O rock’n’roll foi criado por várias pessoas através da história, mas se tivesse que fazer uma lista de possíveis reis do rock, Elvis Presley, definitivamente, não estaria no top 5. O Rhythm & Blues e o Gospel lotavam os bailes negros e os adolescentes brancos ficavam cada vez mais fissurados pelos riffs saídos das guitarras e pianos possuídos pelos ritmos celestiaais. Com o crescimento daquele incendiário movimento, os brancos criaram suas versões, com artistas que imitavam o rebolado e as performances quentes de Chuck Berry e Little Richard, assim como as palhetadas aceleradas de Rosetta Tharpe.
A gênese do rock é negra. O próprio Elvis declarou certa vez para a revista Tan: “Muitas pessoas parecem pensar que eu comecei este negócio. Mas o rock ‘n’ roll esteve aqui muito tempo antes de eu aparecer. Ninguém pode cantar esse tipo de música como pessoas de cor. Vamos ser sinceros: não sei cantar como o Fats Domino. Eu sei disso”.
Através dos anos diversas acusações de plágio surgiram contra nomes considerados unanimidade dentro do rock. Um dos casos mais famosos é envolvendo a banda britânica Led Zeppelin. Entre dezenas de acusações de plágio de música feito por artistas negros podemos citar How many more times (1969), essa música é plágio de duas músicas, uma” How manu more years (1951) de Howlin Wolf, e da música “The Hunter”, de Albert King e o grande sucesso Whole lotta love (1969), plágio da música “You need love”, de Willie Dixon (foi feito acordo no Tribunal e Dixon foi creditado como autor posteriormente).
Acontece que apesar das acusações de plágio e apropriação, o mainstream acabou dominado por artistas brancos, mas o maior guitarrista é negro. Jimi Hendrix é unanimidade em todas as listas especializadas e influenciou gerações. Nos anos 80 o mundo recebeu uma das maiores cozinhas do hard rock. O Living Colour lançava ‘Vivid’. Uma pancada sonora que misturava metal, soul sessentista e rap. Na mesma década o Public Enemy fundia seu rap de denúncia com guitarras pesadas.
Confira alguns artistas negros que fizeram e fazem do rock o que ele é hoje
Lenny Kravitz
Compositor, guitarrista de mão cheia, multi-instrumentista, produtor, ator. Kravitz construiu uma sólida carreira na música tendo controle total da sua produção artística. Independência que rendeu frutos de qualidade inquestionável como “Let Love Rule” (1989), “Mama Said”(1991) e êxitos comerciais como a trilogia “Are You Gonna Go My Way” (1993) “5” (1998) e “Lenny” (2000).
Músicas para ouvir no talo: Are You Gonna Go My Way, It Ain’t Over ‘Til It’s Over, Can’t Get You Off Of My Mind
Living Colour
Junte alguns dos melhores instrumentistas do mundo, um vocal competente, misture influências de punk, funk, heavy metal e soul e temos um disco de estreia para se ouvir da primeira à última faixa sem pular. Foi um bálsamo para o hard rock a concepção de “Vivid”, pelos norte-americanos do Living Colour em 1988. O guitarrista Vernon Reid, liderando Corey Glover (vocal), o baixista Doug Wimbish e o baterista William Calhoun, trouxe frescor em meio à farofa que dominava o cenário do gênero. ‘Cult Of Personality” é uma pancada que culmina com um dos melhores solos de guitarra da história.
Após isso,mais dois álbuns bem-sucedidos: ‘Time’s Up e ‘Stain’, com um a banda levando um merecido Grammy em 1990.
Nos anos seguintes a banda não conseguiu o reconhecimento merecido dentro do mainstream, mas suas performances ao vivo firmaram o grupo como uma das grandes de seu tempo.
Músicas para ouvir no talo: Cult Of Personality, Sunshine of Your Love, Leave It Alone
Black Pumas
O duo formado por Eric Burton (vocalista/guitarrista) e Adrian Quesada (produtor/multi-instrumentista) trouxe em seu primeiro álbum (homônimo) misturas deliciosas de soul psicodélico, folk, música latina e rock.
Uma viagem nostálgica, que não tenta reinventar a roda, mas prestar homenagem ao que já foi feito e com qualidade ímpar. A dupla, duas vezes indicada ao Grammy, concebeu um disco de estreia viciante, mostrando que há futuro promissor fora do grande circuito dominado por produções esquizofrênicas tentando acertar todos os lados. Conciso e objetivo.
Músicas para ouvir no talo: Colors, Old Man, Black Moon Rising
Chuck Berry
O rock não seria o rock sem Chuck Berry. Os Beatles tocavam Berry em seus primeiros shows. Sem Berry não haveria Rolling Stones.
