Peça “Babilônia tropical – A Nostalgia do Açúcar” entra em cartaz no CCBB Rio de Janeiro

por | setembro 14, 2023

Uma viagem no Recife do século XVII, na chegada dos holandeses no nordeste do Brasil, em busca das riquezas do açúcar, esse é o enredo do espetáculo “Babilônia tropical – A Nostalgia do Açúcar”, que está em cartaz até dia 01 de outubro no CCBB. Esta será a última peça encenada no espaço, antes das obras de revitalização. No elenco estão o angolano Ermi Panzo, Jamile Cazumbá, Carol Duarte e Leonardo Ventura.

“A proposta da obra consiste na montagem de uma engrenagem que questiona a própria ideia de desenterrar essa personagem secular e é confrontada de forma paralela e/ou direta, através de subjetividades que revelam abertamente a tradução de um racismo e, obviamente, a condição de selvagem e apagamento dos indígenas. Portanto, durante a peça, segue-se nessa tentativa do aterramento dessa mulher e outras formas de reparação histórica”, aponta Panzo.

Divulgação

A obra também traz a fotografia de um cenário dinâmico, que transcende o trabalho, resultando num conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condições de vida do trabalhador, atentando contra sua dignidade e à negritude majoritariamente. “Gente, pra quê ressuscitar essa mulher? Deixa ela lá, morta e enterrada”, essa é umas das falas da personagem Milena, ao se referir a Anna Paes. Jamile Cazumbá, atriz que interpreta a Milena, questiona “como nós, através da arte, podemos identificar e nos despirmos de códigos, formas e fórmulas que invisibilizam, silenciam, distorcem, deslegitimam e violentam a existência de um povo e as subjetividades de cada corpo existente nele?”

O espetáculo tem idealização do autor e diretor Marcos Damigo, que esteve no CCBB Rio de Janeiro no início de 2020 com “Leopoldina, Independência e Morte”, espetáculo que teve grande sucesso de público e crítica. Em “Babilônia Tropical”, ele aborda as contradições do projeto de modernidade nascente e sua violência nos cruzamentos entre gênero, classe e raça, e as transformações que iriam ditar os rumos do mundo. Tais questões são investigadas através da história de Anna Paes, uma controversa mulher que viveu no período e escreveu um bilhete ao aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar quando ele chegou ao Brasil, e até hoje é guardado no Arquivo Nacional dos Países Baixos.

“Babilônia tropical – A Nostalgia do Açúcar” já passou pelo Centro Cultural Banco do Brasil em Belo Horizonte e Brasília e mostra uma história que não habita apenas no passado. “Suas marcas ainda estão presentes, seja na situação do povo negro no Brasil ou nas inúmeras denúncias de trabalho análogo à escravidão e problemas estruturais a serem superados”, conclui Marcos Damigo

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