“Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança” , estrelado por Cláudia Abreu, com Júlia Lemmertz, César Melo e Alexandre Borges no elenco, estreou no dia 17 de agosto. Um filme nacional de vingança feminina que mistura ação, suspense e drama.Um longa que entra na lista dos bons filmes de gênero que o Brasil, acertadamente, tem explorado cada vez mais.
Tudo começa em uma tentativa de assalto que resulta no coma da filha da advogada Carla, interpretada por Abreu. Ela tenta seguir a vida com a ajuda de grupos de apoio, mas não consegue aceitar a inanição da polícia e o sistema que permitiu tudo. “Fortalecer o cinema em qualquer circunstância é fazer, né? É ter roteiro e ter formas de veicular, que eles sejam vistos, né? Essa é a grande questão: não só fazer, como eles serem vistos, eles terem espaço pra isso. Eu acho que essa questão das cotas de tela é uma questão bem premente e urgente para que esse exercício possa ser revelado”, aponta Júlia Lemmertz sobre o fortalecimento deste tipo de produção no Brasil.
O filme estreou na semana em que crianças foram alvejadas pela polícia no Rio de Janeiro, com cenas de seus enterros conversando, de certa forma, com alguns pontos abordados em ‘Tempo de Barbárie’. Então, assim, isso é o Brasil, é o que a gente tem vivido. Então ter aceito fazer um filme pra falar de um assunto tão difícil vai além do meu desejo de fazer cinema, de fazer um filme, uma grande produção e fazer um grande roteiro, era falar de uma discussão social muito importante, que é o que que a gente faz com essa violência tão banalizada, o que que as famílias… onde elas colocam a dor? O que você faz com isso? Aí essa discussão das armas, assim, tantos clubes de tiro… a solução é você comprar uma arma e partir pra barbárie? Então acho que é uma discussão importantíssima, porque tem gente que de fato acha que isso é a solução. E o filme mostra através dessa jornada dela o que que acontece, né?”, reflete Cláudia.
Quem dirige é Marcos Bernstein que escreveu ‘Central do Brasil ‘. O diretor consegue justificar as ações das mulheres na obra sem expô-las a um grande sofrimento sexual como é muito comum em filmes de vingança femininos. O cineasta conta que não tinha pensado nisso, mas preferiu ir para o lado de desnudar o sofrimento psíquico dessas figuras femininas e como elas são abandonadas pelo sistema de justiça composto majoritariamente por homens.
. A barbárie é um caminho sem volta. Então assim, você morre uma vez quando acontece a primeira violência e vai morrendo muitas vezes nesse processo – Cláudia Abreu
Cláudia Abreu está espetacular como sempre saindo do espectro atormentado melancólico para o estágio da frieza absoluta com louvor que já lhe era esperado. Lemmertz ganha escopo com o avanço da trama, servindo como ponto de equilíbrio e racionalidade ante o desejo de vingança da protagonista. Ela funciona como uma tentativa de racionalizar os processos dolorosos que atravessamos quando perdemos alguém de forma violenta, oferecendo um contrabalanço entre princípios morais construídos nos momentos de lúcida reflexão e o impulso animalesco de corrigir situações nas quais nos sentimos injustiçados.
“É muito interessante acompanhar as duas mulheres que sofreram violência, né? Uma que consegue elaborar e ajudar outras pessoas e de alguma maneira consegue transformar essa dor em algum tipo de ajuda, de compaixão, consegue não morrer totalmente. Já a Carla, eu sinto que ela morreu, sabe? Ela foi cada vez mais se perdendo de si mesma e se desconectando da vida real, da vida cotidiana. É como se ela não enxergasse mais nada além da vingança”, comenta Lemmertz
O cinema nacional será menos subestimado pelo público após “Tempos de Barbárie” e um pouco mais rico para quem já o acompanha de perto.
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