A artista gravou o audiovisual de “A Conta Vai Chegar” durante a sua World Tour do ano passado, com o apoio de expoentes do movimento afro-cultural de Portugal, e passou por 9 países de 3 continentes no primeiro semestre deste ano
No dia 1º de abril , a cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira lança o clipe de “A Conta Vai Chegar” , faixa do álbum Faminta (2022). Com realização de Alets e direção e produção de TAUMKAOSAKI, conta com a participação de importantes personagens expoentes do movimento afro-cultural de Portugal. Filmado durante a sua Volta ao Mundo do ano passado, a escolha do local é simbólica: foi gravada às margens do Rio Tejo, no Cais das Colunas, onde o primeiro navio negreiro da história aportou, em frente à Praça do Comércio (Lisboa), onde os Os portugueses comercializavam os africanos escravizados.
“Essa música é uma profecia. É quando você profetiza coisas para um futuro não tão distante, sabe? ‘A Conta Vai Chegar’ fala sobre dívida histórica, sobre reposição, sobre como é importante que as pessoas negras e originárias, que sofreram com a colonização, consigam cobrar essa conta. A falta de oportunidades que temos na vida vem muito por essa dívida que o devedor não quer pagar. Então acho que essa canção vem como uma motivação, um ímpeto para que consigamos cobrar o que é nosso” , explica.
Bia se apresenta em Portugal desde 2018, levando para o país europeu as questões raciais, políticas e sociais que fazem parte do seu repertório. Desde aquela época, ela percebeu que o debate sobre o racismo não era tão avançado quanto no Brasil e, a partir de 2023, conectou-se com ativistas do movimento afro-cultural da terra de Camões.
“Eles têm uma resistência muito bonita, são forjados com muita luta e com um processo de invisibilização da luta muito grande, sendo necessário de ser aqui. No Brasil, ainda temos uma maioria da população negra. Então, em algum lugar, conseguimos fazer sermos visíveis e ouvidos, temos um Ministério da Igualdade Racial, por exemplo. Em Portugal, eles são invisibilizados. O movimento negro em Portugal é usado para pautas específicas e depois não é abraçado nesse lugar de necessidade de luta” , esclarece Bia .
“As pessoas vão falar que lutam pelas causas sociais, colocam várias pessoas negras, mas quando falamos das causas raciais, não tem tanto engajamento. Eu conheci as batucadeiras das Bandeirinhas Pan-Africanistas, conheci várias pessoas especiais que estavam me situando como funciona o movimento negro em Portugal. Fui me apresentando nesse lugar. A socióloga Cristina Roldão e a atriz Isábel Zuaa fizeram uma ponte entre mim e várias pessoas nesse movimento. E eu acho que cada vez mais me tenho aproximado da realidade e da luta do movimento negro em Portugal. Tenho sido muito acolhida. Inclusive, esse clipe conta com a participação da companhia de atores e atrizes Aurora Negra, que faz parte desse movimento” .
Bia também trouxe para o videoclipe de “A Conta Vai Chegar” duas figuras muito importantes do movimento afro-cultural português. Uma delas é Ilda Vaz, líder das batucadeiras Bandeirinhas Pan-Africanistas, da comunidade Boba, um coletivo de mulheres cabo-verdianas empregadas domésticas que encontraram no batuque e na música a suas válvulas de fuga das mazelas do cotidiano.
“A dona Ilda é uma senhora cabo-verdiana que trabalha na limpeza e é uma compositora incrível. Canta com o coração. Me encontrei com ela pela arte mesmo. Fui apresentar a ela por Cristina Roldão e a gente já se atualizou na vida. Nós temos como família. Eu sou muito grata por poder compartilhar momentos de arte, de conhecimento e de cuidado com a dona Ilda. Ela me faz acreditar que eu vou conseguir chegar na idade dela fazendo arte e revolução como ela faz. Ela é uma inspiração pra mim” .
