Jota.pê prova que é uma das melhores vozes da MPB com primeira parte do álbum “Se o Meu Peito Fosse o Mundo”

por | outubro 30, 2023

Chegou às plataformas de música, pela gravadora Som Livre, a primeira metade de “Se o Meu Peito Fosse o Mundo” , o aguardado segundo álbum do cantor, violonista e compositor paulista Jota.pê. O trabalho foi dividido em duas partes (dois EPs), com cinco canções cada uma, usando a mesma lógica “Lado A/ Lado B” dos LPs. A segunda metade está prevista para chegar ao público no primeiro trimestre de 2024. O repertório deste “Lado A” reúne canções autorais, escritas por Jota.pê, sozinho ou com parceiros, e novas versões paras a músicas “Naise”, de Nina Oliveira, e “A Ordem Natural das Coisas”, de Emicida (leia abaixo o faixa-a-faixa escrito pelo próprio intérprete).

Se o Meu Peito Fosse o Mundo” foi produzido por Felipe Vassão, Rodrigo Lemos e Marcus Preto. A direção musical é de Vassão e Lemos. Preto assina a direção artística. O time de músicos que acompanha Jota.pê no álbum tem Chibatinha (da banda baiana Attooxxa) na guitarra, Silvanny Sivuca na percussão, Weslei Rodrigo e Fi Maróstica no baixo e Samuel Silva no piano. Parceiros e incentivadores do trabalho de Jota.Pê desde o primeiro momento, Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano seguem na bateria e no baixo, respectivamente. Os metais ficaram a cargo de Will Bone. E o próprio Jota.pê toca todos os violões.

Nascido em Osasco, Jota.pê lançou o primeiro álbum, ‘Crônicas de um Sonhador’, em 2015. Em 2021, veio o EP “Garoa”, que alcançou ótima repercussão. Como artista solo, o cantor teve participação muito bem sucedida no “The Voice Brasil”, da TV Globo, sendo considerado por Lulu Santos uma das melhores vozes de todas as temporadas do programa. Em 2022, após várias apresentações pelo Brasil, o cantor fez a primeira turnê pela Europa, com ingressos esgotados em todos os shows.

Paralelamente ao trabalho individual, Jota.pê é vocalista, compositor e violonista no duo ÀVUÀ, onde divide o foco com a amiga Bruna Black. Essa parceria rendeu a ambos uma indicação ao Grammy Latino em 2021 pelo álbum Onze, que reúne grandes intérpretes como Elza Soares e Zeca Baleiro. No mesmo ano, o duo foi convidado para participar do ColorsxStudios, um dos maiores canais de música do mundo. Em 2023, os dois fizeram juntos uma turnê pela Europa.

Tracklist comentada pelo cantor

 

1.Tá Aê” (Jota.pê/ Theodoro Nagô)

Na pesquisa de referências sonoras para o álbum, caí muitas vezes na obra de Mayra Andrade. Ela sempre foi uma grande influência. Por causa dela, tive vontade de trazer essa aura cabo-verdiana na percussão, no toque da guitarra e mesmo no tema desta canção. Na letra, meu parceiro Theodoro Nagô cita lugares que nós dois ainda não conhecemos, como Cabo Verde e Cuba, mas com os quais estamos conectados – seja por questões musicais, seja por vínculos ancestrais. São culturas tão presentes na nossa realidade, tão marcadas no nosso sangue e na maneira como raciocinamos a música e a vida, que parecem estar aqui, do nosso lado, o tempo todo. Mesmo que a gente nunca tenha estado lá.

 

2.Um, Dois, Três” (Jota.pê)

Essa canção existe desde 2015 e, sem nunca abandonar o samba, foi se transformando no decorrer dos anos até chegar à forma atual. A referência aqui é o trabalho do cantor inglês Tom Misch, um artista que amo muito. Trouxemos a faixa mais para esse clima de samba-rock, com um groove bem definido feito com três guitarras: a minha, a do Rodrigo Lemos e a do Chibatinha. Aqui, meu violão sai de cena e deixa o protagonismo para o baixo do Weslei Rodrigo, que guia toda a levada. Conseguimos trazer a faixa para o universo do baile charme, para o rolê de negão, um clima que a gente buscava muito. “Um, Dois, Três” ganhou um clipe.

 

3.Naise” (Nina Oliveira)

Eu já toco “Naise” em shows há um bom tempo. Até que a própria Nina Oliveira, uma artista que eu admiro muito, sugeriu que eu fizesse uma gravação oficial para o disco. Tenho uma história profunda com o forró, um gênero que me sustentou no início da carreira. Tudo começou quando alunos de uma escola de forró começaram a usar minhas músicas nas aulas. A partir daí, passei a fazer shows nas festas deles. E como se tratava de uma escola grande, com filiais em várias cidades, acabei viajando para me apresentar. No caminho inverso, a galera do forró passou a frequentar meus shows. Por tudo isso, fiquei com muita vontade de colocar “Naise” no disco. Fazendo toda a diferença, Xênia França aceitou o convite para dividir a faixa comigo. É o único dueto deste lado A.

 

4.“A Ordem Natural das Coisas” (Damien Seth/ Emicida)

O trabalho do Emicida é uma das minhas maiores referências, no palco e fora dele. Foi por causa do álbum AmarElo que cheguei no Felipe Vassão para ser um dos produtores deste meu disco. Essa canção, especificamente, deixa expressa a importância dos pequenos acontecimentos, a beleza dos fatos corriqueiros e cotidianos, tudo o que merece ser valorizado. Quando pensei em chamar este álbum de Se o Meu Peito Fosse o Mundo, minha ideia era exatamente essa: se o meu peito fosse realmente o mundo, quais seriam as coisas realmente valiosas, importantes e prioritárias? As pequenas coisas, certamente. Gravei um vídeo cantando essa faixa logo que o AmarElo foi lançado e o Emicida viu. Nossa relação começou ali. E eu fiz questão de ter essa faixa defendida no meu álbum.

 

5. Ouro Marrom” (Jota.pê)

É a faixa mais importante deste álbum. Foi nela que consegui, pela primeira vez, desenvolver um texto que me agradasse sobre minha relação com o racismo, com ser negro. Eu nunca tive pressa de escrever sobre esse assunto porque precisava, de fato, ter algo a dizer que agregasse à discussão. Nesse sentido, fiz a letra como uma provocação a mim mesmo. Na questão musical, a provocação veio do Marcus Preto, que me pediu músicas lentas para o disco, pois queria explorar minha interpretação vocal. Escrevi a letra depois de ver mais uma notícia sobre racismo. Fiquei muito mal e, de madrugada, comecei a escrever: “no meu peito a mesma dor que afoga”. Pouco tempo depois, recebi uma mensagem da minha amiga Bruna Black, encantada com a beleza da filha dela. Ali, pensei que somos muito mais do que nossas mazelas, muito além da nossa dor. E fui levando a música para esse lugar de exaltação. Nós somos prósperos, nós somos maravilhosos e temos que ter riquezas, sim – em todos os sentidos possíveis.

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