Silas Simões, Lorena Fadi e Luã Freitas formam a combinação perfeita de vozes de um dos grupos gospel mais populares do país, o Preto no Branco. Seu single mais recente, “Glorificamos”, resgata a música de adoração para um lado mais intimista e menos voltado aos shows de estádio que tem sido tão comuns dentro da cena da música religiosa.
Luã explica que compor para um formato de célula foi intencional. Tornar a canção mais próxima do que se ouve no dia a dia das igrejas faz parte do projeto “Preto no Branco Vertical”, próximo disco do grupo. “Eu acredito que não só a música, essa canção especificamente, mas o projeto inteiro vertical. Ele já no no título ele já entrega muito do que ele é, né? É um formato de uma célula, nós fomos pra uma casa pra fazer um culto no lar e durante a produção percebemos que todas as músicas tinham esse esse intuito do louvor vertical da gente para Deus né? e foi de fato intencional mas ao mesmo tempo também as coisas foram acontecendo e se encaixando”, conta.
Segundo Silas, as novas composições são diferentes de tudo que o Preto no Branco já gravou. Para o músico, voltar as músicas para um lado mais íntimo vai na contramão do mercado. “Porque querendo ou não o mercado não está muito pra esse caminho de fazer canções eh pra pessoa né? E aí a gente conseguiu fazer essa proposta de canções diretamente voltadas para Deus. No final do projeto a gente estava muito satisfeito por ter construído isso”, conta.
O trio atual que forma a banda é resultado de uma reformulação causada pela saída de antigos membros como Juninho Black e Clovis Pinho, presentes quando o grupo estourou nacionalmente com o mega hit “Ninguém Explica Deus”. Assumindo um legado tão recente e poderoso, Silas, Fadi e Luã falam com firmeza e objetividade de quem entende a importância de levar a música onde ela precisa ser escutada. “Quero ser a brasa viva / Que queima no altar / Me reúno com os adoradores nesse lugar”, cantam com força no single novo. É uma mensagem muito direta, que não deixa dúvidas de que o soul/R&B do grupo serve a uma missão maior que apenas o sucesso comercial.
“Glorificamos” ganhou um videoclipe que traz os cantores muito próximos dos ouvintes, como se oferecessem um abraço. “É uma música que desenha muito o que é o projeto vertical, né? Porque fala sobre nós, né? É uma canção muito especial no nosso coração porque ela tem uma linguagem contemporânea, mas ela também traz essa memória, esse negócio do tradicional, do clássico, né? Do antigo, essa música traz esse encontro do que está sendo tocado nas igrejas mas também trazendo à memória o que a igreja já cantou lá atrás”, reflete Luã, um dos compositores da música ao lado de Oseas Silva.
Lorena Fadi, a voz feminina da banda, sorri ao falar do projeto. Para a cantora, cada música do novo disco é diferente uma da outra, mas formando uma coesão em cima do tema que ela diz querer cantar pela eternidade. “É muito gostoso remontar ao tradicional, mas de uma forma atual e adorar dessa forma”, diz.
![Preto no Branco: Réveillon na Paulista terá show gospel pela 1ª vez | Metrópoles](https://uploads.metropoles.com/wp-content/uploads/2022/12/15120850/Preto-1-1.jpg)
Imagem: Divulgação
De fato o Preto no Branco sempre soou de forma plural em seus trabalhos, misturando o pop contemporâneo com o melhor da música negra produzida nos Estados Unidos. Se não fosse a divisão de segmentos das rádios brasileiras, era possível que o grupo fosse ainda mais popular. “A gente é R&B, é soul, mas também samba, pagodão da Bahia, sabe? Porque a musicalidade preta não está no norte-americano. Ela está sim nas nossas favelas, nas nossas comunidades, no nosso sangue, né? Ela está na igreja. Então toda essa força vem carregada de muita cor daqui, não é só inspiração gringa, sabe?”, reflete Lorena.
Confira o restante da entrevista com o Preto no Branco:
Trace Brasil: Vocês três formam uma mistura que se complementa?
