“Irmãos Por Escolha“,  documentário dirigido por Gabriel Mattar, chegou ao catálogo da Netflix no dia 11 de junho. A produção foi a primeira na história a ser rodada dentro da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o que considerando a atual conjectura política, já é um motivo de curiosidade.

O doc. acompanha o dia a dia intenso dos treinamento dos cadetes, homens e mulheres que acabam criando laços uns com os outros enquanto vivem o processo de formação.  “Eu tive um irmão que morreu com 12 anos e eu sempre tratei meus amigos como se fossem irmãos. O meu primo também perdeu o irmão e todos nós éramos muito próximos. Éramos irmãos por escolha”. Daí surgiu o título para a produção do documentário que nasceu após o primo de Gabriel Mattar ter feito uma preparação para um personagem, ter visitado a AMAM e relatado a relação fraterna entre os cadetes.

Ao assistir “Irmãos por Escolha”, acompanhamos alguns personagens em especial, mas segundo o diretor, não foi ele quem escolheu. Os cadetes se destacaram naturalmente, o que reforça o tom documental do filme.

Gabriel Mattar (no meio) em pré-estreia de “Irmãos por Escolha”

O Brasil e os militares nunca viveram uma boa relação. É fato histórico que nossa nação foi construída em cima de vários golpes e instituições como a AMAN treinam indivíduos para uma guerra que às vezes parece ser contra o povo. Visão que o diretor discorda. “Meu ponto de vista é muito humano e sensível em relação aos indivíduos que estão lá dentro. A AMAN não é serviço militar obrigatório, eles entram por escolha (…) e outra coisa que você nota e está no filme é a escolha da arma, que é como um signo que define a personalidade de cada um. Eles chamam lá dentro ‘o espírito da arma’. Eles não são moldados para serem robozinhos todos iguais”, conta Gabriel Mattar.

O projeto é o primeiro trabalho de direção de Mattar. Oriundo da publicidade, para alguns, o filme pode soar como propaganda e não como retrato fidedigno da Academia dos Agulhas Negras. É difícil precisar o quanto a presença das câmeras moldou o comportamento dos instrutores em relação aos formandos. “No começo senti que incomodava, mas depois as máscaras começaram a cair e eles ficaram à vontade”. Questionado sobre esse ‘se sentir mais à vontade’, o diretor explica a diferença entre a academia e as tropas treinadas da forma tradicional: “A AMAN, por ser a única academia do exército, eles agem mais preocupados com a formação do que outra coisa. A formação é diferente do adestramento. Muitos cabos e soldados passam por adestramento e é diferente na AMAN. Até os oficiais que trabalham lá são selecionados pelo comportamento”, explica.

Imagem: Divulgação

Difícil pensar em Academia Militar dos Agulhas Negras sem pensar no nome do ex-presidente da extrema-direita Jair Messias Bolsonaro. Gabriel Mattar preferiu não abordar a relação dos discursos do político e suas constantes citações à AMAN. Para o realizador, Bolsonaro é muito mais político do que militar. “O foco sempre foi na camaradagem e depois na superação, né? Todas as vezes que eu fui no aspirantado, o Bolsonaro estava lá, mas esse não era o foco, assim como os oficiais também não eram. No geral, eu focava só nos cadetes, meu interesse era esse (…) Esse filme poderia ter sido feito numa companhia de balé, num time de remo, porque são situações que levam o ser humano a precisar do outro. Não é do meu interesse este aspecto político. Acho que já tem gente demais falando disso”, conclui.

Assista ao trailer de “Irmãos por Escolha” AQUI.