No mês em que o Brasil celebra a Consciência Negra (20/11), marco histórico importante na luta pela igualdade racial, mais do que celebrar é preciso lançar luz sobre a falta de representatividade da população negra no topo da tomada de decisão, principalmente das mulheres negras, que segue sendo perpetuada num país que foi um dos últimos a abolir a escravatura.
De acordo com o estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, que contou com a participação de mais de 26 mil respondentes, apenas 3% de mulheres negras estão em cargos de liderança (nível gerente e acima). Este dado evidencia a lacuna de representatividade de mulheres negras nos altos níveis hierárquicos das empresas.
Outro dado que demonstra a ausência total dessas mulheres em postos de poder refere-se aos Conselhos das empresas e organizações. Segundo a pesquisa Diversidade nos Conselhos das empresas brasileiras, do IBDEE (Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial) lançada em 2021, o atual percentual de mulheres em conselhos é de 17%, mas quando olhamos para a participação de pessoas negras nesses espaços, o número cai drasticamente para 2%, ficando ainda pior quando se trata da presença de mulheres negras, pois, segundo a pesquisa, é quase zero, ou seja, não há. Em resumo, uma cadeira importante para a tomada de decisão dentro das organizações e por antever e propor mudanças estratégicas, que têm o potencial de transformar o futuro dessas estruturas, segue sendo ocupado, majoritariamente, por homens, brancos e cisheteronormativos.
Segundo Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós, que acaba de assumir o Conselho Deliberativo do Instituto Tomie Ohtake, é preciso avançar rapidamente em inclusão nesses cargos de tomada de decisão. “Muito se diz que as empresas e organizações estão mais atentas e atuantes na agenda ESG, principalmente na temática de Diversidade, mas, quando focamos nos dados, constatamos que pouco ou nada mudou. Então, é preciso atuar de forma mais coesa e consistente para ver a transformação real que a sociedade precisa. Não adianta falar de Consciência Negra só em novembro e não trabalhar de forma séria com diversidade e inclusão nos outros 364 dias do ano”, explica.
Segundo a especialista, é comum que, quando se trata de inclusão, as empresas olhem só para as vagas de entrada, o que contribui para a manutenção da sub-representatividade em posições de tomada de decisão. “É preciso ter a demografia do país representada também nos quadros de liderança, tais como, gerência, diretoria, presidência e nos Conselhos. Apenas boa vontade não basta! Precisamos agir para assegurar a mudança, e como especialista na área e com forte atuação em diversos conselhos, acredito que só vamos conseguir aumentar a representatividade nos postos de poder se tivermos Gestão da Diversidade”, diz.
“Com essa posição no Conselho do Instituto Tomie Ohtake, contribuo primeiro e antes de mais nada para a quebra de um paradigma: mulheres negras podem e devem ser conselheiras em todos os lugares, inclusive nas organizações e instituições de cultura. Tenho também o objetivo de construir pontes entre o empresariado e as organizações culturais. E entre as organizações culturais e públicos com marcadores de diversidade que ainda hoje seguem pouco evidentes neste cenário. Minha missão é oxigenar o Conselho com novas perspectivas, dado que a composição dos conselhos de instituições culturais no Brasil é formada, via de regra, por pessoas com marcadores identitários muito similares e pouco diversos. Espero contribuir com esses avanços e que eles possam reverberar em outras organizações culturais de todo o Brasil”, aposta Liliane Rocha.
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