O Rei Momo ainda nem recebeu as chaves da cidade e o Carnaval de 2025 já nasce marcante por uma dupla comemoração. A primeira são os 40 anos da Axé Music, um dos movimentos mais originais e transformadores da música brasileira. Já a segunda se dá pelos 25 anos da carreira de Gilmelândia, figura expoente do ritmo, tanto pela reconhecida animação na condução dos trios elétricos em Salvador, quanto pela inegável criatividade nas composições.

Para marcar o jubileu de sucesso, Gilmelândia lança a música “Tá Docinha”, uma canção com toques de merengue e lambada. Essa receita contém justamente um dos segredos da longevidade da Axé Music: a capacidade de condensar e absorver diferentes células rítmicas, embaladas pela potência percussiva característica da Bahia.

“A música nasceu de uma brincadeira que faço com as mulheres. Para qualquer lugar que eu ande, seja na farmácia ou na feira, eu sempre olho assim para a menina que tá me atendendo, coloco o dedo na boca, e digo: “humm… você tá tão docinha, hein? Tá com gosto de morango”. É uma brincadeira para interagir com aquelas pessoas que estão ali naquele corre danado. Aí, de tanto fazer isso, veio a ideia de compor”, conta Gilmelândia, aos risos.

“Eu sou completamente apaixonada por essa música porque, no fim, é uma grande homenagem para as mulheres. Elas merecem muito, pois são doces’’, completa a artista.

A composição é assinada por Gilmelândia, com parceria de Tenison Del Rey e Edu Casanova, dois hitmakers do carnaval baiano. Já o arranjo é do maranhense Léo Castro, que traz referências do Norte e Nordeste do Brasil.

Tá Docinha vem acompanhada de um videoclipe, roteirizado e pilotado pela diretora Kell Smith. A trama se passa estrategicamente em uma quitanda de frutas, elemento que une a letra da composição com o passado de Gilmelândia – ex-vendedora que superou a condição social por meio do seu talento, mas também com muito esforço e dedicação à carreira artística.

“É emocionante essa volta no tempo porque mexe com algo da minha adolescência, quando eu vendia salada de fruta. Foi um período de escassez, mas também feliz porque sempre gostei de trabalhar com gente e ganhar meu próprio dinheiro. Acho que por isso valorizo tanto as pessoas que estão lá dando duro na profissão, seja o vendedor de cerveja, do espetinho ou do cordeiro nos blocos de Carnaval. Por isso, faço essa brincadeira com as mulheres do Tá Docinha, porque sei da luta delas no dia-a-dia. Eu passei por isso…”, pontua.

Nascida em Salvador, Gilmelândia estourou no Carnaval de forma meteórica. Em 1999, aos 24 anos, já era vocalista da Banda Beijo, responsável por um dos maiores e mais tradicionais blocos da folia soteropolitana. Dessa época, Gil se consagrou com hits como ‘Arrastão’, ‘Peraê’ e ‘Bate Lata’.

“Neste ano de 1999, tive um Carnaval marcante e incrível. Eu saí fantasiada de metade robô e metade mulher, porque vivíamos o começo dessa era da informática e da tecnologia, que hoje resulta na Inteligência Artificial. Bom, eu saí em cima de uma empilhadeira, que me pegava no trio e me levava até o folião, na parte de baixo. Foi uma parte cênica muito trabalhada e criou uma comoção danada”, relembra, emocionada.

Já na carreira solo, a cantora baiana destacou-se com sucessos como ‘Maionese’, ‘Miau’ e ‘Chegou o Verão’ – esta última faz parte do álbum O Canto da Sereia, que foi indicado ao Grammy Latino, em 2005.

Entusiasta da Axé Music – movimento do qual é tributária e não abandona –, Gilmelândia prevê longa vida ao ritmo que ajudou a consolidar nestes 40 anos.

“A Bahia é um lugar com muitos gênios que vão criando novas células musicais e dando sobrevida ao movimento. O Axé é samba-reggae, afoxé, galope, samba de roda, pagode… São muitas vertentes criadas que já nascem permitindo a mistura com outros. Isso oxigena a música e dá uma sobrevida incrível. Tem muita gente nova surgindo, ao mesmo tempo que muita gente vai permanecendo. É uma diversidade que atravessa o tempo”, resume.