Rodrigo  França aceitou mais uma tarefa ao seu já respeitado currículo de diretor. Desde o dia 27 de julho ele comanda o espetáculo “ Para meu amigo branco”, no Sesc de Copacabana. A peça foi inspirada no livro homônimo escrito pelo jornalista Manoel Soares.

Se a militância negra é diversa e às vezes difusa, não é de se estranhar que um tema mais conciliador esteja nas mãos de alguém mais combativo como é o perfil de França comparado ao de Manoel.  “Acho que é um erro do contemporâneo determinar como a pessoa que é vítima deve reagir à opressão,  ou como deve ser a estrutura de luta dela. Tem gente que vai reagir a partir da opressão, vai gritar, vai berrar, tem gente que tem condições de buscar os seus direitos, tem gente que vai chorar, tem gente que vai paralisar. A responsabilidade não está na vítima e sim no algoz”, declara o diretor.

Foto: Magali Moraes

Embora nome comum em obras que contam com a pretitude contando suas histórias, França simpatiza com os caminhos que o teatro e o audiovisual vem tomando em termos de representatividade. Para o cineasta, ficar sozinho não é o melhor modo de construção de uma arte nacional preta. “A história do negro único, ela é sedutora para muita gente. E para mim não me interessa ficar sozinho. Ficar sozinho é um lugar de solidão. Ficar sozinho é um lugar de vulnerabilidade. Ficar sozinho é um lugar de fraqueza, ao ponto que seja muito mais fácil a branquitude me eliminar”, reflete.

Eu não sou nenhum jovenzinho que acredita que eu e meus irmãos vamos mudar essa estrutura. A gente está falando de um Brasil que 56 % se autodeclara negro, mas nesse 56%, a maioria não tem letramento racial – Rodrigo França

Além da estreia da peça, Rodrigo participa da série “ Humor Negro”, onde também dirige e faz participação como ator. A série será exibida pela GloboPlay e também como ator ele estreia em ‘Arcanjo Renegado’ e ‘Veronika’. “Atuar é tão difícil. Eu acho dificílimo. Eu sou um cara com dislexia. Eu sou um autor, isso é bom frisar, eu sou um autor best -seller que é diléxico, que tem dificuldades com símbolos e signos, e isso tem desdobramento na leitura, em decorar texto. É óbvio que, como a dislexia não tem cura, eu acabei criando estratégias para viver sem me expor. Se eu não falar, ninguém percebe. Então isso significa que se alguém leva segundos para decorar textos, eu levo um tempo razoável. Então para ser ator, eu preciso parar um pouco e me dedicar ao projeto”, revela.

Foto: Magali Moraes

Apesar de enveredar pela atuação, Rodrigo França nem pensa em  deixar a direção como seu método favorito de participar da produção artística nacional. “A ancestralidade me presenteou ser dramaturgo, ser roteirista e é o que eu quero. Até porque isso faz com que eu abra portas. Um diretor tem a possibilidade de contratar dezenas e às vezes centenas de pessoas. Então esse lugar de poder me interessa”, conclui o diretor com um sorriso no rosto.

SERVIÇO:

Espetáculo teatral “Para meu amigo branco”

Temporada: 27 de julho a 20 de agosto de 2023

Dias e horários: de quinta a domingo, às 20h

Local: Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 7,50 (credenciado Sesc)

Classificação indicativa: 14 anos

Duração: 70 min

Bilheteria: terça a domingo, das 14h às 20h.

Divulgação