Até 13 de novembro, o Rio de Janeiro se transformará em uma galeria a céu aberto com o projeto “Mixagens Urbanas”, uma exposição de lambe-lambes que ocupará as ruas da região portuária entre Gamboa e Saúde. A mostra, contemplada pelo edital FOCA 2022 da Secretaria Municipal de Cultura, apresenta as obras de cinco artistas indígenas, negros e não-binários que, por meio de vivências decoloniais, redefinem espaços históricos e imagens do universo da História da Arte.
“Nosso desejo é ressignificar imagens tidas como canônicas ou como únicas narrativas de uma história contada apenas pelos opressores, afirma Julia Baker, curadora e idealizadora do projeto.
Na série “Devolta”, Diambe desafia a simbologia da monarquia Brasileira ao criar coreografias com o fogo em torno de estátuas icônicas, como as de D. Pedro, D. João VI e a Princesa Isabel. Uma ação que busca decolonizar o espaço, questionando quais heróis estamos homenageando em bronze.
André Vargas utiliza as palavras para questionar as localidades fotografadas. Em “Hoje só Lavaremos a Alma”, ele ocupa o espaço da antiga lavanderia dos escravos no Parque Lage, destacando a questão do trabalho escravo. Em “Calunga Grande”, ele apresenta uma faixa em frente à Praça Mauá, ressignificando o local de desembarque de pessoas escravizadas.
Em “Todo o Mar em Mim”, Martins Fortunato utiliza imagens de arquivo de uma mulher negra, ressignificando-a e associando-a a Iemanjá, a mãe do mar e das cabeças (orí).
Gê Viana trabalha com colagens digitais, intervindo em gravuras de Rugendas (1802-1858) e Debret (1768-1848). Suas séries “Negros Livres” e “Atualizações Traumáticas de Debret” questionam as representações totalizantes da realidade, apresentadas por esses cronistas do Brasil colonial/império.
Denilson Baniwa participa com as obras inéditas “Conselho Tamoio 01 e 02”, que reafirmam a sua arte política. Nelas, podemos ver indígenas reivindicando o território com uma placa: “Rio de Janeiro – Terra Indígena”.
“Fugir do cubo branco e permitir o encontro entre passantes e os trabalhos artísticos fez com que desejássemos uma exposição no ambiente das ruas, utilizando uma linguagem comum a ela: o lambe-lambe”, finaliza Baker.
O ponto de partida para o percurso que dá acesso às obras será o MUHCAB (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira), situado na rua Pedro Ernesto, 80 – Gamboa. Lá, os visitantes encontrarão um QR code que os levará ao site com o itinerário completo, além de informações detalhadas sobre as obras e os artistas envolvidos. Além disso, será disponibilizado um flyer contendo todas as informações relevantes.
SERVIÇO
Mixagens Urbanas
Quando: de 17 de outubro a 13 de novembro
Onde: ponto de partida: MUHCAB (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira)
Endereço: R. Pedro Ernesto, 80 – Gamboa
Site: https://mixagensurbanas.com.br/
Onde estarão as obras:
Trajeto SAÚDE
Sacadura Cabral, 275. Obra: André Vargas – Calunga Grande – Baía de Guanabara, 2021
Sacadura Cabral, 51. Obra: Gê Viana – série Atualizações Traumáticas de Debret, 2020
Barão de Tefé, 14. Obra: Martins Fortunato – Todo o Mar em Mim – goblogbo oku ninu mi, 2022
Bar Gracioso / Pedra do Sal (Rua Sacadura Cabral, 97). Obra: Diambe – Devolta 3 – Princesa Isabel, 2020
Sacadura Cabral, 89. Obra: Denilson Baniwa – Conselho Tamoio 01, 2023
Trajeto GAMBOA
Rua Pedro Ernesto, 97. Obra: André Vargas – Hoje só lavaremos a alma, 2021
Rua João Álvares, 8. Obra: Gê Viana – série Negros Livres, 2022
Rua da Gamboa 137. Obra: Diambe – Madeira que Cupim Não Rói, 2023
Rua do Livramento, 12. Crianças fantasiadas de Clóvis (ou bate-bolas) percorrem as ruas de Madureira em 1986, 2023
Bar Delas (Rua Pedro Ernesto, 5). Obra: Denilson Baniwa – Conselho Tamoio 02, 2023
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