“Não adianta andar com cordão de ouro de R$ 100.000 e não entregar nada no show”: Falamos com Ice Blue, novo conselheiro de uma nova geração do funk

por | maio 8, 2023

Ice Blue e seus companheiros de Racionais MC´s desfrutam de um patamar muito desejado na música brasileira. Unanimidade entre público e crítica, respeitado por seus pares, e tudo isso sem nunca se render à lógica da indústria musical vigente em cada fase por qual o grupo passou.

É sob o status de lenda que Blue se tornou conselheiro da GR6,  maior produtora musical da América Latina, referência no segmento da música urbana, do funk e trap, além de gerir a carreira de mais de 300 artistas. “Essa ideia partiu da Ewellin Tavares (diretora de comunicação da GR6) e ela tinha essa visão de que eu poderia ser uma peça importante dentro da empresa por conta  do conhecimento que eu tenho, pelo respeito que eu tenho na cena e da necessidade de cabeças pensantes e profissionais dentro do meio”, conta o rapper.

Preview

Foto: Jef Delgado

A GR6 conquistou a atenção do artista, também por um momento emblemático. Segundo Ice Blue, logo de cara ele conheceu o responsável pelo financeiro da empresa, um preto retinto como ele, e o encontro funcionou como um sinal de que ali era o lugar correto para aceitar a empreitada de acompanhar a nova geração de artistas da música afrourbana surgindo no país. “Você tá ligado, isso para nós é uma festa. É sempre importante esse cara de confiança numa empresa deste tamanho. E geralmente nós (pretos) estamos excluídos, não importa o maior ou melhor profissional que você seja”. Diante das boas impressões, o compositor entendeu que pode ser uma peça essencial na condução de caminhos dos próximos talentos musicais da produtora.

A oratória firme de Blue sobre a atual missão e o que entende por um caminho saudável para tornar movimento musical sólido são resultado de mais de 30 anos de carreira, onde foi um dos fundadores de algo sem paralelo no Brasil, um movimento Hip-Hop, uma forma de resistência e outro jeito de fazer poesia, música e produção musical. “Nós somos de um movimento que nasceu tendo que fazer tudo do zero. Não tinha um exemplo a se seguir aqui no país”, conta.

A ideia do novo conselheiro da GR6 é dar aos artistas de funk contratados pela produtora um norte de longo prazo. Nada de hits passageiros e carreiras que desaparecem. O exemplo vem do rap que conseguiu firmar nomes que vem lançando álbuns de qualidade consistentemente, a exemplos de Djonga, Baco Exu do Blues, Emicida, Rashid, e só para ficar numa geração mais recente. Para Blue, o funk carece desse pensamento “lá na frente” e para isso sua presença existe agora junto aos outros responsáveis pela condução da carreira dos artistas.

Com a presença do indefectível Racional, mais rap será acolhido pela empresa gerida por Rodrigo Oliveira. “Isso é uma coisa que sem eu falar, já vem do Rodrigo, do pessoal. Ele é visionário, está olhando o mercado, tudo que está acontecendo ele vê”, elogia Blue.

Preview

Foto: Jef Delgado

Se depender de Ice Blue e de seu trabalho na GR6, os ciclos de sucesso temporário de artistas do funk estão com os dias contados. A meta é fazer com que os artistas entendam como se manterem relevantes no mercado artisticamente além de um megahit. “Às vezes o cara não entendeu  que ele cresceu, que ele fez sucesso, que ele tava no zero e lançou um som, lançou dois e subiu. Quando ele chegar lá em cima, ele não consegue entender que ele é grande, mas precisa continuar trabalhando”, explica.

As apresentações dos Racionais costumam ser eventos apoteóticos, quase religiosos. No palco Sunset do Rock in Rio 2022, o grupo paulistano fez história e essa expertise para apresentações será compartilhada com os meninos que sonham ganhar a vida rimando. “Menos é mais. Meu público tem que ter saudade de mim também. Entrega de show tem que ser foda”, aponta o cantor.

“Nada de ficar falando com DJ de costa para o povo ou  não ensaiar porra nenhuma, entendeu? Não adianta andar de carro de milhão, cordão de ouro de 100.000 e não entregar nada no show”

As narrativas de peito e bunda parecem não agradar tanto o rimador de 54 anos. Não que seja proibido cantar certa realidade, mas a história dentro das músicas precisa contar com mais amplitude  na visão Blue. Ele entende que todas as plataformas tem vantagens e desvantagens e que sabe que alguns MCs tentam se moldar para a velocidade do Tik Tok, mas não é isso que vai gerar uma carreira consolidada. Ao menos não o principal fator

“Tem cara que se você catar 20 músicas, duvido se não tem ,mina, mina, mina. Está na mesmíssima. Isso o ouvido naturalmente começar a dispensar, deixa de ser interessante. O tempo de vida das músicas de funk estão bem curtinhas”

Ice Blue tem muita propriedade para falar e a atenção dos mais jovens foi conseguida imediatamente dentro da GR6. Toques como saber se comportar, entender que não é apenas subir no palco, mas entender todos os detalhes da carreira e saber como se comunicar para que todos gostem da sua música. “Se sua arte chega para uma criança, já era, a longevidade é maior. ‘Boquinha da Garrafa’ era sobre sexo, mas fizeram de um jeito que a família toda cantava e dominou as paradas”.

Contra o comodismo e a mentalidade estagnada, até mesmo a qualidade dos videoclipes vai aumentar de padrão sob a batuta do rapper. Nada de clipes que tem imagens que parecem terem sido feitas nos anos 2000. A meta é tornar os funkeiros da GR6 verdadeiras potências do gênero em todos os aspectos. E à essa altura, quem duvida do que Ice Blue pode fazer?

 

 

0 comentários


– ÚLTIMOS VIDEOS –


– ÚLTIMAS NOTÍCIAS –

Raffé participa do projeto “Perfil”, da Pineapple

Raffé participa do projeto “Perfil”, da Pineapple

Em sua 91ª edição, o projeto “Perfil” vai receber Raffé. Com mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify Brasil, o artista lança “Fuck Fake”, que estreou nesta quinta-feira (28), em todas as plataformas de música e no canal oficial da Pineapple Storm no Youtube....