SEUN KUTI — “O AFROBEAT É UMA REVOLUÇÃO GLOBAL”

por | junho 3, 2025

Com o fogo da revolução na voz e o legado do Afrobeat no sangue, Seun Kuti continua a traçar seu próprio caminho. Filho mais novo do lendário Fela Kuti, Seun construiu um movimento global baseado em música, resistência e conexão. De Lagos a Londres, de Lusaka a Los Angeles — e agora de volta ao Brasil — sua nova turnê promete incendiar os palcos por todo o país.

Conversamos com Seun pouco antes da turnê de 2025 no Brasil para falar sobre seus laços profundos com a cultura brasileira, novas colaborações internacionais e o que o público pode esperar este ano.

1/ Você sempre teve uma conexão forte com o Brasil — pela música, cultura e um passado colonial compartilhado. Como é voltar ao país?*
Seun Kuti:
Os laços culturais entre a África e o Brasil são profundos — no ritmo, no espírito e na luta. Sempre é poderoso voltar e sentir essa energia de novo. O Brasil é como uma família.

2/ Você acaba de anunciar as primeiras datas da nova turnê. Ainda não vimos paradas na Bahia ou no Nordeste. Há planos para São Paulo? Qual é o roteiro real para o Brasil?*
Seun Kuti:
Por favor, nos convidem! Queremos ir a todos os lugares — Bahia e também cidades novas. Em São Paulo, estamos planejando uma turnê pelo estado todo: Sorocaba, Campinas, Franca, Taubaté… O Brasil é imenso, e nosso objetivo é conectar com o máximo de pessoas possível. Estamos organizando mais de 15 shows pelo país.

3/ Fale um pouco sobre suas colaborações incríveis com Lenny Kravitz e Sodi. Como isso aconteceu?*
Seun Kuti:
Trabalhar com o Lenny Kravitz em Heavier Yet (Lays The Crownless Head) foi incrível. Ele entrou como produtor executivo e teve um papel essencial na direção do álbum. Seu apoio e visão criativa foram guiados por uma verdadeira irmandade e respeito.

Lenny trouxe um brilho sonoro especial para o disco — uma mistura de funk, reggae e soul — mantendo o espírito revolucionário do legado Kuti. E o Sodi foi essencial também, trazendo profundidade e estrutura para o som. Os dois ajudaram a tornar essa visão realidade.

4/ Esse novo projeto reúne uma seleção impressionante de artistas internacionais. Como você escolheu os colaboradores e fez tudo acontecer?*
Seun Kuti:
Montamos um time dos sonhos. Kamasi Washington em “Move”, Adi Oasis em “Love & Revolution”, Sampa the Great em “Emi Aluta”, Pos do De La Soul em ’Stand Well Well’, Gaudi e Don Letts no remix do featuring do Damian Marley em “Dey”, e Alborosie em “T.O.P.”. É um som global — mas sempre enraizado na resistência e no groove.

5/ Esses artistas vêm de cantos muito diferentes do mundo. Você está conscientemente levando o Afrobeat a um nível mais global — além do legado do seu pai?*
Seun Kuti:
Sim, claro — essa é a ideia! O Afrobeat agora é universal. Ele fala de luta, identidade e alegria para além das fronteiras. Meu pai o fez africano. Agora ele pertence ao mundo.

6/ Há chance de uma nova colaboração com artistas brasileiros nessa turnê?*
Seun Kuti:
O Brasil está cheio de talentos incríveis. Já trabalhei com Carlinhos Brown, e gravamos o clipe de “Black Woman” no Sul com Pedro Rajão. Recentemente lançamos o EP Up Side Down com Funimayo Afrobeat Orquestra de São Paulo.

Para esta turnê? Estou aberto. Gostaria muito de conhecer Marcelo Falcão, do O Rappa. Tenho um grande respeito pelo BaianaSystem — eles estão usando a música como arma de amor e resistência. Isso é revolução de verdade.

7/ Você sempre fala de revolução, justiça e consciência africana. Como você sente que sua mensagem ressoa com a nova geração — na África e fora dela?*
Seun Kuti:
Minha música ressoa com os jovens que estão ficando mais conscientes da condição africana. Hoje em dia, muitos jovens no meu país me conhecem mais pela minha consciência política do que pela minha música. Então a mensagem está chegando — de um jeito ou de outro. E esse é o sentido de tudo o que eu faço: música, mensagem e movimento.

8/ Seu som continua evoluindo — do Afrobeat às remixes, jazz, funk, reggae e mais. Como você equilibra manter o legado do Fela e, ao mesmo tempo, inovar como Seun?*
Seun Kuti:
O legado do meu pai também era sobre inovação. O Afrobeat foi uma fusão — jazz, highlife, soul — transformada num movimento africano. Então, sendo eu mesmo e levando o som adiante, eu estou honrando esse legado. Legado não é tradição. Legado evolui.

9/ Você tem sido muito vocal politicamente, tanto nos palcos quanto online com o MOP. Você acredita que os artistas têm a responsabilidade de se posicionar nesses tempos? O que move o seu ativismo hoje?*
Seun Kuti:
Como artista profissional, acredito que meu papel é inspirar consciência nas pessoas. A música é uma arma — mas não é a batalha. A verdadeira luta acontece em todas as áreas da sociedade.

Precisamos de advogados inspirados pela justiça, médicos comprometidos com a saúde pública, pessoas comuns resistindo ao fascismo e à corrupção. As pessoas precisam entender: todos devemos fazer parte da solução.

O que eu sempre digo é que é triste quando os advogados não são movidos pela justiça, e quando os políticos escolhem a corrupção e o capitalismo acima do povo. Meu ativismo vem dessa consciência. Isso não é só sobre música — é sobre humanidade.

10/ Por fim — Qual mensagem você gostaria de deixar para o público brasileiro este ano?*
Seun Kuti:
Aos meus irmãos e irmãs do Brasil — sejam fortes, fiquem unidos. Nossas lutas podem ter rostos diferentes, mas nascem da mesma raiz. Precisamos continuar lutando por justiça, dignidade e verdade — juntos.

A música nos conecta, mas é a ação que nos transforma. Vamos continuar construindo essa ponte entre nossas culturas — um ritmo, uma revolução por vez.

11/ O que você espera dessa nova turnê?*
Seun Kuti:
Quero me conectar profundamente com o público — não só com a música, mas com energia, verdade e propósito. Cada show é mais que entretenimento. É um espaço para elevar a consciência e construir solidariedade.

Espero vibrações poderosas, conversas reais e que as pessoas saiam dos shows mais despertas, mais vivas e mais prontas para fazer parte da mudança. É disso que essa turnê se trata.

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