Não é de agora que o cinema baiano vem enfrentando desafios para chegar ao público, principalmente quanto à distribuição nacional. A fim de ressignificar e valorizar as produções estaduais, iniciativas como a mostra ‘Cine SESI’, que chega à sua 2º edição em Salvador, democratizam e incentivam o acesso do público às produções locais, por meio de sessões gratuitas, oficinas e atividades formativas.
Impulsionar a cena cinematográfica local, no entanto, não é uma tarefa fácil. Embora a Bahia seja o berço de artistas como Antonio Pitanga, Wagner Moura e Lázaro Ramos ou conte com títulos amplamente premiados e reconhecidos, como o caso mais recente do longa ‘Saudade fez Morada Aqui Dentro’, ‘Café com Canela’, ‘Menino da Gamboa’ e ‘Trampolim do Forte’; o cenário ainda enfrenta desigualdades quanto à sua distribuição geográfica.
Parte disso se deve à concentração das salas de cinema nos grandes centros, carências de políticas específicas de distribuição e a formação de plateia. Além disso, as barreiras no financiamento têm reduzido o alcance da cinematografia baiana e suas riquezas sobre diferentes perfis de soteropolitanos.
É nesse cenário que a 2º edição da mostra ‘Cine SESI’ se consolida em Salvador, como um espaço de resistência e difusão das produções locais, estimulando a diversidade cultural e ampliando o acesso ao cinema para moradores da Cidade Baixa, Rio Vermelho e demais bairros da capital. Indo além, a mostra abre novas perspectivas para a profissionalização no campo do cinema, para jovens e recém-formados na área.
Curadora da mostra, Dayse Porto explica que, apesar da alta qualidade, a limitação logística acerca da divulgação e exibição dos filmes locais é o que dificulta sua chegada até a comunidade. “Após muitos anos de atuação política da classe, tivemos consideráveis avanços no sentido da produção cinematográfica. Embora, ainda não seja o ideal, hoje temos uma quantidade significativa de produções de cinema em todo o Brasil e também na Bahia. A questão urgente neste momento é fazer com que essas produções cheguem aos públicos. A distribuição fílmica é um ponto complexo, que envolve múltiplos aspectos. Grandes filmes são realizados, fazem uma carreira de festivais ao redor do Brasil, do mundo, ganham importantes prêmios, ao longo de 1 a 2 anos. Mas não raramente têm apenas uma sessão de exibição em cada uma dessas situações e depois simplesmente não são mais vistos”, explica.
Na visão da especialista, diversas camadas estão envolvidas no processo de fortalecimento da cena local, sendo a formação do público uma das principais. Nesse sentido, o evento atua com a exibição de mais de 30 peças audiovisuais de grande relevância, qualidade e impacto, não apenas para espectadores ocasionais ou quem nunca frequentou as salas de cinema, mas também para os ‘cinéfilos’.
Levando vivências enriquecedoras, cultivo de novos hábitos e a troca de percepções entre um público distinto, Dayse revela que a curadoria do evento atuou de maneira criteriosa, selecionando obras contemporâneas que se destacam, tanto pela abordagem, quanto pelo reconhecimento junto aos entusiastas e à crítica especializada. A diversidade do público-alvo, segundo a curadora, é essencial para a valorização do cinema baiano, completando uma grade diversa de filmes infantis, longas-metragens de ficção – produzidos de Poções a Juazeiro – e documentários baianos voltados à música ou demais temas.
“Ao mesmo tempo, temos também oficinas e painéis que vão dizer para uma parcela desse público: você também pode atuar com cinema. As nossas formações e rodas de discussão são focadas em públicos jovens (ou não tanto); pessoas que querem perspectivas de atuação profissional. Porque se essa possibilidade é apresentada, os talentos podem se identificar e novos ótimos profissionais aparecerem. Daí temos oficinas, como por exemplo, de ‘Produção para Iniciantes’, com Rubian Melo, que oferece um panorama geral do que é essa função no cinema e caminhos para quem quer buscar mais sobre o assunto”, revela.
Dayse, ao lado dos curadores Heraldo de Deus e Rubian Melo, ressalta o poder de transformação da mostra, tornando a plateia mais crítica acerca dos desafios sociais e culturalmente mais engajada. “Os filmes que escolhemos fazem esse papel transformador, com emoção, e são filmes realizados por nós e para nós. São realizações com nosso sotaque, que valorizam a produção musical que fazemos, que valorizam nossos mitos, nossas infâncias e que questionam as mazelas sociais do nosso tempo. Tudo isso de maneira fluida, como só a arte consegue fazer” conclui.
0 comentários