Sob direção de Naruna Costa, atriz Aysha Nascimento protagoniza solo escrito por Jhonny Salaberg
Em temporada gratuita, o espetáculo “Parto Pavilhão” estreia no próximo dia 22 de fevereiro e fica em cartaz até 17 de março, no TUSP. As sessões ocorrem de quinta à sábado, às 21h; e domingos, às 20h. Com direção de Naruna Costa e texto de Jhonny Salaberg, a peça reconta a fuga de nove detentas com bebês de colo no CPP Feminino do Butantã, em 2009. Trata-se de um solo cuja montagem encerra a “Trilogia da Fuga” – que anteriormente levou aos palcos “Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã” (2018) e “Mato Cheio” (2019).
Em “Parto Pavilhão”, Jhonny Salaberg transforma mais um fato episódico da realidade carcerária do país na dramaturgia onde o foco narrativo é a história da Rose, uma das detentas. “É um espetáculo que mergulha na perspectiva feminina através de um recorte que transita entre o documento e a ficção através do realismo fantástico”, disse Salaberg, autor e ator do aclamado espetáculo “Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã” (2018) — o segundo da trilogia, que rendeu a Naruna Costa o APCA de Melhor Direção, indicado também a Melhor Dramaturgia para Jhonny Salaberg.

Foto: Edu Luz
Para construir a história de “Parto Pavilhão”, Salaberg afirma ter utilizado como referência o conceito de Leveza, do romancista Ítalo Calvino (1923-1985). O conceito, ele diz, funciona como uma ferramenta criativa. A Leveza do autor italiano cumpre a função de ressignificar temáticas e notícias densas em narrativas leves.
“O que ele [Ítalo Calvino] defende é que a leveza não está só no lugar fantasiado. Ela é uma estratégia e uma mudança de perspectiva”, afirma Jhonny, que buscou voltar seu olhar para o corpo da mulher negra em “Parto Pavilhão”.
Interpretada por Aysha Nascimento, Rose é a ex-técnica de enfermagem que se vale da dissimulação com os agentes penitenciários para garantir acesso nos interiores da prisão e arquitetar a fuga. A atriz diz ter conhecido a personagem durante o processo de escrita do espetáculo. Entretanto, ela conta, Rose foi ganhando novas camadas.
“Foi muito importante o mergulho que a gente fez na Rose. Ela não representa mulheres presas e não é uma representação. Ela é um indivíduo, uma personagem inteira”, disse Naruna.
Por sua vez, a diretora compartilha da mesma definição e conduz, em “Parto Pavilhão”, uma imersão na subjetividade da personagem única mulher.

Foto: Edu Luz
Vencedora do Prêmio APCA e Aplauso Brasil de Melhor Direção, também por “Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã”, a diretora explica: “O ‘Parto Pavilhão’ é um convite ao útero da questão desse tipo de encarceramento: o das mães. É sim um retrato da realidade, mas não se trata de uma foto panorâmica. É close-up. Um convite a chegar perto da identidade de uma mulher que, ainda que seja um número para o sistema, é uma”.
À cargo da trilha sonora, a musicista Reblack acompanha e ambienta a história de Rose do palco: com violoncelo em punho, a celista conta a trama sonora por meio de melodias dramáticas, em diálogo com a atriz. E, sob a iluminação de Gabriele Souza, a montagem prima por apresentar uma construção poética, mostrando ora uma estética solitária, ora um lugar de aconchego.
Contudo, “Parto Pavilhão” é uma obra que carrega cinco anos de escrita dentro dos oito anos de pesquisa da Trilogia da Fuga, tendo outras duas montagens sobre o corpo negro em fuga ao longo do tempo passado e contemporâneo. Em “Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã” (2018), a fuga é localizada na contemporaneidade e em “Mato Cheio” (2019), ela esteve no passado colonial. Por isso a importância de Rose no fechamento desta trilogia e no futuro desses bebês.
“Ela é a chave que fecha a trilogia e abre a possibilidade de futuro”, disse o autor.

Foto: Edu Luz
SINOPSE
Rose, detenta de uma penitenciária feminina para mães e ex-técnica de enfermagem, ajuda as mulheres nos partos, nos cuidados com os filhos e a suportar o peso dos dias dentro das celas. Foi mãe dentro da penitenciária e conhece o cotidiano e os segredos desse labirinto. Aos poucos ganha a confiança de todo o pavilhão e da diretora do presídio, com quem tricota roupinhas de lã para os bebês quase todas as tardes. Tudo muda quando, durante um jogo da seleção brasileira, ela pega um molho de chaves em uma gaveta aberta.
AGENDA
Temporada de 22 de Fevereiro à 17 de Março
Quinta à Sábado às 21h | Domingo às 20h
Sessões extras aos sábados: 2, 9 e 16 de Março às 18h
Apresentações Gratuitas
Duração: 60 minutos | Capacidade: 50 lugares
Classificação indicativa: 14 anos
TUSP – TEATRO DA USP
R. Maria Antônia, 294 – Vila Buarque
Telefone: (11) 3123-5222
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