O vídeo faz parte de uma trilogia sobre auto amor entre as juventudes periféricas
“Geração que tira conclusões precipitadas, que não se aprofunda em nada, mergulha só na superfície e desiste”. Assim começa a letra de “Lar“, novo single e clipe do artista de Parelheiros, zona sul de São Paulo, RAVIH, que chega em todas as plataformas digitais. A música tem inspiração em uma das maiores dos nossos tempos, Nina Simone, porém o artista cita outros nomes mais contemporâneos: Iza, Koffee e Lorde, como referências para a sonoridade experimental, que mistura elementos do reggae com música clássica. RAVIH divide a produção musical do single com Arielly Porto.
“Me lembro de ler uma afirmação da Nina Simone na qual ela questionava: ‘Como você pode ser artista e não refletir sua geração? A letra surgiu a partir daí”, conta RAVIH. Para o artista, o “Lar” do título tem diferentes significados: “Às vezes eu sinto que é sobre estar sendo varrido para fora dos palcos, mas às vezes também parece ser literalmente sobre a minha própria casa. Local onde eu trabalho tanto, que de um tempo pra cá ela começou a perder essa sensação de lar e começou se parecer um escritório mais informal”, lamenta RAVIH.
O videoclipe tem roteiro do próprio artista e direção compartilhada entre ele, Karina Tigre e André Lessa. O vídeo conta com um elenco formado majoritariamente por artistas circenses e usa o picadeiro para ilustrar o esgotamento da saúde mental enfrentado pelos artistas das periferias.
“As pessoas não fazem ideia do quão desafiador é produzir e entregar arte de qualidade com poucos recursos, sem ter certeza de quando isso vai trazer um retorno, se é que vai trazer”, pontua RAVIH. “Tem casos que a gente coloca toda nossa energia e dinheiro na produção de um projeto e quando ele finalmente fica pronto, acaba faltando ambas as coisas para conseguir divulgar adequadamente”, acrescenta.
No vídeo de “Lar”, RAVIH interpreta um melancólico palhaço integrante de uma trupe em crise que é aclamada e vaiada por uma volátil plateia interpretada pelo mesmo elenco. Os excessos e as faltas da sua geração, bem como a dificuldade de lidar com as redes sociais, que segundo RAVIH, parecem “mais sugar do que nutrir” os artistas das periferias, também são citadas em “Lar”, cujo vídeo é a primeira parte de uma trilogia de clipes sobre autoamor entre as juventudes periféricas.
“É muito difícil se comunicar e se relacionar de forma assertiva, inclusive com nós mesmos, quando estamos constantemente exaustos. Essa música propõe uma reflexão sobre continuar nesse piloto automático e quais as possíveis consequências futuras disso”, revela.
Apesar dos desafios, o cantor, que tem formação e atua também como comunicador, celebra a multiplicidade dos artistas periféricos que assim como ele conseguem exercer outras profissões em paralelo a arte: “Quando se cresce com menos oportunidades, a gente se esforça para aprender a fazer de tudo. Às vezes, simultaneamente. Mas ao mesmo tempo que acho isso poderoso, penso que precisamos ficar atentos para não se sobrecarregar e adoecer”, reflete.
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