Luh Maza estreia como diretora de série de TV em “Da Ponte Pra Lá”, com Gabz

por | abril 3, 2024

Drama investigativo, voltado ao público jovem adulto, chega à plataforma MAX em 4 de abril

Luh Maza, conhecida como a primeira roteirista trans da TV brasileira – por Sessão de Terapia (2019) -, inicia uma nova fase em sua carreira assinando pela primeira vez como uma das diretoras de uma série: “Da Ponte Pra Lá”, drama investigativo voltado ao público jovem adulto, na plataforma Max (antiga HBO Max). “Estou ansiosa! Esse ano completo 20 anos como diretora de teatro, mas ao mesmo tempo “Da Ponte Pra Lá” é minha estreia como diretora de série, e é uma série que tem muito de mim. Estive envolvida nos últimos três anos em seu desenvolvimento, a começar pela sala e roteiro e depois sendo convidada a ser uma das diretoras, justamente para contribuir com a linguagem e os valores que fundamentam a própria história”, conta Luh Maza.

Em “Da Ponte Pra Lá”, Malu, uma jovem periférica, se infiltra na escola mais exclusiva da alta sociedade paulistana em busca de uma resposta: Quem matou o seu melhor amigo Ícaro, um jovem trans? Malu, rapper, filha do maior traficante da cidade, não acredita que Ícaro tenha se matado, como insistem as autoridades. Agora, os novos colegas de Malu e membros das famílias mais poderosas do Brasil, vão se tornar cúmplices, amigos, amantes e suspeitos. “Da Ponte Pra Lá” é uma série investigativa sobre juventude, paixão e luto, situada entre dois mundos divididos por um mistério. 

De acordo com Luh Maza, ela se identifica muito com Malu, além de lembrar muitas meninas pretas das periferias, que não se submetem. Meninas que sabem usar da inteligência e da estratégia para transformar o mundo através de sua arte. “Sempre pensei no ‘punch” do feminismo negro de bell hooks, e na atitude e comportamento de rappers femininas, como as irmãs paulistas Tasha & Tracie. Quando li a sinopse da produtora, imediatamente pensei na Gabz, por isso é o máximo vê-la de fato como Malu, nossa heroína que como várias meninas pretas de sua geração, vive confrontando o mundo estabelecido e fala na cara da sociedade sobre sua hipocrisia. Nesse sentido, o rap é fundamental como expressão poética e política de Malu, além da pesquisa imprescindível do nosso assistente de roteiro, Patrick Andrade, a colaboração de Roberta Estrela D’Alva e da Ravena foram preciosas nos versos”, destaca.

Outro personagem que Luh destaca é Ícaro. Ela conta que relutou em aceitar o convite para se associar ao projeto ao ler a sinopse inicial, pois a ideia de mostrar a morte de personagens transgêneros e negros é algo que foge de sua obra autoral como roteirista e diretora,  já que ela busca sempre estabelecer imaginários positivos para a população. Segundo Luh, depois de negociações e discussões éticas, ela aceitou entrar na equipe com a promessa de uma representação original e responsável dos temas abordados. Sobre Ícaro, especialmente a morte do jovem modelo trans e negro, Demétrio Campos (jovem que morreu aos 23 anos em 17/05/2020 – Dia de Internacional de Combate à LGBTfobia – companheiro de comunidade de Luh), se tornou uma motivação extra para expor os mecanismos que fazem jovens talentosos morrerem ou se matarem só por ser quem são no Brasil.

Foto: Ariela Bueno

“Malu e Ícaro são mais que personagens, são “espíritos do nosso tempo”, materializam em si ancestralidades, vivências e elaborações artísticas e intelectuais da nossa juventude do lado de cá da ponte, que não se reconhece nos padrões de uma sociedade moldada por e para pessoas brancas, heteronormativas e cisgêneras”, ressalta a diretora.

