Entrevista: “Dois Tempos” traz Mari Oliveira e Sol Menezzes em série cativante sobre temas feministas e viagem no tempo

por | maio 10, 2023

Durante sessão especial para imprensa de “Dois Tempos”, nova série da Star+, risadas e olhares cúmplices mostraram recepções positivas das sacadas espertas da produção dirigida por Vera Egito (“Todxs Nós” e “Amores Urbanos”) e estrelada por Mari Oliveira (“Medusa”) e Sol Menezzes (“Irmandade”). Nem sempre a impressão dos jornalistas vai de encontro a do público, mas é possível prever quando a linguagem e as soluções visuais captam o reflexo de um tempo e isso “Dois Tempos” faz muito bem.

Paz (Sol Menezzes) é uma influenciadora com milhões de seguidores que foi cancelada por um grupo de jovens feministas e tenta gerir a crise na carreira enquanto mantém seu estilo de vida acelerado. Enquanto isso, em 1922, Cecília (Mari Oliveira) é uma jovem lésbica que sonha ser escritora, mas está prestes a se casar com um homem para cumprir os costumes da época.  Paz e Cecília acabam trocando de espírito no tempo, e agora uma terá que viver uma no tempo da outra.

Mari Oliveira fala sobre suas personagens em 'Dois Tempos' | Star Brasil

Imagem: Divulgação

Conversamos com as protagonistas da série e elas falaram um pouco sobre como chegaram à essas personagens tão singulares. “Eu cheguei nessa série muito de paraquedas. Eu estava em Cannes estrelando “Medusa” e aproveitei esse momento de evidência, que todo mundo tava olhando para mim e mandei material, avisar que ‘eu tô aqui, que eu quero trabalhar’, e “Dois Tempos” já estava em um processo de seleção há um bom tempo, mas eles ainda não tinham encontrado a Paz. Eu lembro que  li o texto e pensei ‘caramba eu preciso fazer o teste para assinar esse contrato’. Aí fiz o teste e passei”, conta a animada Mari Oliveira.

No caso de Sol Menezzes, o escritório que agencia sua carreira enviou informações sobre a série e ela se surpreendeu com o plot que misturava a vida de duas personagens. “Como assim gente? São duas? (risos) e era um improviso, a gente tinha que criar os textos eu pensei ‘nossa, que loucura’. Eu fiquei confusa, mas dei meu melhor. Usei essa confusão para compor a Cecília e a diretora adorou. Depois disso eu fiz um teste on-line com a Vera e eu lembro que assim que desligaram a câmera, ela estava apoiadinha, olhando, aí eu pensei: ‘acho que rolou’”, explicou a atriz

Dois-Tempos-Star-Plus Dois Tempos:

Mari Oliveira, Vera Egito e Sol Menezzes (Imagem: Disney)

Vera Egito conduz a série da Star + de forma ágil, com as cenas no passado e no presente se entrelaçando enquanto acompanhamos as situações absurdas em que Paz e Cecília se metem enquanto permanecem deslocadas de suas épocas. Ponto também para as atrizes que conseguem exprimir surpresa, encantamento e confusão diante de uma situação tão inusitada. 

“Sempre sem querer fui parar nesse lado do cinema mais fantasioso e que brinca mais com os gêneros então não é a minha primeira experiência com o lúdico, mas fantasia no nível Disney é a primeira vez e foi muito mágico gravar e gravar nesse cenário, nessa sobreposição de roupas, nessa história a gente conseguiu criar um universo muito consistente. Acho que a gente fez com isso com sucesso”- Mari Oliveira

 

“É a minha primeira experiência com algo mais lúdico e é uma delícia você poder usar esse pozinho de pirlimpimpim dentro do absurdo, poder brincar de usar um tom acima, um tom além do naturalista. Para mim foi um presente enquanto atriz estar nesse mágico mundo Disney foi bom demais” – Sol Menezzes

Se Hollywood explora as brincadeiras no tempo há um tempo, não é algo comum em produções brasileiras. Para estudar para a série, Sol e Mari se inspiraram menos nas produções estadunidenses de ficção científica e mais em séries como “The Great”, do Prime Video, que se passa em uma época antiga, mas usa linguagem mais próxima ao nosso presente, e também em The Marvelous Mrs. Maisel, também do Amazon Prime Video. Ver os dois dramas satíricos ajudou ambas a achar o tom de humor e drama que poderiam aplicar em “Dois Tempos”.  

Imagem: Reprodução

Confira mais da nossa conversa com Mari Oliveira e Sol Menezzes

O que da experiência pessoal vocês levaram para as personagens?

Sol: Eu acho que a questão da condição da mulher. São os principais temas da série A gente tem uma ideia de 100 anos Antes e 100 anos depois e o quanto as coisas avançaram, mas aí a gente percebe que não avançou tanto assim.  Uma personagem chega achando que agora as mulheres estão livres eela vai entender que não é tão bem assim. isso foi algo que me tocou muito.

