Quem assistiu as inúmeras reprises de “O Rei do Gado”, deve conhecer bem o rosto de Antônio Pompêo. Na trama ele interpretou o sem-terra Dominguinhos. Ele faleceu em 2016, aos 62 anos, e estava desde 2012 longe da televisão, quando interpretou Álvaro em “Balacobaco”, novela da Record. Na época, sua amiga, a atriz Zezé Motta, lembrou que ele estava deprimido por falta de trabalho. “Morreu de tristeza”, declarou.
Zezé Motta atuou ao lado de Pompêo no filme “Xica da Silva” (1976), longa de Cacá Diegues em que ele encarnou Mucamo. Assim como declarado pela atriz, quando disse que o ator sempre foi mal aproveitado, esta é a impressão também do colunista sobre ele e tantos outros atores negros surgidos entre os anos 60 e 2000.
Nascido em 1953 e natural de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Pompêo foi um homem de múltiplos talentos. Também artista plástico e ativista. Ele foi diretor de Promoção, Estudos, Pesquisas e Divulgação da Cultura Afro-Brasileira da Fundação Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura.
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Foto: Reprodução/TV Globo
Entre os destaques de seus inúmeros créditos na TV estão novelas da Globo como “A Viagem”, “Pecado Capital”, “Mulheres de Areia”, “A Casa das Sete Mulheres”, “Pedra sobre Pedra” e “Fera Ferida”. Ele estreou na TV em “A Moreninha”, em 1975. Em folhetins fora da TV carioca, Pompêo atuou na extinta TV Manchete em “Kananga do Japão” e “A história de Ana Raio e Zé Trovão”.
Após as notícias de que a causa da morte de Antônio Pompêo, que morava no bairro de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, pode ter sido um infarto fulminante, o que surpreendeu familiares que diziam que ele sempre foi muito saudável, é difícil não pensar se o final não teria sido diferente se o ator tivesse tido trabalho e reconhecimento sobre sua trajetória. Relegado a papéis terciários, em muitas vezes quase figurante, o expressivo artista poderia ter contribuído muito mais à teledramaturgia e ao cinema brasileiro se não fosse o racismo inerente a todos os nichos de nossa sociedade, incluindo a produção cultural.
Em minisséries como “Lampião e Maria Bonita” (1982) e “O Tempo e o Vento” (1985), Pompêo fazia muito com o pouco que lhe davam, transformando cada segundo em cena em um ato grandioso de intensidade, como se tratasse cada papel como o último.
Antônio Pompêo deixou seu legado participando de 24 novelas e minisséries, 11 filmes, entre os quais “O Xangô de Baker Street” (2001) e “O Homem que Desafiou o Diabo” (2007). Ainda assim, é um pouco amargo pensar que ele poderia muito mais se tivesse tido oportunidade.
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