Como escrever sobre o prazer das mulheres sem romantização, sem moralismo, sem colonização? Em seu livro de estreia, a jornalista, escritora e consultora em diversidade Monique dos Anjos (@moniquequedisse) aposta em uma literatura erótica que coloca o gozo — e não apenas o sexo — no centro da narrativa.
Publicado pela Editora Telha, Nós entre três (2025, 124 págs.) reúne catorze contos que encaram o desejo como um direito, e o corpo como território de subversão, fricção e memória. O livro conta com prefácio de Caroline Amanda, cientista social, psicanalista e especialista em saúde íntima, reprodutiva e sexual, além de fundadora da Yoni das Pretas, e comentários de contracapa de Mayumi Sato, pesquisadora de sexualidade que lidera a maior rede social de sexo do Brasil.
Com linguagem sensível e direta, Monique explora o erótico como espaço de liberdade — especialmente para mulheres negras, retintas, mães, maduras, inseguras, vaidosas, complexas. “Quero que mulheres saibam que o acesso ao prazer — e, sobretudo, ao gozo — é um direito que nos foi negado”, afirma. “Escrevo porque preciso me ler. Porque durante tempo demais fomos reduzidas a corpos servis, objetos ou ausências. Quero escrever sobre cheiro, sobre suor, sobre o que acontece depois da primeira transa. Quero escrever sobre mulheres como eu.”
Nós entre três recusa a lógica eurocentrada do casal perfeito e constrói enredos em que o sexo é suado, ambíguo, às vezes engraçado, às vezes brutal. As personagens erram, gozam, desistem, voltam, se expõem — tudo nos seus próprios termos. A obra provoca tanto quanto acolhe: questiona as estruturas de desejo e, ao mesmo tempo, convida a olhar para o corpo como espaço de presença.
Monique dos Anjos é jornalista, escritora e mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp. Nasceu na periferia de São Paulo e hoje vive no interior paulista. Já morou no Panamá, Canadá, Alemanha e países da Europa. Atua com consultoria de diversidade e já colaborou com organizações como Hospital Albert Einstein, Cushman & Wakefield , Sesi Senai Goiás, Fundo Agbara e Nação Valquírias (onde também é mentora de mulheres negras). Realiza palestras e oficinas de educação antirracista em escolas da região de Campinas.
Suas referências misturam teoria e pele: Audre Lorde, Lélia Gonzalez, Neusa Santos Souza, Grada Kilomba, Conceição Evaristo, e também vozes que falam abertamente sobre sexo, como Amanda Carolina (Yoni das Pretas), Carmen Faustino, Mariah Prado (Share Your Sex), Mayumi Sato, Sofia Menegon, Lais Conter.
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