No seu primeiro álbum completo, É Disso Que Eu Me Alimento, NandaTsunami transforma experiência em linguagem e vulnerabilidade em força. O projeto é uma travessia emocional, um ciclo afetivo contado faixa por faixa. Nele, a artista expõe as múltiplas camadas de um amor que, mesmo quando fere, alimenta. Com sonoridade centrada no trap, mas que se expande em direção ao bounce, afrobeat e house, o disco simboliza uma jornada do caos à cura.
Cada música é como um espelho que reflete as faces do feminino em conflito: o desejo, a submissão, a carência, a revanche. Mas também o despertar, o auto acolhimento e a libertação. “É como se cada música fosse um aspecto do feminino ferido tentando sobreviver, se proteger e, ao mesmo tempo, amar”, resume Nanda. A virada acontece no interlúdio, quando o olhar se volta para dentro. É ali que nasce o desapego, não como frieza, mas como escolha consciente.
A frase que sintetiza o sentimento do disco está na faixa 9, Por Todo Amor Que Já Senti:
“Por todo amor que já senti e tudo que me faz pensar, em coisas que já vivi e o que tenho pra partilhar.”
Essa partilha é também uma entrega artística e política, em que amar se torna ato de coragem. Ao propor sentir, mesmo quando o mundo estimula a apatia, Nanda afirma: “Quero que as pessoas entendam que o amor é importante. Meu desapego vem de um lugar de sentir tudo o que eu precisava sentir e, ainda assim, escolher soltar.”
A estrutura do álbum foi pensada como um ciclo emocional. No início, beats de trap sombrios criam o clima de tensão e conflitos internos. Depois da virada no interlúdio, quando a personagem narrativa se reconhece suficiente, as batidas ganham leveza, com afrobeat, house e bounce conduzindo o ouvinte para o espaço da cura e do recomeço. Nanda explica: “Cada música é um aspecto do feminino ferido tentando sobreviver, se proteger e, ao mesmo tempo, amar.”
Mas o ponto central do álbum não é a ruptura com o outro. A história que Nanda conta é sobre a autonomia emocional que surge não de parar de amar, mas de não se perder quando o outro vai embora — e, acima de tudo, de continuar amando, porque esse sentimento também é o que mantém viva. Ao invés de exaltar o desinteresse, tão comum na cultura de relações líquidas, a artista propõe valorizar o que se sente.
“Esse álbum foi pra me lembrar que o amor é a coisa mais mágica que existe e que a arte é ritual de transmutação”, afirma a artista. A inspiração, segundo ela, nasce da necessidade de dizer para si o que precisava ouvir.
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