Montagem sobre Carolina Maria de Jesus faz curta temporada em Niterói, no Rio

por | julho 1, 2022

A peça “Eu Amarelo: Carolina Maria de Jesus” faz curta temporada em Niterói, no Rio, a partir desta sexta, às 20h, no Teatro da UFF.  O espetáculo, com a atriz Cyda Moreno, apresenta um retrato contundente da ex-catadora de papel que se transformou na maior escritora negra do país do século XX: best-seller com mais de um milhão de exemplares vendidos,  traduzido em 13 idiomas para 80 países. Carolina Maria de Jesus devotava a sua vida ao amor à literatura, que a fez tirar do lixo as palavras e, das palavras,  uma forma de combater as desigualdades do mundo.  Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade a considerou “a mais necessária e visceral flor do lodo”.

O livro “Quarto de Despejo” serviu de base para a adaptação teatral e  evidencia as inquietudes  sociais e as experiências emocionais de quem vive na falta,  também aponta a  trajetória ímpar da escritora que deixou mais de 4,5 mil páginas em seus manuscritos. Ainda a espera de publicação.  O texto, com dramaturgia de Elissandro de Aquino,  apresenta  fragmentos da autora através de Quarto de Despejo, Diário de Bitita, Casa de Alvenaria, pesquisa biográfica e provérbios. Sua obra que inspira Conceição  Evaristo, Elisa Lucinda entre outros apresenta um retrato de quem vive à margem, na luta pelo pão de cada dia sem perder a fé, a coragem e o sonho que transcende e inspira. Segundo Elissandro, “Carolina é um estandarte-corpo-ato-palavra-manifesto-político  a apontar a cristalização de uma sociedade  que precisa repensar seus valores. Também aponta nuances frente ao racismo, a desigualdade social, ao feminicídio, ao genocídio. São tantas camadas  descortinadas a partir dela que não nos resta muita coisa a não ser olhar a miséria de um povo e, consequentemente, a nossa. Trazer Carolina é mostrar um Brasil que ainda precisa de ajuda”.

A literatura de Carolina Maria de Jesus só foi redescoberta na década de 90, graças ao pesquisador brasileiro José Carlos Sebe Bom Meihy e do norte-americano Robert Levine. No exterior, porém, ela nunca deixou de ser lida e estudada, sobretudo nos EUA, onde Quarto de Despejo, traduzido como Child of the Dark, é utilizado nas escolas.

A atriz Cyda Moreno, que dá voz à Carolina cita que “das entranhas de suas múltiplas misérias,  e de seus múltiplos talentos; da sua fome de comida, de espaço, de justiça, de igualdade e de democracia, Carolina extraiu poesia e lirismo para fazer ressoar as misérias do povo da favela. Sua literatura repleta de erros de grafia, é peculiar, é recheada de palavras rebuscadas e profundas que reflete as inúmeras fomes do nosso povo por espaço, dignidade, reconhecimento, oportunidades e respeito a nossa identidade. Suas obras evidenciam que o racismo é cíclico e híbrido. Já estamos em outro século. Mas milhares de Carolinas ainda se encontram à margem da sociedade, nas periferias, nos subempregos, debaixo dos viadutos, nos presídios, nos hospícios e na luta diária para vencer a fome. Por isto sua voz não se cala. E ela vive. Os “quartos de despejo” triplicaram. O Brasil precisa conhecer a força de Carolina e a sua realeza”.

A peça apresenta três momentos cruciais na vida da escritora: sua estadia na favela que resultou nos diários, a ascensão literária que a tornou um fenômeno editorial de vendas e o seu esquecimento total. Quarenta anos após a sua morte, o Brasil retorna a olhar para as palavras de Carolina que profetizara: “ninguém vai apagar as palavras que eu escrevi.”

O Teatro da UFF fica na Rua Miguel de Frias 9, Icaraí, Niterói-RJ. De 1 a 10 de julho. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. Ingressos: R$ 50 (inteira) e 25 (meia). Mais informações neste link.

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