Livro sobre Lima Barreto fala de racismo e saúde mental no seu centenário de morte

por | setembro 20, 2022

A trajetória de Lima Barreto (1881-1922) segue despertando polêmicas e inspirando histórias. No ano do centenário de morte do genial autor negro, a editora Malê lança “Uma temporada no inferno”, na próxima quarta-feira, dia 21, às 18h, na Livraria EdUERJ, no Campus Maracanã. O personagem do romance do professor Henrique Marques Samyn quer reescrever a história e se interna no hospício onde o autor carioca esteve em dois períodos, na Urca, por problemas com alcoolismo.  Foi na segunda internação, entre o Natal de 1919 e fevereiro de 1920, que Lima fez as anotações publicadas depois como “Diário do hospício”, que serviram de base para o inacabado romance “O cemitério dos vivos”.

Cria da zona oeste do Rio, Samyn é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde dá aulas na graduação e na pós-graduação, além de desenvolver pesquisas sobre representações de gênero e raça em produções literárias. Na instituição, coordena o projeto LetrasPretas, dedicado à divulgação e ao estudo da produção intelectual de mulheres negras. Também atua como professor e palestrante em diversas universidades brasileiras e estrangeiras. É autor de “Levante”, uma síntese poética da história do povo negro no Brasil, e organizador e tradutor de “Por uma revolução antirracista: uma antologia de textos dos Panteras Negras”. Também é coorganizador de “(Sobre)vivências de mulheres negras”.

Samyn crê que há um interesse crescente na obra do autor de “Policarpo Quaresma”, principalmente pela juventude negra e pobre que o reconhece como um pioneiro da literatura militante:

“O Brasil é um país historicamente racista, o que se reflete em um sistema educacional elitista e excludente. A história de nossa literatura negra é de muita luta e resistência, tanto para viabilizar a publicação quanto para criar um público leitor entre as próprias pessoas negras. Isso vem mudando graças a iniciativas dos movimentos negros e a editoras que assumem essas tarefas, como a Malê.”

Sobre o novo livro, ele tem perguntas e algumas respostas:

“E se alguém fizesse da tarefa de concluir essa obra a missão de vida? E se a pessoa fosse um homem que, movido por essa obsessão, chegasse a se internar, seguindo os passos de Lima? E se esse homem, sendo negro, acabasse preso nas redes do racismo e da violência manicomial? Esse é o enredo. Entre delírios e a razão, a narrativa reúne fragmentos deixados pelo personagem, sem cronologia, conversando com escritos de Lima Barreto e incorporando ampla documentação da época”, conta Samyn.

Samyn ressalta que o narrador-protagonista funciona como uma alegoria da condição do povo negro no Brasil. É o desejo de se tornar “alguém na vida” que faz com que desenvolva a obsessão pelo escritor de “Clara dos Anjos”, ao perceber traços biográficos em comum.

“Quais seriam as implicações disso numa sociedade racista, que condena os corpos negros a um mesmo destino? Como poderia esse personagem não sofrer violências semelhantes às que incidiram sobre Lima, e encontrar um fim não menos trágico?”, pergunta o autor.

Com 120 páginas (R$ 44), o livro tem orelha assinada pelo historiador Petrônio Domingues e prefácio de Caroline Bianca Moreth, que é mestre em literatura. Ela vai participar de um bate-papo com Samyn, no lançamento. A Livraria EdUERJ fica na Rua São Francisco Xavier, 524, no hall dos elevadores da universidade.

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