Após três indicações, Beà Ayòóla conquista Prêmio Shell e se consolida como grande destaque na direção musical

por | março 20, 2025

Por fim, Beà Ayòóla conquistou seu primeiro Prêmio Shell na categoria ‘Música’ por “Amor de Baile”. Antes dessa vitória, ela já havia sido indicada a este mesmo prêmio por “Esperança na Revolta”, aos 23 anos, e “Meus Cabelos de Baobá”, espetáculo que também lhe rendeu uma nomeação ao Prêmio APTR. Agora, aos 29 anos, a compositora, cantora e diretora musical celebra a vitória como um marco em sua trajetória artística e uma conquista coletiva para o teatro negro.

Em “Amor de Baile” a trilha resgata a soul music para abordar a afetividade e o empoderamento racial que marcavam os bailes da década de 70, durante o movimento Black Rio. “Agradeço pelo ouvido atento, pela atenção dos jurados em olhar para a gente, para ‘Amor de Baile’. É um prêmio que abre portas para um espetáculo que celebra o amor preto, a partir da intelectualidade que herdamos de Beatriz Nascimento, de Dom Filó, de Lady Zu e de tantas outras pessoas que viveram esse momento para que hoje a gente possa estar aqui, reverenciando a Lapa, Mesquita, Água Santa, Magé, Saquarema, Nova Iguaçu, Belforoxo, Irajá. É um portal que se abre para que um novo momento aconteça — e aconteça com muito axé”, comemora Bèa.

Mulher negra e lésbica, Beà reafirma seu protagonismo em um espaço historicamente dominado por homens. “Poder estar nesse lugar tem a ver com um processo de existência enquanto artista, porque a gente sabe que essa trajetória é árdua. A música tem um processo extremamente patriarcal, então ter a sua subjetividade respeitada e reconhecida é uma vitória coletiva. Esse espaço é sobre o fundamento de mulheres pretas na música e nos lugares de poder, sobre a nossa subjetividade que foi negligenciada em diversos momentos históricos. Hoje, ocupar esse espaço é um movimento de resistência e afirmação”, destaca.

Para Beà, esse prêmio é sobre lutas coletivas. “Teatro não se faz sozinho, muito menos música. É o momento em que a gente reverencia nossa ancestralidade viva — os que já foram, os que estão e os que virão. “Amor de Baile” nessa trajetória é o marco de um legado que o movimento Black Rio nos deixou, sobre essa vivência, sobre acreditar em possibilidades, na imaginação radical negra. Existir em conjunto e acreditar nos sonhos coletivos”, reflete.

A vencedora do Prêmio Shell na categoria ‘Música’ faz questão de reconhecer o impacto dos coletivos e das pessoas que contribuíram para sua trajetória. “Também é sobre os coletivos que me formam, como o Dembaia — um grupo de cinco mulheres pretas que estuda a cultura do oeste africano e a cultura afrodiaspórica. É sobre os meus mestres Regina Rocha,Marcelo Daguerre, Mestre Pale Babou Seck, o meu parceiro Pedro Paulo Júnior, e tantas outras pessoas que fazem parte dessa caminhada. Esse processo coletivo também passa pela Rádio Assuna e pela Gambiarra Produções — foi nesse home studio que o processo criativo e os ensaios musicais de ‘Amor de Baile’ começaram a acontecer. Tudo isso é parte desse momento”, reflete Beà.

Com essa vitória, Beà Ayòóla reforça sua posição como uma das principais referências na direção musical de sua geração.

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