Festival Literário Pretinhas destaca trabalho de escritoras negras

por | fevereiro 16, 2024

Com resiliência e propósito autoras negras driblam as adversidades do mercado editorial brasileiro que ainda hoje não é muito aberto para escritoras, principalmente negras

Segundo pesquisa realizada por grupo de estudos de literatura contemporânea da Universidade de Brasília após análise de 258 romances publicados por três grandes editoras entre os anos de 1990 e 2004, 93,9% dos autores publicados eram brancos. O estudo também mostrou que em 56,6% das obras não há nenhuma personagem não branca, e somente em 1,6% não há nenhuma personagem branca. Outro dado é que 20% das personagens negras aparecem em apenas dois livros.

Nos últimos anos o cenário começou a mudar, avançar, ainda que timidamente, e na primeira edição do Festival Literário Pretinhas que acontece nos dias 23 e 24 de fevereiro, na Fábrica de Cultura Cachoeirinha, 16 escritoras e 4 editoras que publicam obras de autoras negras serão destaque para que mais pessoas conheçam o trabalho que vem sendo desenvolvido por mulheres que resolveram escrever literatura com personagens pretas, algumas como relato pessoal e questionamentos e outras de maneira lúdica para que crianças aprendam desde cedo a serem antirracistas e as Pretinhas possam se ver representadas também nos livros.

Vilma Queiroz, que é a idealizadora do Festival Literário Pretinhas, mulher negra, professora aposentada que quando criança não se via representada nos livros e enquanto professora buscou alternativas para contar histórias com personagens pretas, declara: “o mercado editorial brasileiro ainda está bastante atrasado nas questões de gênero e raça, principalmente mulheres negras, mesmo que a literatura preta tenha nomes inspiradores de autoras como Conceição Evaristo, Maria Carolina de Jesus, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista negra do país, Djamila Ribeiro, entre outras, e o Festival Literário Pretinhas vai apresentar autoras negras contemporâneas que estão publicando seus livros na maioria das vezes de maneira independente”.

“Entre as escritoras negras participantes destacamos duas autoras que com resiliência e propósito conseguiram lançar livros com temática afro-brasileira ou com personagens negros, de forma independente: Beatriz Cruz, autora do “Carro Cris” e idealizadora do projeto ‘Lá em casa tá tudo bem’, e Patrícia Gonçalves que em 2023 lançou sua própria editora para agilizar a publicação de seus livros e também abrir espaço para outras autoras e escritores negros, a Paty Editora.”, completa Vilma.

Foto: Divulgação

Patrícia Gonçalves é baiana e seu primeiro livro “O Poderoso Chinelinho” foi escrito em 2011 e publicado através do Prêmio Autores Baianos da FGM. Patrícia Gonçalves, mora em São Paulo há 12 anos, e a vontade de escrever foi motivada pela sua experiência como professora, ainda na Bahia.

A escritora também já publicou “Dudinha Presente” em 2022 e “Memórias de Carinho” em 2023, ano que montou sua própria editora, a Paty Editora, para publicação de seus livros e para que outras escritoras e escritores negros tenham oportunidade para publicar suas obras.

“A missão da Paty Editora é trazer conteúdo que acrescente e incentive, que fale de dons, talentos, de sonhos que podem ser realizados”, declara Patrícia.

Foto: Divulgação

Beatriz Cruz é da cidade de Diadema, São Paulo, e escreveu “Carro Cris” quando tinha 23 anos. Hoje está com 27 anos e lançou o projeto “Lá em casa tá tudo bem sim” que aborda a dificuldade de crianças e jovens em descobrir as violências e abusos que acontecem no ambiente doméstico. O primeiro episódio foi baseado em sua própria história de abuso sexual. “Carro Cris” é um livro de educação sexual que apresenta a história de Cris que descobre sobre suas partes íntimas e como cuidar delas e não deixar ninguém tocar.

Beatriz conta que só percebeu que era abusada quando sua primeira namorada, que era mais velha que ela, a alertou. Vinda de uma família conservadora, foi complicado entender tudo que estava passando e tomar coragem para denunciar. Através do livro “Carro Cris” e do projeto “Lá em casa tá tudo bem sim” Beatriz Cruz busca levar educação sexual para que crianças e adolescentes saibam identificar o que é abuso e buscar ajuda.

O 1° Festival Literário Pretinhas é uma realização da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo com apoio do Proac, Poeisis, Fábricas de Cultura e produção e direção de Vilma Queiroz Produções Culturais e Renata Poskus Eventos e Comunicação. O evento tem entre seus objetivos incentivar a leitura infantojuvenil e também contribuir para que crianças negras se vejam representadas nas histórias que leem.

Foram selecionadas, por edital, 20 expositoras para a Feira Literária – sendo 16 escritoras negras e 4 editoras que possuam livros infantojuvenis de autoras pretas do estado de São Paulo. Um dos objetivos da Feira Literária é incentivar a leitura e também mostrar que é possível que crianças negras se sintam representadas em personagens de livros.

AGENDA:

1 ° Festival Literário Pretinhas

Data: 23 e 24 de fevereiro (sexta-feira e sábado)

Horário: das 11 às 18 horas

Local: Fábrica de Cultura da Cachoeirinha

Rua Franklin do Amaral, 1575 – Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo – SP

Entrada grátis

Saiba mais no site oficial

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