No dia 14/9, às 19h, a cantora e compositora Iaiá Drumond faz o show, no Teatro Sesi Minas (R. Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia), de lançamento do seu mais recente trabalho intitulado “Acende o candeeiro”, gravado com o grupo Arcomusical Brasil, composto por cinco berimbaus. O disco, que contém sete faixas autorais e com os parceiros Sérgio Pererê, Marquim D’Morais, Militani de Souza e Léo Garcia, e conta com as participações de Tamara Franklin e Júlia Tizumba, poderá ser ouvido nas plataformas digitais a partir de 8/9. “O grande diferencial deste álbum, é que não existe nenhum disco que tenha essa estrutura de afinação dos berimbaus, como o Arcomusical Brasil trabalha, com canto, no formato canção”, ressalta Iaiá Drumond. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Os ingressos para o show custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), e podem ser adquiridos na bilheteria do Teatro ou no site da Sympla. A classificação é livre.
“Eu gostaria de contar um pouco dessa história da capoeira pelo viés de um olhar feminino. Existem poucas mulheres que compõem músicas de capoeira. Claro que existem discos de mestras que gravaram suas canções, mas em relação à produção masculina é um número muito pequeno, aponta Iaiá Drumond. “Acende o candeeiro” é um álbum com canções compostas baseadas na cultura e musicalidade da capoeira. Capoeirista há 20 anos, a artista cria esse trabalho como uma ode à essa expressão que é uma manifestação cultural afro-brasileira que contempla dança, arte marcial, música, jogo e religiosidade. “Nas estruturas dessas canções temos: Ladainha, que são canto mais longos, narrativos; Quadras, que é uma estrofe com quatro versos; Canto corrido, que se caracteriza pela junção do verso do cantador com as frases do refrão repetido pelo coro total ou parcialmente”, explica a cantora. Foram usados sete toques de capoeira, tanto Angola quanto regional, na inspiração das sete faixas do álbum.
Cabe ressaltar que o disco tem como inspiração a cultura da capoeira, mas não é uma representação desta. Como artista da música brasileira, Iaiá leva para o álbum a riqueza desta cultura ancestral com influências da música popular, e cumpre o seu papel de artista e capoeirista de colocar à baila esses toques. Para o leigo, o disco é de capoeira pura, para o inserido neste mundo, o disco é uma intensa homenagem à arte de luta preta. Inteiramente gravado com cinco berimbaus afinados dentro do sistema temperado em que estes instrumentos constroem harmonias, diferentemente de como acontece na roda de capoeira, Iaiá destaca que “não é um disco tradicional de capoeira, com a formatação em que as mestras e mestres gravam, pois não sou mestre. Tenho profundo respeito a eles e a tudo que fazem por esta cultura e por, também, não querer excluir da musicista que sou, tudo que posso fazer agregando as tantas abordagens e musicalidades da minha trajetória”, explica a cantora.
“Acende o candeeiro” tem como objetivo, segundo a artista, “levar a capoeira, que é patrimônio cultural imaterial para além da roda, para outras pessoas que consomem música essencialmente brasileira”, afirma Iaiá. Durante o show, a cantora levará quatro capoeiristas que farão uma ponte entre o álbum e a tradição da capoeira.
Sobre Iaiá Drumond
Efetiva do Coral Lírico de Minas Gerais, aos 12 anos Iaiá Drumond ingressou no coral infantil do Palácio das Artes. “Minha família por parte de pai é muito musical, daquelas que se sentam em roda e cantam por horas. É minha família negra. Já na família da minha mãe, meu avô sempre cantou também. Não era a profissão dele, mas ele fazia parte de um grupo de seresta e se apresentava na cidade em que morava”, lembra a artista. Nessa trajetória, a cantora participou de festivais nacionais e internacionais. “Inclusive fomos para um concurso mundial na Alemanha e voltamos com diploma de prata da categoria que competimos. Nesta ocasião também cantamos em uma missa no Vaticano. Passei toda a minha adolescência cantando coletivamente, mas sentia que queria cantar solo”, conta a Iaiá.
