Musical “Se quiser falar de amor” conta histórias de amor preto embaladas pelo Funk Melody

por | julho 30, 2024

Com direção de Rodrigo França, a montagem também homenageia MC Marcinho e MC Cacau

Revisitando os clássicos do Funk Melody e outros ritmos populares que marcaram os anos 90 nas periferias do Brasil, o musical “Se quiser falar de amor” conta histórias cotidianas de amor entre pessoas pretas, destacando temas centrais como quilombo, empoderamento e emancipação. Idealizado por Dani Câmara e Rei Black, que também integram o elenco, com direção de Rodrigo França e realizado pela produtora Corpa Negrura, o espetáculo estreia no Museu da Maré, na terça (6), às 14h. Também serão realizadas apresentações na quarta (7), às 14h, e de quinta a domingo, às 19h, até o dia 11, com sessão de libras em todas as sessões. Especialmente nos dias 6 e 7, às 14h, serão realizadas apresentações com áudio descrição. Os ingressos são gratuitos e adquiridos na hora.

Utilizando o livro “O Espírito da Intimidade – Ensinamentos Ancestrais Africanos Sobre a Maneira de se Relacionar”, de Sobonfu Somé, a produção busca construir novos imaginários sobre o amor na sociedade, fora do contexto da colonização. O autor do texto, Jonathan Raymundo, destaca uma lição central da obra: o amor não é um evento isolado, mas sim parte de um processo contínuo, onde cada pessoa ajuda a outra a cumprir sua missão ancestral dentro da comunidade. “Essa é a compreensão que tentamos trazer no espetáculo. Como o amor entre indivíduos nutre a vida comunitária e vice-versa; como o amor, nem sempre percebido, é a razão maior, a estratégia maior que nós utilizamos para sobreviver aos desafios e as violências de um estado racista e colonizador”, reflete o autor.

Com direção musical de Dani Nega, a montagem traz à tona memórias afetivas através de diferentes personagens, explorando as inúmeras formas de amar. Cada cena é um convite ao público para aprofundar-se em diálogos sobre o afeto entre corpos que resistem ao racismo, oferecendo uma reflexão tocante sobre amor e resistência, a partir de narrativas que não gerem gatilhos.

O musical ainda reforça a importância dos precursores do Funk Melody, MC Marcinho e MC Cacau na trilha sonora, como destaca o diretor Rodrigo França. “O funk melody, com sua batida envolvente e letras românticas, é uma poderosa ferramenta para contar histórias de amor, especialmente no contexto das favelas. Inserir músicas de MC Marcinho e MC Cacau não só adiciona autenticidade, mas também conecta o público à realidade cotidiana dessas comunidades”, ressalta.

Rodrigo também enfatiza  a importância de falar sobre o amor de maneira potente e íntima: “Falar sobre o amor desta forma, em um espetáculo musical que aborda a favela, é crucial, pois humaniza e valoriza as vivências das comunidades marginalizadas, especialmente a comunidade preta. Esse enfoque permite mostrar que, apesar das adversidades, há beleza, afeto e complexidade nas relações interpessoais”, ele evidencia.

Levantando reflexões políticas e sociais sobre o empoderamento e a identidade preta, Dani Câmara ressalta a importância de representar histórias de amor preto. “Segundo Bell Hooks, o amor é uma ação. E nossa ação como artistas e profissionais de teatro é dilatar e evoluir o imaginário social sobre o negro, na busca de uma arte popular que aproxime corpos diversos para além da experiência hegemônica contemporânea nas artes. Eu desejo um cenário cultural onde pessoas pretas, faveladas e periféricas possam se reconhecer, se inspirar e amar”, destaca.

Rei Black, que já foi indicado na categoria “Melhor Ator” no Prêmio Shell, espera que o público, após assistir “Se quiser falar de amor”, leve consigo uma mensagem de empatia e respeito. “Que as pessoas pretas se reconheçam e valorizem a potência do amor preto, mesmo em meio às adversidades das favelas. Para além dos estereótipos de violência, é essencial enxergar a criatividade, subjetividade e beleza da comunidade. Desejo que, ao sair do espetáculo, todos possam sonhar em construir um futuro com mais empatia, respeito, dignidade e amor”, conclui.

Este projeto é realizado por meio de um edital da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Além das seis apresentações no Museu da Maré, durante os dias em que o espetáculo estará em cartaz, será produzido um mini documentário sobre todo o processo criativo e de produção. A estreia do documentário está prevista para o dia 30 de agosto.

SERVIÇO

Datas e horários: 6 e 7 de Agosto, às 14h; 8, 9, 10 e 11, às 19h

Local: Museu da Maré

Endereço: Av. Guilherme Maxwel, 26 – Maré

Ingresso: Gratuito (adquirido na hora)

Classificação indicativa: 10 anos

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