Solo “Lótus” parte da estética afrodiaspórica para problematizar hipersexualização dos corpos negros femininos

por | maio 6, 2024

Com uma ampla pesquisa sobre a mulher negra como protagonista da cena e o corpo como vetor artístico, a atriz mineira Danielle Anatólio desenvolveu, em 2016, o solo Lótus. O trabalho foi criado a partir de uma estética afrodiaspórica e faz uma temporada em São Paulo, no auditório do Sesc Ipiranga, entre os dias 10 de maio e 2 de junho, às sextas-feiras, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30.

“Neste espetáculo, falo não só das dores das mulheres pretas, mas também do lugar de superação, de transformação e de transcendência destas mulheres. Por isso, não abordo apenas a questão das violências e de todo o processo oriundo de um Brasil escravizado. Quero mostrar que podemos respirar, levantar a cabeça e nos colocarmos num ponto de amor-próprio dizendo basta, eu mereço ser amada, eu mereço ser a mulher da minha vida”, defende Danielle.

Na trama, a partir da pergunta-chave “O que você vê quando olha para uma mulher negra?”, o público encontra histórias tradicionalmente invisibilizadas pelo patriarcado subjacente. A peça resgata a beleza da vida em um contexto de solidão e hipersexualização, apontando caminhos de resistência para as mulheres.

Ressignificando o feminino

Em cena, ao longo de 60 minutos, os espectadores são confrontados com três figuras femininas: a ancestral, a erê (criança) e uma mulher preta contemporânea. “Essa personagem mais velha é a Ercília, que carrega tudo o que absorvi das mulheres mais experientes que cruzaram o meu caminho. A criança mostra um pouco do universo infantil: as inseguranças, os sonhos e os desejos, a baixa estima. Já a contemporânea é a personagem Carolina, que remete à escritora Carolina Maria de Jesus, e representa o empoderamento, a liberdade e autonomia feminina”, acrescenta.

Trata-se de um convite à reflexão sobre a afetividade nas relações e um chamado para a ressignificação do olhar sobre o sagrado feminino e o masculino. Todos esses elementos estão unidos pela linguagem da performance negra.

Um dos elementos fundamentais da narrativa é o altar criado para a montagem. Ele simboliza o contato com a espiritualidade, a solidão e a necessidade de uma rede de apoio para essas mulheres negras.

Para a preparação física, a artista-criadora utilizou a dança afro contemporânea. Ao mesmo tempo, a trilha sonora mescla a musicalidade afro-mineira, com os tambores do Congado Mineiro, e uma percussão ao vivo que toca o barravento de Iansã e o ijexá de Oxum.

“Nesses oito anos, Lótus percorreu quatro estados brasileiros e foi ganhando maturidade, fruto também do meu amadurecimento como artista. Musicalmente também crescemos muito. Faz quatro anos que trabalho com o percussionista Kaio Ventura, um grande conhecedor de ritmos afro-brasileiros”, comenta Anatólio.

Em 2018, a peça ganhou o Prêmio Leda Maria Martins como melhor espetáculo de longa duração. Quando surgiu, em 2017, na cidade de Belo Horizonte, essa premiação foi precursora ao valorizar exclusivamente as artes negras no Brasil.

SERVIÇO

Lótus
Data: 
10 de maio a 2 de junho de 2024, às sextas-feiras, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30
Local: Auditório do Sesc Ipiranga – R. Bom Pastor, 822 – Ipiranga – São Paulo – SP
Ingresso: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (credencial plena)
Link para a venda de ingressos: https://www.sescsp.org.br/programacao/lotus-4/
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 60 minutos

0 comentários


– ÚLTIMOS VIDEOS –


– ÚLTIMAS NOTÍCIAS –