A literatura de ficção especulativa negra escrita por mulheres continua crescendo no Brasil. Com o livro “O céu entre mundos”, Sandra Menezes inicia sua atuação no afrofuturismo através de um romance, gênero que, na linha desse movimento, ainda não havia sido lançado por uma editora comercial brasileira para obra de autoria feminina.
Com uma narrativa que especula um futuro possível para os negros baseado em tecnologias científicas, artísticas e espirituais, “O céu entre mundos” traz como protagonista a engenheira ambiental Karima, que vem do planeta Wangari, descoberto por uma frota de astronautas africanos. A história é ambientada em 2.273, quando a jovem negra chega à Terra como refugiada, fazendo o percurso inverso de uma diáspora interplanetária. Aqui, enquanto é mantida sob proteção dos ataques de um poderoso perseguidor de seu planeta natal, ela passa por experiências reveladoras sobre a trajetória de seus ancestrais originários da Terra, aprofunda-se numa viagem espiritual sobre as origens de seus antepassados africanos e, a partir disso, descobre os caminhos que deve tomar para seu fortalecimento e garantia da própria existência.
Como analisa Silvia Barros, escritora e doutora em Literatura Brasileira pela UFRJ em seu texto de apresentação do livro de Sandra Menezes, “’O céu entre mundos’ é um romance para exercitar imaginação, formular uma realidade de comunicação por telepatia e naves voando para outros sistemas planetários, mas também para ter notícias de quem veio antes de nós, pessoas cujas experiências eram futuristas no passado, pois pavimentaram estradas para que nós caminhássemos”.
No Brasil, o caminho da literatura afrofuturista foi aberto por Lu Ain-Zaila, autora que é uma das maiores referências no país, e que a partir da primeira década dos anos 2000, vem editando suas obras de forma independente, já tendo publicado uma duologia, antologias de contos e artigos.
O afrofuturismo é um movimento negro artístico, cultural e social que se expressa na literatura, na música, na pesquisa e nas artes visuais, por exemplo, e que no Brasil conta com nomes como Kênia Freitas, Ellen Oléria, Lu Ain Zaila, Fabio Kabral, Alê Santos, Jonathan Ferr, Xênia França, citando apenas alguns dos artistas que se identificam com o que o afrofuturismo representa. O escritor e pesquisador, Wladson Souza, Mestre em Literatura pela UNB, autor da dissertação “Afrofuturismo: O futuro ancestral na literatura contemporânea”, destaca no resumo de sua pesquisa que o afrofuturismo é “um movimento artístico que constrói uma noção de futuro que também é ancestral, pois se relaciona com aspectos que vão além das obras e dizem respeito a uma experiência compartilhada que transcende a linearidade do tempo”.
“Com a entrega da aventura de Karima ao público, através de uma editora que impulsiona o autor negro, como é a Malê, mergulho na ficção especulativa, na linha do afrofuturismo, com a certeza de que é importante que sejamos vistos pelo mundo recriando nossos tesouros frequentemente escondidos pelo colonialismo. Estamos transitando pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã construindo um imaginário de potência, humanidade e esperança para o nosso povo negro. Acredito ser esse um propósito fundamental do movimento afrofuturista, que é artístico, político e transformador”, diz a autora.
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