“E se eu escrevesse uma música em que eu confessasse todos os meus maiores medos?”

Foi a partir dessa reflexão que RAVIH escreveu a música “Medo”, que chega hoje, 07 de junho, em todas as plataformas digitais. “Essa letra surgiu em um momento em que eu me dei conta que estava se tornando um adulto e de como isso era assustador”, aponta o artista de Parelheiros, frisando que sua percepção de mundo foi profundamente alterada após se reconhecer como uma pessoa negra e queer. Sendo o único compositor e dividindo a produção musical da faixa com Arielly Porto, RAVIH cita nomes como Rico Dalasam, MC Tha e Yoún como referências para a canção, que possui o artista descreve como um “pop agridoce”.

A música chega acompanhada por um videoclipe em animação ilustrado e animado pelo artista Pedro Borges, com roteiro e direção de RAVIH. “Conheci o trabalho do Pedro ouvindo um podcast, fui pesquisar sobre e adorei o traço dele, achei perfeito pra história que eu queria contar, além do fato me identificar por ele também ser um jovem negro e queer”, explica o cantor. Na história contada no clipe, RAVIH embarca numa viagem de trem, onde assiste todo o seu futuro, incluindo a realização do seu maior medo, que é o falecimento da mãe: “Sempre morri de medo da ideia de me afastar dela, então escrevi a música e o roteiro como um exercício para internalizar a idéia de que o vínculo ancestral vai além do plano físico”.

Crescer enquanto um jovem negro, periférico e queer significou para RAVIH estar constantemente em alerta e o medo acabou sendo o sentimento mais predominante a maior parte do tempo. Além do medo de perder vínculos, seu receio se estendia por muitas outras variáveis, que foram desde do medo “de ser punido por Deus”, passa pelo medo de ser mais uma vítima da brutalidade policial nas periferias e, inevitavelmente, chega no medo de nunca ter as mesmas oportunidades e acessos que os seus colegas brancos. “Se eu vier a ser pai, espero muito conseguir criar meus filhos de forma que o medo seja apenas mais uma emoção e não a única que eles conhecem”, conta o artista de 27 anos.

Na percepção de RAVIH, ser artista na periferia de São Paulo é revolucionário, mas também desafiador: “Estamos o tempo todo lutando para conseguir acessar espaços e políticas públicas que nos permitam produzir cultura com excelência, mas ainda encontramos muita resistência do mercado, principalmente quando nos recusamos a vestir os rótulos e estereótipos que colocaram em nós”, expõe o artista. Apesar das dificuldades, os trabalhos de RAVIH estão gradualmente adentrando as grandes plataformas e chegando a diferentes públicos, fatores importantes já que a intenção dele é não restringir sua arte a grupos sociais específicos. Mais do que só o acesso e a ocupação, o artista parelheirense acredita num futuro onde os artistas periféricos vão criar as nossas próprias plataformas e assumir de fato o controle sobre as suas próprias narrativas e obras.

Ilustração: Pedro Borges

Em 2023, RAVIH encerrou o ciclo de seu EP de estreia (“Distância”, 2020) com turnê e videoclipe na Europa, vitória no Prêmio Pretas Potências e com o lançamento de “Além do seu portão”, primeiro single de seu álbum, que ganhou um videoclipe filmado dentro do Theatro Municipal de São Paulo e também se encontra disponível no Globoplay. O próximo passo do artista é o lançamento de “Próprio”, seu primeiro álbum, a ser lançado ainda este ano: “Medo” foi a primeira que eu escrevi e gravei para o álbum e embora a letra cite inseguranças, a mensagem dela é sobre a importância de manter vínculos e redes de confiança”, finaliza RAVIH.