Um dos precursores do rock levou uma vida intensa assim como suas performances, que podem ser conferidas em dezenas de vídeos no Youtube. Sucesso comercial, vendendo milhares de discos entre as décadas de 50 e 60, Berry não encontrou o mesmo reconhecimento até chegar à Calçada da Fama do Rock and Roll. “Maybellene” e “Johnny B.Goode” são clássicos absolutos e eternos.
Chuck Berry foi um grande entre os grandes, reconhecido pelos seus pares de todas as épocas. Caminhou entre Nat King Cole e Muddy Watters e teve sua obra redescoberta após lançamento do álbum inédito ‘Chuck’, lançado após sua morte.
Músicas para ouvir no talo: Roll Over Beethoven, Johnny B. Goode, Big Boys
Rosetta Tharpe
Rosetta Tharpe, ou Sister Rosetta Tharpe, trazia fogo divino às reuniões de sua igreja tocando sua guitarra com um ritmo que ainda não tinha nome. A distorção aplicada ao gospel foi um catalisador para o nascimento do rock. Espiritualidade gospel misturada ao R&B lhe renderam turnês com o lendário Muddy Waters.
Canções como ‘Strange Things Happening Every Day’ e ‘Precious Memories’ já eram rock antes do rock ser chamado assim. Se existisse justiça no mundo da música ela seria reverenciada como a Rainha do Rock.
Músicas para ouvir no talo: Precious Memories, Jericho, This Train
Jimi Hendrix
O que seria da guitarra elétrica sem Jimi Hendrix? O que seria o rock se ele não tivesse partido naquele fatídico 18 de setembro de 1970. Em sua breve vida, Hendrix redesenhou a maneira de tocar guitarra e de perfomar em cima do palco. Era um homem negro e seu instrumento em uma época de segregação.
Os seminais disco Are You Experience (1967), Axis: Bold as Love (1967) e Eletric Ladyland (1968 ), culminando com a apresentação antológica no Festival Woodstock em 1969 colocam Jimi Hendrix em um pedestal reservado a poucos na história da música.
Músicas para ouvir no talo: Voodoo Child; All Along The Watchtower
Little Richard
Richard quebrou a barreira entre público negro e público branco. Em meio à pesada segregação racial norte-americana, seu rock feito de pura energia vencia as separações sociais durante breves momentos. “Tutti Frutti” é um clássico inesquecível, mas o cantor dominou as paradas com sucessos explosivos como “Long Tall Sally”, “Rip It Up”, “Lucille” e “Good Golly Miss Molly”.
Os anos 50 foram do Grande Richard, que com seu piano e vocalizações influenciadas pela música gospel, externavam sua sexualidade à flor da pele em letras muitas vezes confusas, mas que se faziam entender pelo ritmo vibrante.
O cantor morreu em maio de 2020. Sem ele, o som de Beatles, Rolling Stones e tantos outros seria completamente diferente.
Músicas para ouvir no talo: “Tutti Frutti”, “Rip It Up”
Black Pantera
A banda brasileira tem chamado a atenção do público e da critica desde o álbum “Agressão” (2018), mas foi com o ótimo “Ascensão”, lançado em 2022 que muitas barreiras foram derrubadas pelos mineiros. Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo “Pancho” Augusto levaram sua mistura de punk, metal e harcore aos principais palcos do país, incluindo show apoteótico no Rock in Rio.
O trio faz rock antirracista sem medo de colocar o dedo na ferida e sua honestidade crua promete ir ainda mais longe.
Músicas para ouvir no talo: Padrão é o Caralho, Fogo nos Racistas
TV On The Radio
A TV On the Radio foi uma das revelações mais bacanas do indie dos anos 2000. Punk, rock alternativo, jazz, pop eletrônico, tudo entrou no caldeirão de influências nova iorquina, inclusive a Bad Brains, outra banda formada por integrantes pretos e que nunca recebeu os merecidos créditos.
‘Ok Calculator’ é uma coleção de demos do grupo que mostra um pouco da sonoridade que viria a ser lapidada em álbuns interessantes como ‘Desperate Youth, Blood Thirsty Babes’ (2004) e ‘Return to Cookie Mountain’ (2006)
Músicas para ouvir no talo: Will Do, Second Song
Inocentes
Banda pioneira do punk no Brasil, os Inocentes tem como líder o músico Clemente, ex-integrante da banda Restos de Nada, considerada a primeira banda punk do Brasil. Em 1982, foram convidados, junto com Cólera e Olho Seco, a participar da coletânea Grito Suburbano, o primeiro registro sonoro das bandas punks brasileiras, lançada pelo selo Punk Rock Discos naquele ano.
A íntima ligação com a capital paulista produziu pérolas como “Pânico em SP’, do disco homônimo de 1986 e “São Paulo” do de “O Barulho dos Inocentes” (2000)
Músicas para ouvir no talo: Pânico em SP, Garotos do Subúrbio
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