A outra personagem é Cláudia Simões, mulher negra portuguesa, símbolo recente da resistência à violência racista da polícia lusitana. Em 2020, Cláudia foi covardemente agredida por policiais porque não possuía no momento um cartão de transporte de ônibus de sua filha menor de idade. Ela foi tirada do veículo pela guarda e foi ferozmente espancada. Atualmente o seu caso corre na justiça portuguesa, que se recusa a considerar os excessos de compromissos pela corporação. Em novembro de 2023, Bia realizou um show beneficente em Lisboa para captar recursos para o processo, que ainda está em curso.
“Cláudia Simões é uma mulher negra que sofreu violência policial em Lisboa da forma mais cruel possível e covarde. Ela foi violentada e eu não preciso falar muito dessa história porque há vídeos na internet mostrando isso. As pessoas filmaram mas não fizeram nada para socorrer aquela mulher” , indigna-se Bia . “A presença dela no clipe é de extrema importância, quero mostrar que ela não está só e que a conta vai chegar. Essa profecia também foi feita para Cláudia: a conta vai chegar. Não importa o tempo que demore, não importa como eles tentam maquiar a situação. A conta vai chegar sim e a presença dela nesse clipe é para mostrar que, por mais que eles tentem, nós continuaremos de pé, vivas e luta” !
O clipe de “A Conta Vai Chegar” marca a união do ativismo racial brasileiro de Bia Ferreira com expoentes do movimento afro-cultural de Portugal, denunciando que não importa em qual lado do Atlântico se preocupa, as demandas por dignidade e contra a violência têm as mesmas urgências.
A presença de Bia Ferreira no cenário internacional está em constante crescimento. Seu primeiro show de 2024 aconteceu em janeiro, em Nova York, como único representante brasileiro em um dos principais festivais de world music do mundo, o globalFEST, no Lincoln Center. Em fevereiro, embarquei para sua primeira turnê no Canadá, fazendo parte do Mês da História Negra. Em março, foi destaque em um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, o South by Southwest (SXSW), com três apresentações aclamadas por público e crítica que a acompanharam em Austin, no Texas (EUA). E agora ela divulga a agenda restante do primeiro semestre. De janeiro a julho, são 36 concertos em 9 países de 3 continentes. Essas apresentações fazem parte da estratégia de internacionalização da carreira do artista.
Em janeiro de 2023, foi o único representante brasileiro no projeto Tiny Desk atende globalFEST . Em maio, embarquei para a Europa para iniciar uma extensa temporada de shows no Hemisfério Norte que durou até novembro. Ao todo foram 50 apresentações, em 11 países da Europa e da América do Norte. Divulgando o afeto como tecnologia de sobrevivência, foi um artista independente brasileiro que mais se apresentou nos principais festivais de world music do mundo.
AGENDA BIA FERREIRA
ABRIL
01/04 – Musicbox – Lisboa, Portugal
04/04 – La Nau – Barcelona, Espanha
04/05 – Festival Impulso – Caldas da Rainha, Portugal
04/06 – Teatro Sá da Bandeira – Santarém, Portugal
13/04 – Centro Cultural Olido – São Paulo, Brasil
20/03 – Casa de Cultura do Butantã – São Paulo, Brasil
MAIO
18/05 – Jam em Jette – Bruxelas, Bélgica
25/05 – Festival Aleste – Madeira, Portugal
26/05 – Festival Passagens – Lisboa, Portugal
27/05 – Festival Queer – Heidelberg, Alemanha
JUNHO
12/06 – Festival Ulmer Zelt – Ulm, Alemanha
15/06 – Festival Good Good – Göttingen, Alemanha
20/06 – Festival Brasis – Curitiba, Brasil
25 a 30/06 – Residência Artística – Colômbia
JULHO
07/11 – Festival Cruilla – Barcelona, Espanha
13/07 – Festival Pod’ring – Biel, Suíça
20/07 – Festival Horizonte – Koblentz, Alemanha
21/07 – Festival do Asfalto – Düsseldorf, Alemanha
27/07 – Festival Latinidades – Brasília, Brasil
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