Maurício Tizumba lança disco-oração “Umbanda”

por | setembro 22, 2025

Maurício Tizumba cresceu no bairro Aparecida, em Belo Horizonte, entre cantigas de umbanda, terreiros e congadas. Nesse território íntimo — onde ainda menino aprendeu a cantar para Exu, Iansã, Iemanjá, Nanã e outras entidades das religiões de matrizes africanas — ele teve o primeiro contato com a música. Hoje, aos 67 anos de idade e com mais de 50 de uma carreira reconhecida internacionalmente, Tizumba retorna às suas primeiras memórias musicais de forma inédita com o disco “Umbanda”, um registro afetivo de músicas da infância gravadas pela primeira vez em sua voz.

O álbum será apresentado em show gratuito, no Teatro Francisco Nunes, no dia 27/9 (sábado), às 19h. Antes, no dia 24/9 (quarta-feira), Tizumba convida o público para um ensaio aberto no Centro Cultural Vila Santa Rita, às 19h, também com entrada gratuita.

A seleção do repertório, composto por 15 músicas, seguiu um procedimento “tizumbístico” imprevisível, como ele nomeia seu processo criativo: gestado a partir de uma ordem livre, guiada por lembranças aleatórias de cantigas e dos chamados pontos cantados de umbanda — canções para celebrar e invocar entidades. “Apesar de hoje eu já ter virado para o candomblé, as músicas da umbanda ressoam na minha cabeça quase todo dia. Tenho uma nostalgia grande dos tempos de menino no terreiro. E lembro de várias músicas que me trouxeram bons momentos naquela iniciação sobre o conhecimento afro-brasileiro”, avalia Tizumba.

“Por isso, não me preocupei em criar uma sequência lógica, um sentido específico. Apenas fui lembrando e sentindo as cantigas e pontos de umbanda que ficaram na minha cabeça desde criança. E decidi colocar também músicas de amigos, do Sérgio Pererê e do Marcelo Diniz, que dialogam com essa tradição e são duas grandes referências para mim”, completa o artista.

A sonoridade de “Umbanda” é alicerçada por uma tríade instrumental propositalmente simples: o disco é inteiramente conduzido pelo atabaque de Tizumba e os violões e violas de Everton Coroné. Essa opção singela abre espaço para a amplitude da voz marcante de Tizumba, para os solos e harmonias sensíveis das dos violões e violas, e para o som marcante do atabaque.

Muitas das letras evocam entidades e símbolos preciosos da umbanda e de outras matrizes africanas, como “Lágrimas de Orixá” e “Licença pra Defumar”; além de “Preto velho na Canjira”, que remete à roda de cânticos presente em rituais de umbanda e candomblé para homenagear entidades; e “Jurema”, reverência à falange espiritual cultuada como protetora da natureza.

Em outros momentos, quando se dirigem às águas, ao vento, à justiça ou aos ancestrais, por exemplo, as letras soam tanto como orações quanto como afirmações políticas, reforçando a ideia de que, para Tizumba, a voz e o tambor são instrumentos de cura, memória e luta permanente. Além de um importante agente pedagógico-cultural de combate ao racismo e popularização das tradições de matrizes africanas — ainda hoje alvo de preconceitos e subjugações.

“O disco ‘Umbanda’ também é uma forma de colocar a nossa cultura na rua para que as pessoas possam adquirir esse conhecimento. A partir do momento em que ficam conhecendo nossa cultura e nossa música de forma mais próxima, isso ajuda a quebrar um pouco o racismo. E nós sabemos que o racismo infelizmente está cada vez mais forte no país, a gente tem que brigar e seguir lutando. E eu posso lutar com a música também. A voz e tambores e de tantos outros instrumentos servem também para a cura, pois combatem preconceitos e a intolerância religiosa”, avalia Tizumba.

Do Iorubá ao Bantu

Mais do que um resgate sonoro, “Umbanda” é também um disco de amadurecimento intelectual e religioso para Tizumba. Muitos dos pontos de umbanda e das cantigas entoadas no álbum são resultado da história de transição de Tizumba da tradição iorubá (que nomeia as entidades dos orixás) para a tradição bantu (que nomeia as entidades dos inquices), e da convivência harmoniosa e complementar entre a Umbanda e o Candomblé de origem bantu ao longo de sua vida.

“Eu tenho a umbanda como um verdadeiro início do conhecimento das tradições de matrizes africanas. Por isso, é uma manifestação de suma importância para o povo preto. E quando eu era criança, estamos falando aí de 64 anos atrás, não tinha o candomblé ainda em Belo Horizonte. Hoje, as minhas cantigas são todas voltadas para a cultura Bantu. Mas entendo a umbanda como a base inicial para tudo o que temos em termos de cultura e conhecimento”, diz Tizumba.

Show

Para a apresentação de estreia do álbum, no Teatro Francisco Nunes, Maurício Tizumba (voz, violão e atabaque) vai reproduzir o disco ao lado de Everton Coroné (violões e viola), mantendo o mesmo formato da gravação em estúdio, e incluindo algumas surpresas consagradas da carreira. “O fato de o disco já ser minimalista, de a gente ter intimidade com esse formato, só vai contribuir para as músicas ganharem ainda mais força no palco. E o Everton é um dos melhores músicos da cidade, é um prazer dividir esse projeto com ele”, avalia Tizumba.

Maurício Tizumba

Cantor, compositor, multi-instrumentista, ator, pesquisador, professor e capitão e congado, o artista Maurício Tizumba está em atividade desde 1972, celebrando mais de meio século de uma carreira atravessada por atuações na música, no teatro, na TV, no cinema e na educação cultural.

É um dos criadores da Companhia Burlantins, grupo teatral de rua em atividade desde 1996 e inspirado por Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil. Também idealizou, há mais de 20 anos, o Tambor Mineiro, que abriga projetos de artes cênicas, música e festejos de congado, além de ser considerado um dos principais grupos formativos de percussão em atividade no país.

Lançou seu primeiro disco, “Marasmo”, um compacto de duas faixas, em 1981. Mas foi o álbum “África Gerais”, de 1996, que lhe deu projeção nacional. Reunindo congadas, maracatus e outros ritmos afro-brasileiros, o disco incluí canções de domínio público, como “Tali-lali-lali-lê” e “Cinco Cantos de Moçambique”, ambas extraídas do repertório de congado mineiro, além de uma composição de Chico César e Zeca Baleiro, “Mandela”.

Ao longo da carreira, acumula participações ao lado de artistas como Vander Lee, Titane, Wagner Tiso, Sérgio Pererê, Marcelo Dias, Paulo César Pinheiro, Tim Rescala, entre muitos outros. E apresentações em países como Canadá, Estados Unidos, França e Itália

Estreou no cinema, tendo como forte inspiração Grande Otelo, com uma participação no documentário “Samba Canção” (2002). De lá para cá, gravou 36 filmes, entre eles “Narradores de Javé” (2003), “Batismo de Sangue” (2007), “Heleno” (2011) e “Lima Barreto ao Terceiro Dia” (2019).

 

SERVIÇO | Show de lançamento do disco “Umbanda”, de Maurício Tizumba

Quando. 27/9 (sábado), às 19h

Onde. Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, 1.321 – Centro)

Quanto. A entrada é gratuita

Show/ensaio do disco “Umbanda”, de Maurício Tizumba

Quando. 24/9 (quarta-feira), às 19h

Onde. Centro Cultural Vila Santa Rita

(Rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita)

Quanto. Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço

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