Ícaro é um jovem cheio de energia e sonhos de uma vida melhor. Ele tem um talento único para moda, fruto justamente dos desafios de sua vida. Quando entra na escola, primeiro é ridicularizado por ser diferente, mas o diferente ao mesmo tempo que causa repulsa desperta curiosidade, interesse e a tão falada apropriação cultural e o descarte. É como se as pessoas ao redor fossem incapazes de perceberem o roubo e a violência que causam ao jovem. Segundo a diretora, o voo de Ícaro é então atravessado por ele ser preto, trans e pobre. “O mesmo voo que pessoas trans e negras como eu e como Demétrio Campos têm interrompido cotidianamente”, ressalta.

Se Gabz dá vida a decidida Malu, jovem que investiga a morte de seu amigo, é Victor Liam, um jovem ator que está sendo lançado pela série, que vive Ícaro. “O Victor foi uma surpresa de tirar o fôlego! Com todos os desafios que enfrentou, o teste dele se destacou pela potência. Ainda estamos avançando na representatividade transmasculina nas artes e ter Victor Liam como um dos protagonistas, é uma oportunidade não só para ele, mas para o mercado e o público valorizarem o trabalho de um jovem ator negro retinto e transgênero. Vale ficar atento às diferentes emoções do personagem e seu crescente explosivo ao longo dos episódios. Como Gabz, Victor Liam é um ator que ainda vamos ouvir falar muito!”, exalta Luh.

Diretora Luh Maza | Foto: Ariela Bueno

É difícil para Luh Maza, diretora apaixonada, não citar todos os atores do vasto elenco, como João Guilherme, Marcello Antony, Virgínia Cavendish, Manu Morelli, Amandyra, Esther Tinman, Alexandre Bitencourt, Caio Horowitz, Augusto Madeira, Mawusi Tulani, Paulo Américo e Gabriel Lodi. A própria Luh Maza, além de uma das roteiristas e diretoras da série, fez uma participação como atriz. “Minha primeira formação é como atriz e isso sempre aparece, seja no modo como escrevo ou no meu cuidado com o elenco durante as filmagens… Então foi muito legal ter uma diária do outro lado das câmeras, ao lado dos atores”, conta.

Da Ponte Pra Lá

Além das cenas de Malu e Ícaro, Luh Maza conta que poderia eleger cenas importantes com todos os personagens. “Não escrevo nem dirijo só os periféricos, pretos ou trans, pelo contrário, trabalhar com o outro lado da história me instiga bastante, por isso as cenas mais emocionais do Enzo, vivido por João Guilherme, são algumas das minhas preferidas”, conta.“Da Ponte Pra Lá” foi filmada quando estávamos saindo da pandemia da COVID-19. Foram dezenas de noturnas entre a Brasilândia (periferia da zona norte) e bairros nobres da zona sul. “Foi um processo desgastante, de semanas filmando só noturnas, mas o elenco, tanto os jovens, quanto os adultos, foram muito parceiros de toda produção. E, sem dúvida, eles foram nossa maior inspiração ao início de cada dia”, comenta.

“Da Ponte Pra Lá” será lançada na plataforma MAX dia 4 de abril com sete episódios: os 3 primeiros no dia 4; os episódios 4 e 5 no dia 11 e os dois últimos em 18 de abril. Além de Luh Maza, a série conta com Giovanni Bianco e Tatiana de Lamare na direção e Rodrigo Monte como diretor-geral. Luh Maza, Rafael Spínola e Thais Falcão assinam o roteiro, sendo a última co-criadora da série com Erick Andrade. A produção executiva é de Vicente Amorim. “A WBD (Warner Bros. Discovery) está vindo muito forte com o lançamento da Max no Brasil com conteúdo original, o que deve ser louvado! Espero que o público jovem, mas também o adulto, se envolva com o nosso quebra-cabeças de “Da Ponte Pra Lá”, que é uma série investigativa e cheia de emoção.” Completa a diretora e roteirista.

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