“Eles não promovem as mulheres da cena, então bora fazer a nossa”: Entrevistamos a rapper MC Soffia

por | maio 17, 2023

MC Soffia tem apenas 19 anos, mas mais bagagem que muito músico vererano. Com mais de 10 anos de carreira, a rapper traz na vivência e nos versos a maturidade de quem está nessa vida ciente de como funciona o jogo para as minas pretas.

Recentemente, a artista veio a São Paulo para gravar clipe da icônica faixa “Lady da Quebrada”. Na favela de Paraisópolis, Zona Sul, Soffia dançou e cantou o empoderamento feminino negro dentro da periferia. “A gente tem que mostrar nossa realidade, entendeu? Fiz um trabalho incrível com jovens incríveis de lá”, conta.

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Imagem: Instagram

Orgulhosa da própria trajetória, a MC tem escutado bastante do trabalho, o EP “Rapper”, lançado no ano passado. Ela cita faixas como ‘Realeza’ e a própria ‘Lady da Quebrada’ como exemplo de sua maturidade musical. “Eu tenho 11 anos de carreira e é a primeira vez que eu escuto direto as minhas próprias músicas. Antes eu lançava e tal, mas não ficava vidrada igual fiquei nesse”, revela a paulistana que atribui sua evolução musical aos estudos constantes. “Eu fui procurar melhorar e fazer músicas que eu gostasse de ouvir, para mostrar para as pessoas e elas terem vontade de ouvir na balada, dançar. Quis trabalhar com produtores para poder fazer o beat do jeitinho que eu achasse o melhor para o atual momento”. 

Soffia fala com domínio sobre o que espera e o que representa. Trilhando a batalha de todo artista independente no Brasil, ela entende que os frutos demoram mais para serem colhidos. Para compensar a falta de apoio de uma grande estrutura, a Lady da Quebrada coloca total atenção na sua produção para que o reconhecimento venha pela excelência. 

Embora tenha vivido as dores do racismo na infância e na adolescência, sua arte expressa mais foco na força do que no rancor. “Existem barreiras, existem pedras no meu caminho, mas isso me deixa mais forte, vai me motivando, então coisas incríveis acontecem na minha vida e aproveito as oportunidades”, aponta.

Filha da produtora cultural Kamilah Pimentel, Soffia sempre recebeu apoio em casa para seguir no que desejasse, hoje esse apoio parte de mais de  400 mil seguidores no Instagram e mais de 1 milhão no Tik Tok. Para ela, ainda é pouco. A cantora quer conquistar muita gente por toda parte. Sua ambição é justificada pela fala segura e ciência do própria talento.

Para isso que eu tô lutando né? Para cada vez mais eu ser ouvida, cativar mais pessoas de diversos lugares, do Amazonas aos Estados Unidos e mostrar meu trabalho.  Fico muito feliz, sempre muito grata, mas um dia cai a minha ficha sobre o tanto que influencio algumas pessoas

Para o EP “Rapper”, Soffia recebeu negativas para os convites de feat. Ela conta que convidou pessoas para ter feat em todas as faixas, mas diante das impossibilidades alegadas pelos convidados, “matou no peito” e fez o trabalho sozinha. “Eu já tinha música, escrevi a música pensando no artista e mandava mensagem pedindo só a parte dele, nem vídeo pedi, mas nenhum aceitou”, revela. 

Seja por desinteresse ou falta de tempo, os artistas convidados perderam a chance de estar nas linhas da história de um dos nomes mais promissores do rap nacional. “O EP está sendo sucesso e assim que estourar, para os próximos projetos eu vou selecionar muito bem os artistas que vão entrar porque quando eu precisei muitos não quiseram ajudar”. 

Em um meio ainda dominado por homens, Soffia sente falta de mais união para que as minas sejam mais celebradas. Embora nomes como Tasha e Tracie, Karol Conka e Flora Matos tenham conseguido se achar na cena, há muito menos visibilidade em comparação com os artistas homens. Segundo ela, os rappers se ajudam mais, convidando até outros homens que nem cantaram no som para figurar nos clipes, mas raramente promovem as meninas que estão começando na cena. “ É bem raro ver esse movimento deles com mulheres. Então bora fazer nossa terra,  fazer um festival só com mulher, porque eu vejo esses festivais e a maioria de homem e somente duas mulheres no máximo”, provoca Soffia. 

A cantora espera fazer feats internacionais para os próximos trabalhos. Com algumas músicas guardadas para serem lançadas ano que vem, Soffia segue entre as bravas, mais que promessa e mais que música, um movimento para a transformação da cena.

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