Wallace Mendes fala sobre desafios de estar no sucesso do teatro “A Herança” e reações do público hétero

por | maio 19, 2023

 Wallace Mendes, de 30 anos, é uma das estrelas da peça “ A Herança”, versão do clássico da Broadway “The Inheritance”, de Matthew Lopez. O ator usa o talento para a atuação aliado aos anos de prática de esporte  para viver o personagem Jason em uma peça que dura aproximadamente 6 horas, dividida em duas partes, quase como uma série.

 Adaptada e dirigida por Zé Henrique de Paula e idealizada por Bruno Fagundes, “A Herança” fez sucesso na temporada em cartaz no Teatro Vivo em São Paulo e agora reestreia no dia 1 de junho no Teatro Raul Cortez. “O Zé Henrique de Paula me ligou e fez o convite falando mais ou menos como seria essa 6 horas de peça. Então fiz uma  primeira leitura para entender como seria esse esse texto e vice-versa e achei  muito generoso, todo mundo tem seu lugar de fala, é um texto redondo,  não deixa muita confusão entre os personagens e isso ajuda bastante”, comenta o ator.

Preview

Foto: Instagram

Mendes demonstra na fala animada a alegria em estar dentro do projeto que, além de Bruno Fagundes, reúne também Reynaldo Gianecchini e grande elenco. O ator elogia o diretor Zé Henrique, explicando que se sentiu livre para criar em cima de seu personagem. “Ele é genial, nunca tinha trabalhado antes com o Zé. Ele te guia, mas te deixa leve para criar, então a gente une essa coisa do que o diretor quer e de que forma é mais confortável para o ator também”, diz.

Cinco vezes campeão estadual e 2º lugar na Copa Internacional de Judô em Brasília, Wallace percebeu o quanto o histórico de manter o corpo em alta performance foi importante para estar em “A Herança”. Segundo  o artista, são seis horas ininterruptas em cima do palco, sem sair entre os intervalos das partes, o que leva a exigir essa preparação tanto quanto no esporte.

“Eu iniciei no teatro aos 13 anos e comecei a luta aos 14, 15 e nunca mais saí e quando eu voltei para o teatro, senti que a minha base na luta foi muito importante. Esse é um dos fatores que me ajudaram muito, incluindo a disciplina do judô porque encarar 6 horas de peças exige essa disciplina” 

A boa aceitação da peça também é parte do que tem feito o ator feliz. A princípio pensou que seria mais um trabalho, mas ele conta que após a entrega das primeiras apresentações, encarou como uma experiência mais única. ”Agora consigo processar na minha cabeça como foi esse processo porque eu não entendi na hora, sabe? Agora que eu entreguei estou vendo como o trabalho é lindo”, reflete. 

Elenco e produção de “A Herança (Foto: Instagram)

A peça narra as desventuras de personagens como Eric (Bruno Fagundes), prestes a ser despejado de seu apartamento, se aproxima de Walter (Marco Antônio Pâmio) e Henry (Reynaldo Gianecchini) na tentativa de se compreender durante a turbulenta ascensão de seu recém noivo, Toby, (Rafael Primot) à fama. Porém, quando Adam (André Torquato) surge em suas vidas, três gerações colidem e redefinem suas concepções sobre amor, afeto, perda, saudade e amizade. Mas ao contrário do que a sinopse pode sugerir, não é salutar classificar “A Herança” como uma peça gay.  A mensagem é universal sobre a reflexão em cima da diversidade de afetos que atinge cada ser humano. “Na peça eu caso com um homem branco que é uma posição diferente da de um corpo negro como o meu. É um outro posicionamento diante da sociedade, então é um casal engraçado né? Diferente, mas é um casal que se completa, mas mesmo no mundo LGBTQ, nossos corpos passam mensagens distintas”, comenta Wallace.

O ator se questionou sobre o alcance da peça quanto à temática focada na existência LGBTQIAP+ e a conclusão é que a peça é muito humana e tem uma mensagem ampla. “Ela é extremamente humanizadora, você vê muitos erros nos personagens, quer dizer, coisas que as pessoas julgariam como erro né, mas são os personagens escolhendo as histórias de suas  vidas”, filosofa.

Imagem: Instagram

Apesar da temática e da premissa séria, Wallace aponta que é um espetáculo bem humorado, cheio de escapes de humor, o que acaba sendo necessário para respirar dentro de uma estrutura de exibição tão longa. 

“Todo domingo a gente tem um debate com o público e normalmente são pessoas heterossexuais  que estão ali dando seu depoimento. Um cara estava indo ver o jogo do Palmeiras e a esposa dele o levou para peça sem contar detalhes sobre,  aí chegou lá ele foi informado que a peça tinha 6 horas e ele ficou um pouco bravo, mas ele foi a pessoa que levantou a mão para dar o depoimento e falou que foi sem saber o que estava acontecendo e que  ficou arrebatado pelo espetáculo, pela humanidade da peça”

 Durante a produção de “A Herança”, muitas coisas podem mudar. Os atores entram no felling e se guiam de acordo com a apresentação, como se fosse, na definição do ator “uma peça viva”. “A peça por inteiro é guiada por nós, então então a gente vai guiando o outro ‘olha ele fez de outro jeito’, e isso traz o público porque o público se sentindo meio que dentro da peça também”, conclui.

0 comentários


– ÚLTIMOS VIDEOS –


– ÚLTIMAS NOTÍCIAS –