Renan Ricio  vive uma jornada no caminho de “se descobrir negro.Compondo rap  após trilhar carreira pelo R&B, Soul e MPB, ele lançou recentemente o EP “Viciado em R.A.P” que veio para traduzir seu momento pessoal e de tantas outras pessoas pretas.  “Na minha vida, o racismo sempre esteve presente, ainda mais por ter crescido em um bairro composto por moradores majoritariamente brancos (…) Acho que pra qualquer pessoa preta que vive no nosso país, o processo de autoconhecimento e amadurecimento vem junto com um entendimento maior sobre o racismo estrutural que molda a nossa vivência social, reflete o artista.

Assim como grandes nomes da cena que fundem seu rap com estilos variados para chegar a uma fórmula nova, Ricio busca chegar a algo singular assim como aconteceu com Baco Exu do Blues, Criolo, e Froid. “O Rap sempre esteve presente nos meus fones de ouvido e nas minhas composições, também sempre curti fazer freestyle. Mas só pude abraçar de fato a cena do Hip Hop recentemente, quando decidi que era a hora de realmente mergulhar nessa cultura que tanto me ensinou”, conta.

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Confira a entrevista completa que fizemos com o músico

Trace: Existe um termo cunhado pela Neusa Santos chamado “Tornar-se Negro”. Com essa virada maior para as denúncias sobre racismo, acredita que você entrou nessa espiral de autoconhecimento sobre o tornar-se negro?

Renan: Compartilho muita dessa ideia da Neusa Santos. Na minha vida, o racismo sempre esteve presente, ainda mais por ter crescido em um bairro composto por moradores majoritariamente brancos. Mas quando aprendemos sobre racismo na escola, temos a impressão de falar sobre um assunto do passado e muito distante da nossa realidade. Acho que pra qualquer pessoa preta que vive no nosso país, o processo de autoconhecimento e amadurecimento vem junto com um entendimento maior sobre o racismo estrutural que molda a nossa vivência social.

Trace: Artistas como Criolo, Baco Exu do Blues e Froid saído do rap tradicional e trazido misturas do samba, soul, R&B e MPB. Você sinaliza fazer o caminho contrário. Como resume essa trajetória?

Renan: Acho que esse é um caminho natural pros artistas que começam no RAP e vão desenvolvendo sua musicalidade ao longo da carreira. Eu comecei na música com o violão, foi meu primeiro instrumento. Me desenvolvi musicalmente fora da cena do Rap, cantei em bares, quiosques, casamentos e até no metrô. Aprendi a tocar violão, piano, guitarra e fiz anos de aula de canto. O Rap sempre esteve presente nos meus fones de ouvido e nas minhas composições, também sempre curti fazer freestyle, mas só pude abraçar de fato a cena do Hip Hop recentemente, quando decidi que era a hora de realmente mergulhar nessa cultura que tanto me ensinou.

Trace: ‘ A Cor do Crime’ é uma faixa incisiva. Ela funciona como um desabafo contra a opressão. Qual a sensação de voltar seu som para esse lado mais visceral e politizado?

Renan: Eu sempre quis tocar em assuntos sociopolíticos. O entendimento da sociedade, da história dos povos, da desigualdade e mente humana são questões que sempre me interessaram muito. Sou uma pessoa romântica e apaixonada, tive uma criação maravilhosa e vivi muitos momentos felizes na minha vida. Falar sobre amor e transmitir felicidade sempre foi fácil pra mim, mas não me completa. Sinto que é trabalho do artista acessar emoções mais complexas e traduzir isso pras pessoas.

Trace: Para quem já te acompanha, como você espera que seja o impacto de ter esse descarrego, ainda que haja músicas mais leves no EP?

Renan: Acho que alguns fãs, assim como alguns familiares e amigos vão se surpreender com a força dessa composição e desse clipe. Cresci em um ambiente dominado por pessoas brancas, muito por conta disso passei um bom tempo calado. Muitas dessas pessoas nem imaginam tudo que se passa na minha cabeça quando o assunto é racismo.

“Viciado em R.A.P” está disponível em todas as plataformas.