee voltado somente para pessoas negras e o Carrefour que criou um fundo de 25 milhões de reais para o combate do racismo no Brasil.

“Após a morte de Floyd, empresas no Brasil e no mundo se posicionaram com doações para iniciativas que ajudavam financeiramente famílias pretas na pandemia ou programas de contratações e aceleração de carreira de pessoas negras no mundo corporativo. No entanto, o movimento não foi contínuo, deixando ainda uma lacuna causada pelo racismo estrutural. É necessário discutir um formato econômico que de fato inclua as pessoas pretas. Só assim, casos como a morte de Floyd não terão sido em vão”, reforça Silva

Educação

Para o head de educação da Trace Brasil, Danilo Lima, a morte de George Floyd reverberou de forma intensa nos processos educacionais. “De uma maneira macro, o ocorrido com Floyd obrigou pessoas a pensarem sobre a responsabilidade da educação nos processos de formação do ser humano”, aponta Lima. 

O educador também enfatiza que ações concretas precisaram ser feitas em todos os campos onde a educação influencia, citando como o exemplo os seis encontros do Ciclo Formativo sobre Educação Antirracista, promovido pela Trace Brasil para a Secretária de Estado da Educação do estado de São Paulo.

Danilo Lima é o Head de Educação do Trace Academia

“Foi a hora de coletivos negros pautarem as discussões sobre diversidade racial, o tema ocupar as salas de aula e conversas nas esferas público e privado”, analisa Lima, que reforça o papel da pandemia em impulsionar as discussões raciais. “Em função da pandemia, hoje mais de 11 milhões dentre os 52 milhões de jovens brasileiros estão desempregados. Esses 52 milhões pessoas representam ⅓ da população ativa economicamente do nosso país. E a maioria desses jovens são negros ou pardos”, pontua. Outro dado importante é que 70% dos alunos que abandonaram as aulas durante a pandemia são negros.

Mesmo em meio a todas essas situações, o head de educação da Trace Brasil se diz otimista. “Tenho uma vasta caminhada dentro do universo educacional. E o nosso país tem tudo para ser uma grande vitrine de transformação social. E os protagonistas disso serão os jovens que foram formados pelas várias políticas de ações afirmativas implementadas nos últimos 10 anos. A educação entra como importante aparato de mobilidade social para que mudança aconteça”, conclui Lima.

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