“Por que não tocam a música baiana em outras épocas igual com o sertanejo?” Confira super papo com o ÀTTØØXXÁ

por | junho 13, 2023

Sem dúvida o Attooxxa (grafada ÀTTØØXXÁ) é uma dos grupos musicais mais inventivos da atual cena musical brasileira. O público paulistano pôde conferir na Virada Cultural 2023, acontecida no mês passado, o virtuosismo e a energia da banda baiana formada por Oz (voz), Raoni (voz),  Chibatinha (guitarra) e Rafa Dias, o RDD  (beats e sintetizadores).

A passagem pela capital paulista coincidiu com o lançamento do novo álbum “GROOVE” e podemos conversar com o quarteto fundador sobre este novo ciclo e o trabalho cheio de participações especiais como Carlinhos Brown, Thiaguinho, Liniker, Negra Japa e Luísa Nascim. “Se tem alguma coisa que eu acho que a galera não discute sobre a gente é som, né? A gente não chegou ontem para conseguir ter as participações de peso que estão neste projeto. São muitos anos batalhando para chegar e termos Carlinhos Brown tocando conosco. Um cara que faz parte da nossa infância. Eu encontrei ele pela primeira vez e era tipo uma entidade e a gente ali, tentando fingir normalidade”, conta Rafa. 

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Raoni, Chibatinha, Rafa e Oz (Foto: Karl Berge)

 Esse disco a gente fez para ser  universal, que se comunica com o dia a dia das pessoas. Falamos da tristeza,  da alegria, fala de festa e de todos os sentimentos que um ser humano possa ter. – RDD

Mesmo durante a entrevista, feita de forma virtual, é possível perceber que os músicos têm uma química inegável. A admiração mútua parece ser um dos segredos da ascensão do grupo. “A gente faz pesquisa musical o tempo inteiro. Somos referência um para o outro. Eu sempre presto atenção no que o Rafa, o Chibata e o Oz estão fazendo e dizendo”, explica Raoni.

A pesquisa constante ajudou o  ÀTTØØXXÁ a encontrar os nomes  para cada sonoridade proposta entre as faixas de “Groove”. Quando chegaram em uma em uma harmonia que precisava de uma liga pop-soul, chamaram Liniker, se perceberam que precisavam do R&B com a pegada swingada do pagode, o nome foi Thiaguinho e assim por diante. Segundo Chibatinha, Thiaguinho foi responsável por deixar o pagode com mais frescor, incorporando influências do R&B. De fato, o cantor do interior de São Paulo é um dos exemplos mais bem-sucedidos do gênero e marcou assinatura sedutora na faixa “Menina” do novo trabalho dos baianos.

Por que não tocam a música baiana em outras épocas igual com o sertanejo? Só lembram da música baiana no carnaval, né? A gente está fazendo música o tempo todo aqui no Estado, mas parece  que a indústria só lembra da gente sazonalmente. Estamos tentando quebrar isso, né? – Raoni

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Foto: Karl Berge

Veja mais do nosso papo com o ÀTTØØXXÁ

Vocês “brigam” muito quando estão compondo?

RDD: Sai treta direto. (risos) A gente é uma família, né? Tem nós quatro aqui, que são o início da parada, mas ainda tem o Tuta e o Leu Brau. Em 2021, a gente alugou uma casa na Ilha de Itaparica, perto de Salvador e fomos passar duas semanas comendo, dormindo e acordando música. Esse disco nasceu assim. Pela primeira vez a gente fez isso, porque nos outros discos a gente tinha a cara da parada, mas era uma coisa mais remota, via WhatsApp, um pedaço de letra, um pedaço de beat. Dessa vez a gente foi 100% ali, convivendo um com o outro.

OZ: Às vezes o Chibata tinha um riff de guitarra, o outro tinha um beat,  outro tinha uma letra da música,  aí entrava uma discordância, mas no fim a gente acabava encaixando de forma muito orgânica.

Como foi a escolha dos convidados ?

Raoni:  Estávamos fazendo uma coisa que é a cara de um sambinha, aí a gente ‘pô, é a cara do Thiaguinho’. Lembro que ele  ouviu a música e pensou ‘Nossa parece que eu tava cantando’, ou seja, ele nem tinha gravado e já se colocava dentro da parada. Então as coisas estão muito bem amarradas, né? É um caos organizado.

Chibatinha: Tem muito groove percussivo, né? Tem timbal, e na hora a gente pensou ‘pô isso aqui é muito Carlinhos Brown’. Então criamos  as levadas, e com a chegada dele a coisa ficou mais rica ainda. O Brown já era uma referência de percussão, então em “Da Favela Pro Asfalto”, que exigia essa maestria percussiva, ele caiu de forma única, sabe? 

RDD: A Liniker é outro exemplo de  referência para black music aqui no Brasil. É algo surreal! Então a gente fez uma música que tem muito essas características e um pouco do norte da África, um pouco do flamenco,  mas a melodia que acaba amarrando é muito soul, então tinha que ser a Liniker,

OZ: A  Luísa também é nordestina como a gente, e ela é uma figura que tem uma pesquisa sobre a música latina muito profunda, muito grande. A gente conheceu ela em Natal, terra dela, inclusive fez participação em um show nosso. Enfim, figurinhas trocando, ela é uma pessoa que a gente segue e ela sempre bateu nessa tecla de buscarmos mais latinidade no nosso som.

Raoni: A Negra Japa é uma pioneira dessa coisa do paredão, black dance. Era obrigatório ela estar em “Groove”.

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