O canto popular chegou em seu repertório quando já estava se tornando adulta. Por seis anos cantou em shows de rua no projeto Minas ao Luar, do SESC, em cidades do interior de Minas Gerais, participou de uma peça de teatro cantando Dalva de Oliveira e outras cantoras da época da rádio, montou uma banda de música autoral chamada “Nós, por exemplo”, que lançou um CD. Em carreira solo, Iaiá tem um disco lançado, Γαία , de 2021.
Acende o Candeeiro – faixa a faixa
– Angola Mandou me Chamar – composta na pandemia. A música surgiu durante um banho de madrugada. “Passei horas no telefone com uma amiga, cantora, negra, que mora atualmente na Itália falando de todas as dificuldades e enfrentamentos que a mulher negra passa, o preterimento, a falta de amor, de oportunidades e sobre ‘voltar pra casa’”, diz Iaiá Drumond. “Angola mandou chamar” abre o álbum porque apresenta a ideia de ancestralidade. “Honrar o que veio antes, entender que somos a soma de todos que vieram antes e precisamos sempre estabelecer e ressignificar essa ponte Angola/Brasil. É um convite ao retorno”, diz Iaiá.
– Vem, pode chegar – parceria com Militani de Souza em que ele fez a letra e Iaiá a música. “E sabe o que é curioso? Até hoje não nos conhecemos pessoalmente”, revela a artista. O refrão diz “Se for do bem, bem-vindo. Se for do mal, fica lá fora”. “Vem, pode chegar” é a segunda do álbum porque depois de convidar a todos para se conectar com o ancestral, chama para chegar e ficar.
– Talento – esta foi a primeira música de capoeira composta por Iaiá Drumond inspirada nesta estética, fazendo um mergulho profundo na musicalidade da capoeira. “Talento é uma ladainha: um texto mais longo, narrativo, em que o Marquim D’Morais, que é o letrista, provoca: De onde vem o talento? Não há talento, só estrada. Nada cai do céu além da chuva”.
– Ternura – composta na pandemia, “no auge de tudo, enclausurados, milhares de pessoas morrendo, eu e mais dois artistas do Palácio das Artes, estávamos fazendo uns vídeos remotos para nosso trabalho e a palavra ternura foi uma provocação”, lembra a compositora. A pergunta foi: como manter a ternura em tempos assim?
– A história do passarinho azul – uma parceria de Iaiá com o bailarino Léo Gracia, a canção foi composta da pandemia. “O Léo me mandou essa letra tão singela quanto forte, já com uma métrica de uma quadra e ela nasceu de uma vez”, lembra a compositora. A letra conta a história de um passarinho que não queria mais voar porque tinha uma perna só. Depois que ele entende que “em sua terra choveu, acalanto foi riacho que cresceu, correu, viveu”, ele se apruma e percebe que, mesmo com uma perna só, ele pode sim, voar.
– Tudo tem seu lugar – a música foi composta quando o fecebook ainda era a rede social mais utilizada. Marquim D’Morais, parceiro nesta canção, escreveu essa letra e postou no FB. “Na hora que bati o olho na letra, senti vontade de fazer a música e pedi à ele, que negou. Disse que ele ia fazer a música e tals”, conta Iaiá. Um ano depois, Marquim entregou a letra para que Iaiá fizesse a música.
– Solta a mandinga, camará – inspirada numa desilusão amorosa, a letra foi composta por Iaiá na pandemia. “Neste caso, a única canção do álbum que a letra é minha e a música de algum parceiro, neste caso, o Sérgio Pererê”, relata a artista. “Mesmo que eu tenha escrito com raiva (rs), ela tem um ar muito da ‘volta por cima’”. A ideia da música lembra Vinícius e Baden que diz que “capoeira não cai e quando cai, cai bem”. A canção encerra o álbum de forma alegre e positiva.
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