Silas: Somos igrejeiros e plurais. Se a gente buscar apenas identidade norte-americana, deixamos de entregar a identidade dos outros dois membros. Se a gente entrega só samba, agradamos a Lorena, mas esquecemos os outros. A gente tem uma canção guardada, que ela é uma explícita bossa, mas a harmonia dela não é, então não tem como o Preto no Branco, nessa formação, ser de uma única vertente, uma única musicalidade.
Trace Brasil: Nos Estados Unidos não existe distinção de parada gospel e parada secular. Vocês acham que fazendo um som acessível podem quebrar essa barreira?
Lorena Fadi: A gente entende que o gospel não é um gênero, mas uma cultura. A s pessoas vão criando subtipos: sertanejo gospel, pagode gospel. Não sei se é uma desculpa, mas eles tem essa barreira de falar da espiritualidade. A gente não nasceu para ficar preso. Para exercer meu cristianismo eu queria que criássemos uma abrangência para todas as pessoas serem alcançadas, mas não sei se é só uma questão de preconceito.
Trace Brasil: Como decidem quem será a voz principal nas músicas? Há conflitos?
Silas: Eu vejo os dois cenários acontecendo. Em geral é tranquilo, mas às vezes temos que debater sobre o repertório. A gente tem a missão de ouvir e entender como seria a nossa interpretação. A gente enxerga o outro.
Luã: Tem muito do que cada um traz. A gente pensa ‘Olha isso na voz da Fadi!’
Silas: Nesse projeto tem uma composição do Luã que eu que canto. Toda essa construção é muito boa. Essa música que lançamos agora, a “Glorificamos”, era uma música que a gente só conhecia na voz do Luã com a esposa dele. Essa montagem, essa construção é muito legal.
Lorena Fadi: As vezes eu ouço e penso ‘Olha que fantástico na voz do Silas’”
![Banda 'Preto No Branco'](https://istoe.com.br/wp-content/uploads/2022/12/banda-preto-no-branco.jpeg)
Silas Simões, Lorena Fadi e Luã Freitas
Trace Brasil: Já estão tocando as músicas novas ao vivo?
Luã: Estamos ansiosos para começar logo. Já estamos ensaiando para alinhar, para entender o que vai entrar compondo o que a gente já toca no show. Vai ser essa mistura e o coração está animado.
Trace Brasil: Existe a prioridade para nova turnê priorizar um público mais enxuto de acordo com a estética que vocês vem trazendo?
Silas: A gente assume a proposta, né? O clipe entrega algo mais intimista, mas a realidade da estrada é outra. Confesso que sou muito a favor desse calor humano. Estou ansioso para tocar para a massa. A gente fez esse clipe para mostrar que a música cabe bem para todos esses ambientes.
Lorena Fadi: Eu amo que o vertical é esse “nós”, esse adorar. A palavra diz “onde estiverem dois ou três eu estarei lá”
Trace Brasil: Alguns artistas, tanto do segmento católico, quanto do evangélico, podem entregar letras menos objetivas em relação a adoração. Vocês acham válido entregar letras de interpretação ambígua para conquistar novos públicos?
Lorena Fadi: A Bíblia que tudo que é louvável a gente pode fazer. Eu não gosto de questionar o chamado do outro. Então se a pessoa está em Deus e vejo bons frutos nela fazendo aquilo, eu não vou questionar e dizer que aquilo não é de Deus. Acredito que a pessoa tem que se entender em Deus e saber como ele quer usá-la.
Silas: Eu não vejo problema nessa forma menos expositiva sobre os termos religiosos. Acho maravilhoso porque não vejo como estratégia de conquistar pessoas de uma maneira ruim. Acho uma boa forma de conquistar pessoas. Temos de entender que algumas canções têm que trazer termos mais comuns para podermos levar essa mensagem de paz. Não é querer os números do secular, mas querer a vida do secular, o coração de quem ainda não ouviu a palavra de Jesus. Se pudermos usar toda a riqueza da língua portuguesa, vamos fazer isso para alcançar as pessoas.
Luã: É exatamente isso. A gente entende o ambiente e usa as ferramentas para alcançar as pessoas.
0 comentários