Tem horas que por ela ser quem ela é, acaba enclausurada, e isso foi algo que me doeu. Pô, como é possível um marido mandar nos seus bens e dizer que você não tá bem e que você tem que se tratar? O quanto um homem ainda tem poder sobre o corpo de uma mulher isso foi algo que eu pensei. Poxa, mas a gente ainda vive isso né?Tem também  a questão da Cecília ser lésbica, né? (eu sou bissexual ). Eu acho que a forma que ela vem querer mostrar isso para o mundo e ela pensa que tá tudo certo e mais uma vez ela vê que não é, que as coisas melhoraram, mas não tanto assim, né então tem esses espelhamentos com a minha vida enquanto pessoa. Então é trazer o lúdico para falar de coisas tão contundentes e isso foi importante para a gente. É papel do artista refletir a realidade, falar de coisas que precisam ser faladas e conversadas

Mari: Eu acho que minha coisa favorita da série, é usar a comédia como uma forma muito efetiva de educar. A pessoa tá rindo e está se divertindo, mas você coloca uma sementinha que ela vai se dar conta mais tarde.Levei do meu pessoal para minha inquietação. Sou extremamente bem cercada, mas algumas coisas eu nunca tinha convivido ou tinha ouvido. Tenho uma imagem para Paz no passado como uma  bolinha de pinball. Ela vai reagindo e fazendo o que quer, como quer e as pessoas que lidem com isso. Fiquei muito inquieta quanto aos discursos do passado, o constrangimento das mulheres sobre como se vestem, se elas trabalham ou não, a forma com que aquele padrinho realmente é o patriarca da família e cuida do dinheiro e é visto como uma pessoa generosa. Então toda minha inquietação com essas falas, a forma dessa família ser gerida é muito real, não só porque estamos entre ótimos atores, mas porque eram coisas que era a verdade do momento. Fica difícil de separar, então todas as minhas experiências foram muito reais, eu chegava em casa muito revoltada.

Dois Tempos: Star+ anuncia fim das gravações de mais uma série brasileira -  Pipoca Moderna

Imagem: Divulgação

 O que o passado pode ensinar para a Paz e o presente para a Cecília?

Mari: O passado pode ensinar para ela uma coisa muito valiosa que é a questão do tempo. Ela é muito contaminada com esse estresse, da ansiedade do presente. Ela vai muito acelerada e carrega  o peso do cancelamento nas costas e o que ela aprende aí ao longo da temporada é ter tempo.Ela é extremamente criativa e você vê que ela é uma pessoa sobrecarregada.

A partir do momento que o passado esgarça esse tempo dela, ela precisa se entreter de uma outra forma, ser uma outra pessoa e se relacionar com as pessoas olho no olho porque não tem muito o que fazer além disso por causa da tecnologia. Ela fica uma pessoa bem humorada, volta a ser criativa, volta a fazer trabalhos manuais, volta a viver o seu tempo. A Paz começa a desacelerar e fica uma pessoa muito mais tranquila.

Acho que a coisa mais preciosa que ela aprende no passado é ter calma e paciência… paciência é muito forte para ela (risos)  mas tranquilidade para estar no momento presente.

Sol: Eu acho que a Cecília é um pouco ingênua no passado. No presente, tem um momento que ela diz que acha que aqui as pessoas não podem ser de verdade. Ela quer falar tudo, quer falar o que ela pensa, ela acha que todo mundo é livre, mas então ela aprende a ter uma certa maldade, ela aprende que não são flores, que não é porque ela está no futuro que pode fazer o que quer e aí também vai um pouco da responsabilidade. Então ela faz coisas sem pensar e depois ela se ferra Então acho que ela aprende a responsabilidade dos seus atos e a deixar de ser ingênua.Infelizmente no futuro o de mentira ganha muito espaço, né? Ela aprende a ser mais responsável e ser mais maliciosa com as coisas e com as pessoas.

Dois Tempos: gravações da série nacional chegam ao fim - Entretetizei

Imagem: Reprodução

 Quais as expectativas para a recepção do público?

Sol: Eu tô super curiosa para saber o que as pessoas vão falar. A série pode trazer muitos assuntos, trazer muitas discussões no sentido bom, sabe? Eu quero ouvir sobre o que as pessoas vão falar sobre as questões da mulher, de homofobia, de ter pessoas pretas ricas, então eu tô curiosa eu estou ansiosa e com altas expectativas 

Mari:  Eu também estou com altas expectativas porque é uma série que se eu não fizesse parte, ia ficar muito chateada. É um trabalho que eu gostaria de assistir e atende todas as demandas de discussão de estética, demanda de referência para pessoas pretas num lugar bem sucedido,num lugar positivo. Tem tudo para dar certo e espero que chegue na graça das pessoas. Eu tenho a leve impressão de que as expectativas serão atendidas porque tem tudo para dar certo. Estou muito orgulhosa do nosso trabalho e muito confiante. A gente conseguiu tocar duas personagens grandes lindamente, com confiança, com propriedade. Dá para ver que a gente tá feliz e fazendo um trabalho que a gente acredita muito, então espero que isso reflita nas pessoas.

 

“Dois Tempos” já está disponível na Star+

0 comentários


– ÚLTIMOS VIDEOS –


– ÚLTIMAS NOTÍCIAS –